Política

Temerário: um governo nas cordas

Publicado em 10/07/2017, às 15h09   Luiz Fernando Lima


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O presidente Michel Temer (PMDB) viajou para Alemanha na última semana deixando a Presidência da República nas mãos de Eunício de Oliveira (PMDB), presidente do Senado. Na reunião de cúpula do G20 passou quase sem ser notado. Não fosse a declaração dada à imprensa brasileira, o peemedebista não teria se quer sido ouvido sobre qualquer aspecto. A afirmação: “não existe crise econômica no Brasil” soou mais como bravata que qualquer outra significante.

Em Brasília, se repetem os tempos do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados e primeiro na linha sucessória, não faz movimento explícito para tomar o lugar de Temer, mas recebe líderes de partidos da aliança, além de deputados federais e senadores em sua residência oficial. Pede sigilo e mantém o silêncio diante das frequentes perguntas sobre conspirações. O governo Temer não sai das cordas desde a delação da J&F em maio.

A estratégia do habilidoso Temer tem sido a mesma que manteve a “governabilidade” de gestões desde os tempos da redemocratização do país. Libera-se emendas impositivas, concede cargos na estrutura administrativa e corta benesses em caso de “traição”. Conta com um cenário turvo no qual o principal aliado do consórcio, o PSDB, não decide se vai ou se racha. Não decide, sobretudo, por falta de um plano B.

Com Aécio Neves (PSDB) reintegrado ao Senado, mas “morto” politicamente, os tucanos ainda têm pela frente uma batalha travada entre criatura e criador – João Doria Júnior e Geraldo Alckimin – são cotados para carregar o estandarte tucano nas eleições do próximo ano e não há até o momento um “preferido”.

A possibilidade de Maia assumir a presidência e concorrer ao cargo em 2018 também suscita dúvidas no ninho do PSDB. De forma que entre deixar Temer sangrando e dar ao demista a cadeira e a caneta do Alvorada, a segunda opção parece mais problemática. O que se sabe é que se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva puder ser candidato, a disputa será duríssima e um racha no campo político de centro-direita seria o calvário do projeto de comandar o país via voto direto.

Este é um cenário que ainda carrega outras nuances não menos importantes. O relatório de Sérgio Zveitar (PMDB-RJ) será apresentado e votado na Comissão de Constituição e Justiça e no plenário. Ao que tudo indica, o peemedebista dará o parecer pela autorização das investigações pelo STF. As contas do governo são apertadas, mas indicam vitória. Ao menos, por enquanto.

O fato de não haver manifestantes nas ruas não ameniza a preocupação dos deputados federais com a eleição de 2018. Comenta-se que votar agora contra a abertura do processo para na próxima semana ou logo após o recesso ter outro pedido fermentado pelas delações de Lúcio Funaro e Eduardo Cunha é um desgaste maior que as ofertas do governo para segurar a base.

Contra isso, existe o compromisso com setores econômicos para a reforma trabalhista e a reforma previdenciária sejam aprovadas. A trabalhista vai para o plenário do Senado já nesta terça-feira (11). O interessante neste novo cenário é que até consequência da aprovação sugere interpretação diferente da que até então vinha sido traçada.

Se no primeiro momento o governo analisava que aprovar a reforma seria demonstração de força e capacidade de tocar a agenda dos segmentos que possibilitaram o impedimento de Dilma Rousseff, neste segundo ato, encerrar esta etapa tira de partidos como o PSDB o compromisso com o governo desidratado. O acordo é pela agenda de reformas e não com Temer.

O presidente tem virado, a cada dia, menos facilitador e, portanto, como todos na política tupiniquim: descartável. Estas são etapas de mais uma semana entrincheirada de um governo fragilizado e a beira do colapso. É esperar para ver se Temer suportará mais uma semana e se nesta semana haverá novidades sobre a situação jurídica dos dois últimos valetes do presidente: Moreira Franco e Henrique Meirelles.

* Luiz Fernando Lima é editor de política do Bocão News

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