Política

Em gravação, ministro da Transparência critica Lava Jato em reunião com Renan

Publicado em 30/05/2016, às 06h37   Redação Bocão News (Twitter: @bocaonews)


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O ministro da Transparência, Fiscalização e Controle do presidente interino Michel Temer, Fabiano Silveira, criticava a Operação Lava Jato e orientava investigados enquanto era conselheiro do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), órgão que fiscaliza o Poder Judiciário.
A gravação da conversa feita pelo ex-senador e ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, foi obtida pela reportagem do “Fantástico”, da TV Globo. 
As gravações contêm conversas de uma reunião na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), com a participação do atual ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Fabiano Silveira, quando ele ainda era conselheiro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Segundo Sérgio Machado, na conversa houve troca de reclamações sobre a Justiça e a operação Lava Jato. Na gravação, Fabiano Silveira faz críticas à condução da Lava Jato pela Procuradoria e dá conselhos a investigados na operação. No áudio, após Machado criticar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Silveira disse: "Eles estão perdidos nessa questão [da Lava Jato]". 
Neste mês, Silveira assumiu o Ministério da Transparência, responsável pela fiscalização, controle e ações do governo para combate à corrupção. O ministério foi criado pelo presidente em exercício Michel Temer no lugar da antiga Controladoria-Geral da União. Funcionário de carreira do Senado, Fabiano Silveira era conselheiro do CNJ, para onde tinha sido indicado por Renan Calheiros antes de entrar para o primeiro escalão do governo de Temer.
Cerca de três meses antes de assumir o cargo, Fabiano Silveira esteve em uma reunião na casa de Renan Calheiros, onde a Lava Jato foi amplamente discutida com investigados. Durante as tratativas do acordo de delação premiada, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado disse que no dia 24 de fevereiro deste ano foi à casa de Renan Calheiros para conversar, entre outras coisas, sobre "as providências e ações que ele estava pensando acerca da operação Lava Jato".
Machado disse que participaram dessa conversa duas pessoas que ele disse serem "advogados de Renan". Um deles, segundo Machado, se chama Bruno, e o outro, Fabiano. Machado disse: "no início relatei aos advogados sobre o que ocorreu em minha busca e apreensão”.  Na revelação mais importante, o ex-presidente da Transpetro diz que, no encontro, ele e os presentes trocaram “reclamações gerais sobre a Justiça e sobre a Java Jato".
Sérgio Machado gravou a conversa. Participam da reunião, além dele e Renan Calheiros, Bruno Mendes, advogado ex-assessor de Renan, e Fabiano Silveira. Ou seja, o atual ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, encarregado de combater a corrupção no governo federal, participou de uma conversa em que, segundo Sérgio Machado disse aos investigadores, foram feitas críticas à Lava Jato e à Justiça.
Além disso, é possível entender que Fabiano orienta Renan e Sérgio Machado sobre como se comportar em relação à Procuradoria Geral da República (PGR). A qualidade do áudio é ruim, há várias pessoas na sala, mas é possível identificar as vozes de Machado, de Renan Calheiros, de Fabiano Silveira e de Bruno Mendes.
MACHADO: Diz que o... Janot não sabe nada. O Janot só faz... (inaudível) cada processo tem um procurador.
FABIANO: Eles estão perdidos nesta questão.
(...)
MACHADO: A última informação que vocês têm, não tem nada, não apuraram nada até hoje, é isso?
FABIANO: Não.
(voz não identificada): É a última informação, né? (inaudível).  Eles, desde o início, Sérgio, eles estão jogando verde para colher maduro. O cara fala: 'eu não conheço o Renan'... (inaudível).
FABIANO: Eles foram lá buscar o limão e saiu uma limonada.
Inquérito sobre Renan no Supremo
Na conversa, Renan Calheiros diz a Fabiano que está preocupado com um dos inquéritos que responde no Supremo, o qual investiga se o presidente do Senado e Sérgio Machado, entre outros agentes públicos, receberam propina – em forma de doações eleitorais – para facilitar a vitória de um consórcio de empresas em uma licitação para renovar a frota da Transpetro.
Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef citaram o negócio em depoimento. A campanha de Renan teria sido contemplada com duas doações no valor total de R$ 400 mil.
Na gravação, Renan diz a Fabiano, sem entrar em detalhes, que está preocupado com um recibo. Machado diz que ele foi incluído em um processo de R$ 800 mil. Uma voz que não é possível identificar pergunta se foi Youssef quem disse que o dinheiro foi pra Renan. Machado diz que não.
RENAN: Cuidado, Fabiano! Esse negócio do recibo... Isso me preocupa pra c******. (...)
MACHADO: Eles me botaram num processo lá de 800 mil que o Youssef tinha dito que era pra... (inaudível) estaleiro. Que eles estão de acordo se tem certeza que era pra você (inaudível).
(voz não identificada): Yousseff disse?
MACHADO: Não. Da conclusão eles entendem que... (inaudível)
Ainda na oportunidade, Fabiano discute com eles a estratégia de defesa de Machado e Renan nesse caso. Fabiano aconselha Renan, aparentemente, que ele não deve entregar uma versão dos fatos, pois isso daria à Procuradoria condições de rebater detalhes da defesa.
FABIANO: A única ressalva que eu faria é a seguinte: está entregando já a sua versão pros caras da... PGR, né.  Entendeu? Presidente, porque tem uns detalhes aqui que eles... (inaudível)  Eles não terão condição, mas quando você coloca aqui, eles vão querer rebater os detalhes que colocou. (inaudível)
Versões dos envolvidos
Procurado, o ministro da Transparência, Fabiano Silveira, não quis dar entrevista. Por meio de nota, admitiu que esteve “de passagem” na residência oficial do Senado, mas que não sabia da presença de Sérgio Machado. Ele disse, ainda, que não tem nem nunca teve nenhuma relação com Sérgio Machado. Segundo Fabiano, ele esteve “involuntariamente”, em uma conversa informal, e jamais fez gestões ou intercedeu junto a instituições públicas em favor de terceiros.
A defesa do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, disse que não pode se manifestar por causa do sigilo da delação premiada.
O presidente do senado, Renan Calheiros, do PMDB não respondeu aos nossos contatos.
O presidente em exercício, Michel Temer, e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não quiseram comentar.
Informações do site G1

Classificação Indicativa: Livre

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