Meio Ambiente
Publicado em 15/06/2021, às 17h00 Nilson Marinho
Nas pequenas fábricas de artefatos em couro da cidade de Ipirá, abastecidas por curtumes da região, o publicitário baiano Fabrício Oliveira, 35 anos, aprendeu, ainda na infância, a produzir bolsas e cintos feitos de pele animal ou de material sintético. Décadas depois, ele decidiu investir em um negócio próprio.
Diferente dos seus antigos patrões, o agora empresário e designer de calçados voltou os olhos para dois setores que ganham cada vez mais o apreço do consumidor: o mercado sustentável e o digital. Hoje, a renda dele é 400% maior.
Produção
Fabrício pisou em um terreno fértil. Segundo dados de uma pesquisa feita pela empresa em insights de mercado Toluna, 92% dos consumidores que compram pela internet são influenciados pela prática sustentável. Outros 94% dos internautas já compraram produtos só por eles levarem o selo.
O material que Fabrício utiliza para confecção das sandálias vem do descarte de grandes empresas que, por um defeito mínimo do couro, acham por bem levá-lo ao lixo. Dos retalhos nascem novos produtos a preço mais em conta devido à origem da matéria-prima. Isso também contribui, segundo ele, para que a compra consciente possa chegar a clientes com menor poder aquisitivo.
“Por ser um material reciclável é possível fazer peças mais em conta, sem deixar de lado o bom gosto. Há dois tipos de público: aquele que compra pela origem da peça, por ser sustentável, e o outro que compra pelo custo/benefício. Esse último acaba conhecendo uma nova forma de consumo ao saber que está adquirindo um produto de menor impacto ao meio ambiente”.
Consumidor
Mas o fato das empresas com selo sustentável cobrarem mais caro em suas peças não é um empecilho para 29% dos consumidores, ainda segundo dados da pesquisa feita pela Toluna, que ouviu, no dia 14 de maio de 2021, 659 pessoas (49% homens, 51% mulheres) das classes A, B e C. Pelo contrário, 46% deles concordam em desembolsar mais por elas.
No processo da transformação da pele crua do boi em couro é utilizado produtos químicos como o cromo, classificado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas como perigoso. Os resíduos dos curtumes quando não tratados de maneira correta podem atingir o lençol freático e comprometer a vida dos rios.
De acordo com o CICB (Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil), o país possui 310 fábricas curtidoras e 2.800 indústrias de componentes para couro e calçados. “Todo aquele material que poderia ganhar um descarte talvez irregular é transformado em novos produtos. O impacto da minha produção é zero”.
Agora, o empresário tenta implantar no seu público uma nova maneira de consumo consciente: a upcycling. Uma técnica de reaproveitamento de materiais já existentes. “O cliente traz uma roupa, um tecido de uma blusa, por exemplo, e podemos transformar aquilo em um calçado. Também tem a opção de envio em um transporte com menor emissão de CO2”, explica Fabrício.
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