Política

Governo e sindicato admitem existências de facções em presídios baianos

Publicado em 06/01/2017, às 09h10   Tony Silva / Alexandre Galvão


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Depois da tragédia que terminou com 56 internos mortos no maior presídio do Amazonas, na cidade de Manaus, entre o domingo (1º) e segunda-feira (2), a reportagem do Bocão News buscou informações sobre o quadro do crime organizado nas unidades prisionais da Bahia, geridas pela Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização da Bahia (Seap).  
Governo e sindicato reconheceram que em quase todas as unidades prisionais da Bahia há atuação de facções criminosas. O Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado da Bahia (Sinspeb) diz ter mapeado núcleos do Comando da Paz (CP), Primeiro Comando da Capital (PCC), além do Bonde do Maluco e Caveira, “que são ramificações do PCC e Katiara”.
“São barris de pólvora prontos para explodir”, alerta o delegado sindical, Fernando Fernandes.
De acordoa Sinspeb, outro fator determinante para as crises violentas são as unidades prisionais geridas por empresas privadas. “O Comando Vermelho tem se consolidado principalmente nas unidades do sul do estado. O Conjunto Penal de Eunápolis e Itabuna, que são geridos por empresas privadas, tem a atuação do Comando Vermelho”, afirma.
A entidade avalia ainda que a matança do presídio de Manaus pode acontecer em qualquer unidade e a qualquer momento. “Nas unidades terceirizadas a situação é mais grave, pois os empregados terceirizados não são tecnicamente capacitados para identificar movimentos hostis nem tampouco coibi-los”, diz Fernandes.
De acordo com o sindicato dos agentes penitenciários, é recorrente a morte de internos após serem vítimas de espancamentos por serem de facções criminosas. “Muitos presos entram no sistema e são espancados pelo fato de serem oriundos de bairros dominados por facções rivais a dos agressores no presídio”, explica. 
O quadro é bastante diferente na avaliação da Seap. Em entrevista ao Bocão News, o chefe da secretaria, Nestor Duarte, reconheceu a atuação dos grupos criminosos, mas afirmou que a atuação forte da inteligência impede ocorrências como a de Manaus. 
“Temos uma inteligência prisional que criamos e isso tem dado certo. Vira e mexe nós impedimos um início de rebelião, pois eles disputam espaço na rua e internamente.Temos batalhão de guarda em todas as nossas unidades. Ninguém pode garantir que não vai ter uma rebelião, mas nós fazemos o nosso dever de casa”, garantiu. 
Nestor Duarte disse ainda que em alguns presídios os apenados são separados por facções. A medida visa impedir embates. “Em alguns lugares, fazemos. Em outros, não. Em Itabuna era assim e uma juíza mandou desfazer. Achamos que iria gerar problemas, mas nada aconteceu”, contou. O secretário afirmou ainda que a Seap “divide” os presos também por nível de periculosidade e sexualidade.
Ainda segundo Duarte, a Bahia tem hoje 13 mil presos e, muito em breve, terá 13 mil vagas – hoje, de acordo com o Sinspeb tem apenas nove mil. 
“Nossa sobrecarga hoje é menor do que a de diversos estados. Em breve teremos 13 mil presos e quase 13 mil vagas e vamos poder respirar melhor. A situação era muito pior quando chegamos no governo”, apontou. 
TERCEIRIZADAS – Na Bahia, atualmente sete unidades prisionais são administradas por empresas terceirizadas. Para Nestor Duarte, a terceirização é benéfica para o Estado. O Sinspeb é contra. 
VIOLÊNCIA - Em maio de 2015, uma rebelião no presídio de Feira de Santana deixou oito mortos. Segundo o núcleo de comunicação da Seap, em 2016 foram registradas oito mortes de internos, sendo cinco em confronto.
Publicada originalmente em 05/01 às 14h08

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