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Conclusão das obras da Feira de São Joaquim esbarra em imbróglio com a Caixa

Publicado em 29/01/2017, às 19h30   Vinícius Ribeiro


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Entrada principal da área até então revitalizada na Feira de São Joaquim
Com 20% das obras de revitalização entregues em meados do ano passado, a Feira de São Joaquim, em Salvador, hoje está dividida entre o novo e velho ambiente. A maior parte dela, 80%, ainda não conseguiu acompanhar o ritmo das mudanças vistas ultimamente em outros pontos da capital baiana - apesar da sua importância cultural e de atrativo turístico para a cidade.
De acordo com a Secretaria de Turismo (Setur), um imbróglio junto à Caixa Econômica Federal vem impedindo que o tradicional espaço de comércio popular seja totalmente revitalizado."A previsão é a seguinte: a Feira de São Joaquim é uma parceria do governo [estadual] com a Caixa Econômica. Para se ter ideia, a Caixa não botou ainda um centavo, e toda contrapartida do governo já foi colocada. Nós estamos agora em negociação para o dinheiro da Caixa poder chegar", explicou o secretário estadual de Turismo, José Alves, em entrevista ao Bocão News
Secretário de Turismo, José Alves, entregou a primeira etapa logo após assumir a pasta, em 2016
Segundo o titular da pasta, a Caixa justifica o atraso à instabilidade política vivenciada pelo país."A Caixa alega essa confusão que está no Governo Federal. Entra e sai..., e muda presidente da República, muda também presidente da Caixa. São os atores que estão mudando. Quando começa a conversar com um, para, porque tem que conversar com outro. Agora é que estamos voltando a conversar e espero que a coisa flua para poder ver o que vai acontecer", contou José Alves. 
Em seu primeiro ato à frente da Setur, José Alves assinou a entrega dos 20% do espaço reformado em 29 de julho de 2016. Antes dele, Domingos Leonelli e Nelson Pelegrino responderam pela pasta durante o período de reforma. 
Na época do início das obras, dados da Setur apontavam investimento de R$ 61 milhões para realização da obra. Destes, R$ 32 milhões do governo estadual e R$ 29 milhões do Ministério do Turismo.
Discriminação
Clientes e turistas que frequentam a Feira de São Joaquim atualmente se deparam logo na entrada principal com boxes instalados em espaço limpo e agradável. Do outro lado, a velha feira que tanto inspirou o escritor Jorge Amado segue com os problemas que motivaram as obras, iniciadas em 2011 e com previsão de término para antes mesmo da Copa do Mundo de Futebol, em 2014.
'Gago da Feira' estima que apenas 25% das obras estejam prontas
Para Nilton Ávila Filho, o 'Gago da Feira', presidente do Sindicato dos Feirantes e Ambulantes de Salvador, a entrega mesmo com atraso poderia ter ganhado maior visibilidade. "Teve um pessoal que saiu daqui e passou quatro anos lá [no galpão de Água de Meninos] e, quando voltaram, pensamos que ia ter uma promoção do Estado, como teve na Ceasinha do Rio Vermelho. E não teve. Com isso, a gente se sente discriminado. Lá tem campanha para incentivar o aumento das vendas, e aqui nem uma nota. Tem muita gente na cidade que não conhece isso aqui", lamentou, apontando para as instalações reformadas e ressaltando a degradação da área separada por um portão de zinco. Desde a entrega, em julho, ele estima que o trabalho de reforma some atualmente 25%. 
Área ainda não beneficiada com a revitalização
Ao longo da feira, alguns boxes foram vistos passando por intervenção
O sindicalista ainda criticou a falta de diálogo com a Conder (Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia), executora do serviço. "A gente procura e temos sido pouco atendidos. Parece que o governo não tem interesse na reforma", opinou Gago. A reportagem entrou em contato com a assessoria da Conder para comentar a reclamação, porém, segundo foi dito ao site, a Secretaria de Turismo que administra tais questões.
Neste sentido, o presidente sindical elogiou o trabalho de José Alves. "A gente tem tido uma atenção muito grande dele", admitiu Gago da Feira.  
Em meio à crise, "ganhei meus R$ 10"
Fundada há mais de 40 anos e considerada a maior feira de livre de Salvador, com 37 mil m², São Joaquim gera renda para cerca de 40 mil trabalhadores, segundo dados do Ministério do Turismo. Em tempo de crise econômica, os feirantes se dividem em opiniões sobre o momento do país e os perrengues no local de trabalho. 
Personagens cotidianos do tradicional comércio popular
"A gente perdeu grande parte dos fregueses. Quando voltamos [do galpão] foi pior, perdemos muitos clientes. Muitos até hoje não sabem que voltamos para o lugar de origem e agora em lugar mais limpo", salientou Eliene da Cruz de Jesus, 46 anos, vendedora de legumes há mais de 40 anos na feira. "Eu perdi clientes com a mudança, depois que fomos pra lá e voltamos. Mas, com fé em Deus, veremos o movimento melhorar", afirmou o vendedor conhecido como "Del", 57, que paga R$ 60 do aluguel de sua banca onde vende carimã. 
Freguês, o senhor Etelvino Pessoa, 58, disse à reportagem que todas as sextas-feiras cumpre o ritual de ir à Igreja do Bonfim e dar uma "passadinha" em São Joaquim para comprar peixes, carnes, verduras e temperos. "O ambiente está melhor. Não venho sempre porque moro em Jauá, mas sempre que venho à Igreja, como hoje, faço questão de passar por aqui", revelou, enquanto fazia as tradicionais compras na área revitalizada.
Alheia à crise, a feirante Railda Ferreira, 61, que trabalha no local desde os 25 anos de idade, agradece por ainda ter a feira para tirar o sustento. "Já ganhei meus R$ 10, já não fico sem almoçar meio-dia", disse à reportagem, logo após vender redes de tomate, pimentão e cebola. "O pessoal fala em crise, mas o pior é não ter o que fazer", avaliou.
Além do atrativo de frutas, verduras, temperos, farinhas, grãos, carnes, bares, lojas de confecções e utensílios do lar, muitos clientes procuram a Feira de São Joaquim em busca da ampla variedade de produtos religiosos.
Com a colaboração da repórter Caroline Gois.  
Publicada originalmente em 29/01 às 0h30 

Classificação Indicativa: Livre

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