Do Pelô ao Zumbi, povo de santo repudia judiciário brasileiro e pede respeito
Publicado em 22/05/2014, às 07h16 Marivaldo Filho (Twitter: @marivaldofilho)
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Não à toa, o local utilizado no Brasil colonial para castigar os escravos foi ponto inicial para o povo de santo pedir respeito e protestar contra a intolerância. Também não fortuitamente a caminhada escolheu a estátua de Zumbi dos Palmares, também no Centro Histórico de Salvador, para finalizar o ato. A decisão do juiz Eugênio Rosa de Araújo, da 17ª Vara da Justiça Federal no Rio de Janeiro, que, em uma sentença, não considerou os cultos afrobrasileiros como religiões, reuniu candomblecistas e umbandistas, que saíram do Pelourinho embalados pelo som dos atabaques, danças e rituais e exigiram respeito.
"Saímos, simbolicamente, do Pelourinho até o monumento de Zumbi dos Palmares, em protesto contra a intolerância do Judiciário brasileiro com as nossas religiões. É inadmissível, que em pleno século XXI precisemos, ainda, lutar e pedir respeito. Ele (juiz Eugênio Araújo) se coloca como se fosse ele quem tivesse o poder de decidir o que é religião. Esse sentimento de intolerância é de todo o Judiciário e não sossegaremos até transformá-lo", declarou o coordenador do Coletivo de Entidades Negras, Marcos Rezende.
Os rituais do povo de santo começaram ainda no Largo do Pelourinho. Dançando e cantando, candomblecistas e umbandistas fizeram oferendas e percorreram as ruas estreitas do Centro Histórico de Salvador.
A yalorixá Jaciara Ribeiro, ou simplesmente Mãe Jaciara, do Terreiro Axé Abassá de Ogum, um dos ícones da luta contra a intolerância religiosa no Brasil, fez duras críticas a forma com que as religiões de matriz africana ainda são tratadas.
“É inadmissível que essas coisas continuem acontecendo. O nosso Estado é laico e essa decisão judicial demonstra o quanto ainda precisamos avançar em muitas questões. É perversa a forma com que tratam as religiões de matriz africana. Ninguém nos diz o que nós somos, só a nossa fé responde”, respondeu Mãe Jaciara.
Toga "racista"
A pré-candidata a deputada estadual, Olívia Santana (PCdoB), também fez duras críticas à “sentença racista”.
“Ele (juiz Eugênio Araújo) usou do poder que tem como juiz e utilizou da toga para praticar o racismo e a intolerância. Estamos reunidos para repudiar o racismo, principalmente por partir de uma pessoa que fala em nome do Estado. É inaceitável esse tipo de postura. Ele só voltou atrás dos argumentos, mas manteve a sentença que incentiva a discriminação. O povo de santo não aceita e fez um esse ato. É preciso que uma atitude de Estado seja tomada para que essa sentença seja revertida”, declarou Olívia Santana.
PPLE
O protesto também teve espaço para a política partidária. A criação do Partido Popular da Liberdade de Expressão (PPLE), lê-se pepelê, foi abordada como ponto fundamental para a democracia e luta contra a intolerância.
A ideia, de acordo com Edmilson Sales, cotado para assumir a Executiva municipal da legenda após a oficialização, é reunir descendentes das tradições afrobrasileiras dispostos a contribuir para estabelecer a igualdade racial. “Com o PPLE, lutaremos juntos pelas nossas causas”, afirmou.
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