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Camaçari: candidato do Psol diz que cidade vive ditadura do poder

Publicado em 17/09/2016, às 00h00   Redação


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Por Aparecido Silva Fotos: Gilberto Júnior//Bocão News

O professor Nilton da Resistência é o candidato do Psol na disputa pela prefeitura de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador. Em entrevista ao Bocão News, o postulante ao Executivo relatou suas propostas para a cidade e fez avaliação sobre o seu partido no município, dentre outros assuntos.

Em 2012, o partido teve 13 candidatos à Câmara, mas agora tem apenas dois. Segundo o prefeiturável, faltou gente disposta para o desafio. "Nós tivemos dificuldades de ter candidatos a vereador no município, uma vez que, até então, o que tinham sido, saíram do partido e não conseguimos atrair mais filiados para pegarem essa tarefa", explicou.

No bate-papo, que ocorreu também com os demais candidatos da cidade, o socialista avaliou que o município de Camaçari vive uma "ditadura do poder" ao relacionar os longos períodos que diferentes grupos políticos estiveram à frente da prefeitura. Ainda na entrevista, o candidato critica a barganha política que, segundo ele, existe entre Legislativo e Executivo. "Se tornou tradição o prefeito produzir maioria, infelizmente, através da barganha política. Tentaremos dialogar com os eleitores desses candidatos que foram eleitos e tentar fazer com que essas pessoas façam nosso projeto político e conquistem seus candidatos para que ajudem o Psol a fazer uma boa gestão", apontou.

Confira a entrevista na íntegra:

Bocão News - Como está sendo fazer campanha em menor tempo e sem financiamento privado de campanha?

Nilton da Resistência - A gente tem contado com o apoio da militância, que sempre apoiou a nossa luta e nesse momento tem sido muito bom esse apoio que tem acontecido. Muitas pessoas, que inclusive não eram da nossa militância, tem colaborado e até o momento tem sido um sucesso nossa campanha de arrecadação.

BNews - Em 2016, o Psol também teve candidato à prefeitura de Camaçari e o postulante na época teve pouco mais de mil votos, o que não representou sequer 1% dos votos válidos. Como pretende, neste ano, reverter esse índice e alavancar o desempenho do Psol na cidade?

NR - Nós apostamos, como falei anteriormente, no apoio da militância. A candidatura anterior não foi abraçada pela militância, mas nesse momento, por ser um candidato histórico do partido e que sempre participou da luta, as pessoas têm se empenhado cada vez mais e hoje, segundo alguns veículos de comunicação, nós estamos acima desse valor que o candidato anterior teve.

BNews -Atualmente o Psol não tem vereador na Câmara de Camaçari. Com quantos candidatos ao Legislativo o partido está indo esse ano?

NR - Temos dois candidatos. Uma é baiana de acarajé, Jeane, e o outro é mototaxista, Astrogildo.

BNews -Em 2012, também foi esse o número de postulantes?

NR - Não. Tivemos 13 candidatos, mas infelizmente após a eleição eles saíram do partido.

BNews -Mas por que, então, lançar apenas dois vereadores agora, não havia quadros interessados?

NR - É isso, nós tivemos dificuldades de ter candidatos a vereador no município, uma vez que, até então, o que tinham sido, saíram do partido e não conseguimos atrair mais filiados para pegarem essa tarefa.

BNews -Pode-se falar, assim, em uma crise do Psol em Camaçari?

NR - Não, na verdade, nós conseguimos até ampliar o número de militantes entre os movimentos sociais de Camaçari, mas a conjuntura política local dificultou que pessoas se disponibilizassem para esta tarefa. O nosso quadro é formado por muitos professores, que estão em sala de aula, e alguns ainda são estudantes em faculdades e enfrentam dificuldades exatamente para dar conta de duas tarefas.

BNews -Caso eleito prefeito, como pretende dialogar com o Legislativo?

NR - Primeiro, vamos tentar superar uma dificuldade que nós vamos encontrar, que é exatamente a maneira como tem se dado a relação entre Executivo e Legislativo municipais. Se tornou tradição o prefeito produzir maioria, infelizmente, através da barganha política. Tentaremos dialogar com os eleitores desses candidatos que foram eleitos e tentar fazer com que essas pessoas façam nosso projeto político e conquistem seus candidatos para que ajudem o Psol a fazer uma boa gestão.

BNews -O Psol está indo com uma chapa majoritária puro sangue, como seria governar nesse cenário sem participação de outros partidos, uma vez que o modelo de gestão que se tem atualmente é de governos de coalizão?

NR - Estamos contando com apoios dos movimentos sociais nesse sentido, da sociedade civil organizada, para definir quem serão nossos secretários de governo. A gente acredita que a população tem a capacidade de escolher os melhores quadros para dirigir a cidade.

BNews - O município de Camaçari já está há 12 anos sob o comando do mesmo grupo político. Qual sua avaliação dos governos de Luiz Caetano e Ademar Delgado para a cidade?

NR - Na verdade, nós vivemos tipo uma ditadura do poder no município de Camaçari. Tivemos lá um governo do PMDB de 15 anos, foram 11 anos como área de segurança nacional e depois mais quatro anos de gestão do PMDB. Depois, tivemos 12 anos de PFL, que se transformou em Democratas, e agora está o governo do PT. A cidade tem conseguido atrair várias empresas e a nossa riqueza natural é muito bonita e isso faz que o município consiga desenvolver sua economia. Esses gestores que por lá passaram, infelizmente, deixaram um legado muito ruim. Se a gente analisa os dados socioeconômicos do município até 2005, você vai ver uma maioria da cidade em situação de miséria e pobreza, uma educação numa situação muito ruim, se comparada com municípios outros na Bahia, apesar da nossa arrecadação.

BNews -O que soa contraditório...

NR - Exatamente. Temos uma saúde também muito precária. Estes governantes, que se sucederam no poder, realizaram suas ações sempre de maneira a supervalorizar o valor das obras e isso faz com que o município não consiga produzir desenvolvimento social. Eles não conseguiram dar conta disso. Existe, inclusive, uma lógica local de que Camaçari é uma cidade-dormitório.

BNews -No cenário atual de Camaçari, pesquisas mostram que os candidatos com maiores chances de vitória são Elinaldo, do Democratas, e o ex-prefeito e deputado federal Luiz Caetano, do PT. Você admite dificuldades para disputar de igual pra igual nessa campanha?

NR - Uma boa parte da população tem se mostrado indecisa nestas pesquisas. Em torno de 40% ainda não decidiram. A gente acredita que, e a nossa campanha está focada nisso, a gente dando visibilidade à nossa candidatura conseguirá alcançar um bom número de eleitores e superar essa situação. As pessoas conhecem o Psol e sabem que é o único partido que não tem nenhum envolvimento na Operação Lava Jato, que tem parlamentares que demonstram trabalho. Mas a população ainda não tinha tido acesso, até o momento, ao fato de o partido ter candidatura no município. Mas, assim que essas pessoas souberem, com certeza, irão apoiar a candidatura do Psol.

BNews -Dentre os candidatos à prefeitura de Camaçari, o senhor é o único que não tem lista de bens declarada. Por quê?

NR - Porque realmente eu não tenho nenhum bem. Assim, eu já fui auxiliar de bibliotecária, auxiliar de disciplina, minha remuneração era muito baixa e a única coisa que tenho é o meu salário. Não tenho nenhum bem.

BNews -Falando em propostas, Camaçari é uma cidade famosa por suas praias, um setor que tem potencial turístico considerável. Como pretende alavancar essa área e dar maior atenção ao turismo?

NR - Estamos pensando em estimular o turismo sustentável, procurando empresas que queiram aplicar o seu financiamento, mas respeitando a natureza. Pensamos também em criar uma incubadora municipal, exatamente para dar suporte aos pequenos empreendedores locais. O nosso município tem, no litoral, algumas comunidades que possuem uma grande produção de manga e não aproveitam essa produção para fazer, por exemplo, polpas, doces, o que melhoraria a renda das pessoas que ali residem.

BNews -No campo do transporte público e mobilidade urbana, o que tem de propostas para a cidade?

NR - Primeiro, queremos que o município crie alternativas para a população da orla do município tendo um terminal ali para fazer integração sede-orla. Defendemos que as empresas do município de Camaçari tenham mais transparência no uso do transporte público e defendemos ainda o passe-livre estudantil. Sabemos que isso é possível, porque Camaçari tem muitos recursos e pode conseguir parceiros para garantir que os estudantes do nosso município tenham maior poder de mobilidade e vamos apostar nisso.

BNews -Camaçari vivenciou uma greve de professores recentemente. Sendo professor, como pretender dialogar com a categoria, caso seja eleito, e quais são as suas propostas para esta área?

NR - Queremos, e vamos fazer assim que assumirmos a prefeitura, colocar em prática o que os professores tanto almejam que é o Plano de Cargos e Rendimentos do município. Já era para ter saído, mas não saiu ainda nesta gestão. Ao mesmo tempo, vamos exigir que nas escolas aconteçam mais democracia, ou seja, maior participação dos pais, alunos, nas decisões das unidades de ensino.

BNews -Outro setor que vivenciou greve neste ano foi o da saúde. O que tem de propostas para o segmento?

NR - Primeiro, a gente garante que na nossa gestão acontecerá 100% de cobertura na área de saúde. Hoje, infelizmente, a cobertura está em torno de 60%. Municípios menores como Mata de São João têm cobertura maior que a nossa. Então, se a gente garantir isso, a gente vai melhorar a qualidade da saúde. Outra ação é apostar na saúde preventiva e reduzir um pouco os gastos na área da cura. Se a gente investir na preventiva, vamos superar o quadro que o município vive.

BNews -Como pretende tratar a questão da geração de emprego e renda no município?

NR - A nossa ideia é investir prioritariamente no pequeno e médio empreendedor. Lá há muitas pessoas que vivem do mercado informal, precisamos pensar numa maneira de regularizar a situação dessas pessoas.

BNews -Camaçari tem segundo maior PIB na Bahia e tem uma receita estimada de R$ 100 milhões por mês. O orçamento, na sua opinião, tem uma distribuição justa?

NR - Queremos ver se é possível aumentar o gasto na saúde, exatamente porque buscamos uma saúde preventiva. Então, queremos ver o que é possível fazer em relação ao orçamento da saúde e é preciso retirar uma parte do orçamento disponível para colaborar na segurança. Sabemos que não é um dever do município, mas é preciso que tenhamos recursos voltados para colaborar com o Estado na área da segurança, pois o mesmo não tem dado conta. Pretendemos também ver os gastos com educação, se é possível também avançar os atuais gastos. Sabemos que o município é obrigado a gastar 25% do seu orçamento na educação.

BNews -Em tempos que se fala muito em transparência de gestão, o que Nilton da Resistência pretende fazer para tornar sua eventual administração transparente para a sociedade?

NR - Criaremos um setor chamado de “TOM”, a Transparência Orçamentária Municipal, para acompanhamento dos gastos da gestão via web. Algumas prefeituras já realizam isso. Estamos pensando também no retorno do orçamento participativo, uma maneira de a população dirigir uma parte do orçamento, acompanhando e fiscalizando, dando mais transparência aos gastos dos recursos públicos.

BNews -Deixe suas considerações finais e diga porque o eleitor de Camaçari deve votar na candidatura do Psol.

NR - Eu quero agradecer ao Bocão News pelo espaço para a candidatura do Psol, agradecer à população que tem abraçado e recebido a nossa candidatura com muito carinho. O Psol é um partido que continua apostando em um projeto político onde a sociedade é quem decide seus rumos. Então, a grande maioria da sociedade é que deve decidir como é que quer a organização do poder público funcionando. Acreditamos nisso e por esse motivo esperamos que a população vote no Psol, porque é um partido que respeita as pessoas e por isso deve ser respeitado.

Classificação Indicativa: Livre

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