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"Entre quatro paredes": mais de 1,7 mil mulheres têm acompanhamento policial por causa de violência doméstica na BA

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Quarta matéria da série fala sobre o sistema de policiamento específico para acompanhamento das mulheres vítimas de violência  |   Bnews - Divulgação Gilberto Júnior/BNews

Publicado em 07/12/2017, às 13h14   Brenda Ferreira, Diego Vieira e Shizue Miyazono



Após explicar como funciona a medida protetiva, quem pode solicitar e como funciona, a quarta matéria da série "Entre quatro paredes", do BNews, fala sobre a Ronda Maria da Penha, que é um sistema de policiamento específico para acompanhamento das mulheres vítimas de violência. 

"Entre quatro paredes": mais de 10 mil medidas protetivas foram solicitadas na Bahia em 2017

Criada em março de 2015, a ronda atende, atualmente, 1.733 mulheres em Salvador, Feira de Santana, Juazeiro, Paulo Afonso, Itabuna e Vitória da Conquista.

Seja na própria casa, na residência de parentes ou no trabalho, os 98 policiais que atuam na ronda nas seis cidades, vão ao lugar indicado pela mulher que necessita do apoio. A intenção é que o agressor saiba que ao se aproximar da vítima pode dar de cara com os PMs.

A gestora de recursos humanos, Edileia Leal, de 34 anos, está entre as mulheres atendidas pelo sistema de policiamento na Bahia. Casada durante quase 20 anos e com um filho de 18, ela conta que se sentia feliz com o relacionamento, no entanto, viu tudo mudar quando descobriu que estava sendo traída.

"Eu peguei ele e a amante no flagra. Depois disso, ele fez uma proposta para me dar a metade do salário dele e assim, ele ficaria comigo e com a amante. Além disso, ele determinou os dias que ficaria com cada uma. Eu achei isso um absurdo e resolvi romper o relacionamento”, detalhou.

Apesar das tentativas do ex-companheiro para uma possível reconciliação, Edileia decidiu pedi o divórcio.  "No início, ele não sabia que eu tinha pedido o divórcio que teve duas etapas. A primeira foi o pedido de pensão do nosso filho e depois a divisão dos bens”, explicou. Segundo a gestora de RH, foi nesse momento que a vida dela “virou um inferno” e que descobriu o "ser agressivo" com quem conviveu durante muito tempo: “Em setembro de 2014, ele invadiu a minha casa, jogou o meu pescoço para trás e deferiu um chute no meu tornozelo direito. Já em 2015, ele e duas irmãs dele tentaram invadir a minha casa novamente para me matar mas, graças a Deus, os meus vizinhos me ajudaram e eles não conseguiram”, relembra, emocionada.

Depois das agressões e passar a sofrer diversas ameaças do ex-marido, ela resolveu denunciar os casos na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), do bairro de Periperi, onde foi aberto um inquérito com um pedido de medida protetiva contra o ex-companheiro.  Em seguida, Edileia passou a ser acompanhada pela Ronda Maria da Penha.

"Depois que eu passei a ser assistida pela ronda mudou muita coisa em minha vida, principalmente as ameaças que eu sofria, que eram muitas. Na visita, eles [os policiais] perguntam como eu estou, se eu não estou escondendo nada deles. Hoje me sinto outra mulher, mais forte, livre e com vontade de ser feliz”, comemorou.

Ronda Maria da Penha


A ronda é comandada pela major Denice Santiago. No dia-a-dia do trabalho, ela percebeu que muitas policiais mulheres e esposas de policias eram vítimas de violência doméstica. Então, a major decidiu criar o centro Maria Felipa, núcleo para dar assistências às vítimas. Depois, Denice conseguiu estender a proteção para fora da corporação. 

"O Maria Felipa trabalhava internamente e precisávamos de algo que trabalhasse também com as mulheres da comunidade, foi ai que veio a informação da Patrulha Maria da Penha, fundada em 2012, no Rio Grande do Sul. Então, comecei a estudar um pouco sobre a patrulha, trouxe para aqui e junto com  a secretaria de Políticas para as Mulheres e a secretaria de Segurança Pública, fizemos a concepção da ronda Maria da Penha", afirmou. 

"Entre quatro paredes": mais de 37 mil casos de violência contra mulheres foram registrados em 2017 na BA

Segundo a major, a ronda acompanha os casos classificados como os mais graves pela Justiça. “Os casos que nós atendemos são os casos que o Tribunal de Justiça considera os mais complexos. Existem muito mais mulheres em medida protetiva na Bahia, mas os casos mais emblemáticos que nos são encaminhados pelo TJ, nós passamos a atender”, explicou.

Bairros do Subúrbio Ferroviário de Salvador, como Plataforma, Paripe e Periperi, aparecem na lista onde a ronda faz o maior número de atendimentos. "A violência doméstica, infelizmente, está em todas as esferas sociais. Nós fazemos atendimentos em bairros nobres e periféricos, mas o maior número de mulheres atendidas está concentrado na região do Subúrbio Ferroviário de Salvador. Isso não significa que são as mulheres que mais sofrem violência, mas são as que mais denunciam”, disse. 

Ainda conforme a policial, o indicador pode está relacionado à questões socioeconômicas. “Talvez sejam as mulheres que economicamente tem menos a perder, porque elas se sentem mais fortalecidas. Digo isso porque 79% das mulheres que eu atendo são responsáveis pelo sustento do seu lar. Então, são mulheres que já tem a autonomia melhor trabalhada”, completou.

Sinal Vermelho

Os casos atendidos pela Ronda Maria da Penha são classificados de acordo com o risco de cada um deles. No primeiro atendimento, as vítimas respondem um questionário de acolhimento que vai direcionar a periodicidade das visitas dos policiais. 

"A gente gradua o risco de cada caso, de acordo com as cores do semáforo [vermelho, amarelo e verde]. O vermelho é aquele que nós fazemos duas ou três visitas na semana. O amarelo pode ser uma visita por semana, já o verde dá um intervalo de 15 dias. No entanto essa avaliação é periódica. Às vezes estamos no vermelho e passamos para o amarelo, como também as vezes a gente já foi do sinal verde para o amarelo", explicou a major.

Resultados

Ainda de acordo com a comandante da ronda, o resultado positivo é percebido após algumas visitas. "Existem mulheres que nem saiam de casa e isso mudou depois da Ronda Maria da Penha”.  

E engana-se quem pensa que o trabalho da ronda restringe-se apenas aos atendimentos na casa das vítimas. Aulas de arte, teatro, artesanato e empreendedorismo são oferecidas na sede, localizada no bairro de Periperi. “Da última vez, fizemos uma oficina de grafite. O objetivo do projeto foi para mostrar para essas mulheres a transformação, de como elas saíram de um lugar sombrio e hoje estão mais vibrantes e felizes”, finalizou.

Unidades de Atendimento à Mulher na Bahia:

Central de Atendimento à Mulher : disque 180

Central de Atendimento à Crianças e Adolescentes: disque 100

Saúde da Mulher: disque 0800 61 1997

Secretaria de Segurança Pública: Disque 3237-0000

DEAM – Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher: 
End.: Rua Padre Luiz Filgueiras, S/N – Engenho Velho de Brotas 
Tel.: (71) 3116-7000

End.: Dr. José de Almeida, S/N – Praça do Sol – Periperi 
Tel.: (71) 3117-8217 (Plantão)

Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM- Feira de Santana- Bahia
End.: Av. Maria Quitéria, 841 - Bairro Brasília 
Tel.: (75) 3602.9284

Delegacia Especial de Atendimento a Mulher - DEAM - Itabuna- Bahia
End.: Praça da Bandeira, 01 - Centro - Itabuna - BA
Tel.: (73) 3214.7820/3214.7822

Delegacia Especial de Atendimento a Mulher - DEAM - Ilhéus - Bahia
End.: Rua Oswaldo Cruz nº 43 - Cidade Nova
Tel.: (73) 3234.5274/3234.5275

Delegacia Especial de Atendimento a Mulher - DEAM - Vitória da Conquista – Bahia
End.: Rua Humberto de Campos, 205 Bairro Jurema - Vitória da Conquista
Tel.: (77) 3425.8369/3425.4414

Delegacia Especial de Atendimento a Mulher - DEAM - Teixeira de Freitas- Bahia
End.: Rua Nossa Senhora D'ajuda, s/n -Teixeira de Freitas
Tel.: (73) 3291.1552/3291.1553

Delegacia Especial de Atendimento a Mulher - DEAM - Juazeiro- Bahia
End.: Rua Canadá, 38 - Bairro Maria Gorette
Tel.: (74)3611.9831/3611.9832

Delegacia Especial de Atendimento a Mulher - DEAM - Porto Seguro- Bahia
End.: Rua Itagiba, 139- Centro
Tel.: (73) 3288.1037/3288.1037

Delegacia Especial de Atendimento a Mulher - DEAM - Paulo Afonso - Bahia
End.: Rua Nelson Rodrigues do Nascimento nº 92, Panorama - Paulo Afonso
Tel.:(75) 3692.1437/3282.8039/3692.1437

Delegacia Especial de Atendimento a Mulher - DEAM - Alagoinhas- Bahia
End.: Rua Severino Vieira nº 702 - Centro- Alagoinhas
Tel.: (75) 3423.4759/8253/3423.3862

1ª Vara de Violência Doméstica e Familiar 
End.: Rua Conselheiro Spínola, nº77 – Barris 
Tel.: (71) 3328-1195/3329-5038

2ª Vara de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, de Salvador - Fórum Regional do Imbuí. 
End.: Rua Padre Casimiro Quiroga, 2403 - Imbuí, Salvador
Tel.: (71) 3372-7481/ 3372-7461/ 3372-7460

Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Feira de Santana
End.: Avenida dos Pássaros, nº 94, Mochila
Tel.: (75) 3624.9615/3614-5835 

Vara de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher – Juazeiro 
End.: Rua Carmela Dultra n. 24 - Bairro Centro
Tel.: (74) 3614-2856 / 3612-8928

Vara da Violência Doméstica e Familiar de Vitória da Conquista
End.: Praça Estevão Santos, 41 – Centro 
Tel.: (77) 3425-8900

Classificação Indicativa: Livre

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