Política

Caso MEC: Deputados da Bahia avaliam viabilidade de CPI contra ministro de Bolsonaro; veja opiniões

Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados
Em áudio, ministro Milton Ribeiro afirma priorizar repasses de verbas negociados por dois pastores que não têm cargo no MEC  |   Bnews - Divulgação Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Publicado em 24/03/2022, às 06h00   Vinícius Dias


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Deputada federal pela Bahia, Lídice da Mata (PSB) apresentou na última terça (22) um requerimento de convocação do ministro da Educação, Milton Ribeiro, para prestar esclarecimentos em plenária sobre os áudios divulgados pelo jornal Folha de São Paulo em que o titular da pasta assumia favorecer alguns pastores evangélicos a pedido do presidente Jair Bolsonaro na hora de fazer repasses de verbas para municípios do Brasil.

Os dois pastores lobistas em questão se chamam Gilmar Santos e Arilton Moura, ambos sem qualquer vinculação ao ministério ou poder público. Com isso, o ministro foi acusado de tráfico de influência. O pedido de esclarecimentos de Lídice deixou algumas dúvidas: como a notícia chegou a parlamentares baianos? Há clima para uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)? Nos corredores da Câmara, a avaliação é de que Milton Ribeiro cai do cargo? O BNews foi atrás dessas respostas.

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A reportagem ouviu parlamentares de três diferentes inclinações políticas: esquerda, centro e direita. Presidente estadual do PDT e deputado federal pela Bahia, Félix Mendonça Júnior não acredita que a CPI terá efeitos práticos, principalmente levando em consideração o ano eleitoral que é 2022.

Félix Mendonça Jr. em conversa com o BNews em Brasília | Foto: Victor Pinto/BNews

O deputado fez críticas duras ao governo ao afirmar que "eles falam muita bobagem em geral e são desastrosos na comunicação interna e externa", ao se referir à recepção dos áudios de Milton Ribeiro. No entanto, ele prefere apostar em uma resposta nas urnas.

"Fazer uma CPI vai consumir tempo e recurso, sendo que o mandato acaba de forma concomitante. A CPI é uma apuração mais política, a justiça está aí para apurar legalmente se ouve crime. Prefiro deixar a justiça apurar, o que fará mesmo após a eleição. Politicamente, o melhor são as urnas", falou com exclusividade ao BNews.

É a mesma linha de pensamento do também deputado federal Arthur Maia (União Brasil). O parlamentar classifica o conteúdo dos áudios como estarrecedor e defende que o ministro seja ouvido para dar as devidas explicações sobre o caso. Só depois disso é que ele acha correto avaliar se uma CPI é válida ou não.

No entanto, ele segue a linha do colega parlamentar: "CPI em ano eleitoral se torna palanque. Não é o caso de Lídice, que é uma pessoa muito séria e de propósitos nobres, não tenho dúvida nenhuma do propósito dela. Mas quando a gente vê CPI em ano eleitoral acaba se tornando em política e nada de concreto acaba se apresentando. Confesso que acho que tenho um preconceito, a palavra é essa mesmo, contra CPI em ano eleitoral", afirmou Arthur Maia.

Arthur Maia afirma ter preconceito com CPI em ano eleitoral | Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Segundo fala do próprio Ministro Milton Ribeiro, é prioridade do MEC atender prefeituras cujos pedidos de liberação de verba tenham sido negociados por Gilmar Santos, que comanda a igreja Ministério Cristo para Todos, em Goiânia.

No texto do requerimento, Lídice da Mata afirma que é "inaceitável a prática de privilégios, e principalmente, liberações de verbas em troca de benefícios e por recomendação do mandatário da República. Tal prática carrega em si violações como crime de responsabilidade e tráfico de influência” e denuncia cortes orçamentários na área da educação em todo o país.

“Não é de hoje que acompanhamos o sucateamento da Educação com ausência de políticas de planejamento e cortes tão vultosos que, fizeram com que no atual governo a pasta tivesse o menor orçamento da última década", diz o texto da deputada.

Lídice da Mata durante discurso na Câmara | Foto: Jefferson Rudy/Câmara dos Deputados

Mais à esquerda, Jorge Solla (PT) defende a CPI mesmo em ano eleitoral, ao contrário dos outros colegas do estado. Ele classificou o esquema como "Bolsolão do MEC" e reforçou que o escândalo envolve diretamente o presidente Jair Bolsonaro (PL) e ainda atacou a Procuradoria-Geral da República, liderada pelo PGR Augusto Aras, a quem classificou como letárgica.

"Só uma CPI teria capacidade de apurar esse esquema de corrupção e estancar esse duto de dinheiro público para os lobistas aliados de Bolsonaro", disparou Solla. 

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Ainda de acordo com o deputado, uma das coisas mais estarrecedoras de todo o caso é comparar a situação de cortes em Universidades Federais de todo o país, paralisações de projetos de pesquisa por escassez de financiamento e cortes para programas de pós-graduação e permanência em detrimento dos fatos relados nos áudios.

"Enquanto isso o ministro da Educação opera o esquema do 'Bolsolão do MEC', que envolve diretamente o presidente Bolsonaro e que conta até com quilos ouro como pagamento de propina", disparou Solla.

Jorge Solla defende abertura de CPI contra ministro da Educação | Foto: Divulgação/Agência Câmara

Na noite desta quarta-feira (23), o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de uma investigação sobre a atuação do ministro da Educação, Milton Ribeiro. De acordo com a CNN Brasil, fontes da PGR apontam que a decisão já foi tomada e o pedido está sendo redigido.

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