Amor ou amizade

Vocês se conheceram meses atrás. Um simples likes no Instagram foi o bastante para dar início a uma troca de mensagens que não tinha hora para começar nem para terminar. Hoje em dia, você coloca a cabeça no travesseiro todas as noites e não consegue refrear um sorriso ao pensar em como a sua vida deu uma reviravolta. 

O relacionamento anterior terminara poucas semanas antes, deixando-o com aquela sensação de estar pisando em areia movediça. Tê-lo conhecido foi uma sorte, alguns falariam em artimanha do destino, outros em dádiva divina. Você ainda não entende como ficaram tão íntimos em tão pouco tempo, e pensa que não teria aguentado a barra sozinho.

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Hoje consegue admitir para si mesmo que a atração sempre existiu entre ambos, que o sentimento nunca foi apenas fraternal. Por que ele esperou tanto tempo pra falar?, você se pergunta, mas ao mesmo tempo não se importa. Na verdade, foi até bom que tudo tenha acontecido assim. A intimidade lhes conferiu mais segurança e confiança, sem falar que aqueles preâmbulos tornaram tudo tão cinematográfico…

Vez ou outra ouço uma história semelhante: amigos, alguns de longa data, do nada se viram apaixonados um pelo outro e viraram casais. Se isso é totalmente positivo só eles poderão dizer, mas sou capaz de apostar que, se os laços de amizade forem realmente sólidos, o companheirismo se manterá invicto mesmo que a paixão vá embora.

Ruim mesmo são casais que nunca se conheceram de fato, que não são leais nem se apoiam profissional e emocionalmente. O que não tem nada a ver com permitir que o relacionamento caia na rotina ou deixar que o tédio subjugue a libido. Antes de qualquer coisa, significa compreender o sentido do contrato que avaliza uma relação, que não prevê apenas sair, comer, beber ou dormir juntos, mas comungar da vida e dos interesses do outro, e construir uma terceira vida que será palpável mesmo quando ambos não estiverem juntos fisicamente.  

*Guilherme Reis é repórter do Bocão News e escreve neste espaço às segundas-feiras.

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