Saúde

Saiba como identificar a violência obstétrica e veja se você também é vítima

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Coordenadora de Ginecologia e Obstetrícia do Cremeb vê alguns procedimentos como necessários para salvar vidas  |   Bnews - Divulgação Reprodução

Publicado em 25/11/2017, às 08h00   Shizue Miyazono


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A violência obstétrica é definida como atos violentos, físico ou psicológico, durante o período de gestação, em situação de abortamento, no parto e pós-parto, segundo definição da Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Dossiê Violência Obstétrica – Parirás com Dor, elaborado pela Rede Parto do Princípio.

A defensora pública Viviane Luchini explica que o grande entrave na discussão sobre o assunto é o desconhecimento. “A gente está tentando levantar essa temática, esclarecer as mulheres o que acontece e apontar isso aí, para elas identificarem e denunciar. O primeiro passo é identificar”.

Pensando nisso, a Defensoria Pública elaborou um material em que dá dicas de como saber se a gestante foi vítima de violência obstétrica em que cita alguns exemplos e explica como proceder para denunciar. A ideia é que o folder seja divulgado nos eventos sobre a temática, em alguns hospitais e lugares em que trabalhem com as gestantes, o público alvo.

Na segunda matéria da série, o BNews traz alguns exemplos de violência obstétrica:

- Não informar sobre os procedimentos que serão adotados pelos profissionais de saúde;

- Raspagem dos pelos pubianos;

- Deixar a mulher de jejum;

- Levar o bebê para longe da mãe após o nascimento;

- Forçar a mulher a deitar de costas durante o trabalho de parto;

- Realizar cesariana eletiva sem indicação clínica;

- Impedir a realização da amamentação;

- Impedir a presença de acompanhante de livre escolha da gestante, desde a admissão até a alta;

- Questionamento, negativa ou demora no atendimento à mulher em situação de abortamento;

- Ameaças, mentiras, piadas, humilhações e desrespeito a seus padrões culturais.

Apesar de serem considerados exemplos de violência obstétrica o uso de ocitocina, a manobra de Kristeller (pressão na parte superior da arriga da mulher para forçar a saída do bebê) e da episiotomia (corte na vagina),  as porcentagens são muito elevadas, 60%, 56% e 86%, nos partos, segundo a pesquisa Nascer Brasil: Inquérito nacional sobre o parto e nascimento, realizado pela Fiocruz.

Mas, a coordenadora da Câmara Técnica de Ginecologia e Obstetrícia do Cremeb, Tatiana Magalhães Aguiar, afirma que alguns dos procedimentos que são considerados violência obstétrica, na verdade, salvam vidas.  Ela explicou que o jejum, por exemplo, para os obstetras não é violência, pois é necessário para não ter conteúdo gástrico, em caso de alguma intercorrência durante o parto normal, e precisar fazer uma cesárea de urgência. 

Tatiana afirmou, ainda, que a raspagem dos pelos pubianos também é feita pensando em uma necessidade de cirurgia.  "Sendo necessário um corte vai fazer a raspagem na hora? Existe o risco de infecção", explicou. 

"Isso salva vidas, então o que salva vidas não pode ser violência. A gente aprende na residência, na faculdade, está preconizado e salva vidas", afirmou a coordenadora.

Já a ginecologista e obstetra, Nádia Souza Castro, explica que a melhor forma de prevenir a violência obstétrica é discutir com o médico sobre o “plano de parto”, em que a gestante decide quais os procedimentos ela quer ser, ou não quer ser, submetida. Além disso, a paciente deve esclarecer todas as suas dúvidas com o obstetra para saber quais os métodos que são necessários.

A obstetra conta que ainda não teve paciente que tenha solicitado o plano de parto, mas ela tem estudado sobre o assunto e oferecido para a gestante. “O plano de parto é uma excelente forma de discutir o parto, as expectativas da paciente e a realidade do parto”.

Diretrizes de assistência ao parto normal

Em março de 2017, o Governo Federal publicou as diretrizes de assistência ao parto normal no Brasil, em que toda mulher tem direito a definir o seu plano de parto. Essas medidas, segundo o Ministério da Saúde, visam o respeito no acolhimento e mais informações para o empoderamento da mulher no processo de decisão ao qual tem direito.


Foto: Reprodução/Kuara Fotografia

Com o documento, os Centros de Parto Normal passaram a ser considerados locais seguro para o parto de baixo risco, e a possibilidade de ser feito pela enfermeira obstétrica ou obstetriz. "As maternidades também deverão incorporar na assistência: liberdade de posição durante o parto, dieta livre (jejum não obrigatório), presença de doulas, acompanhante, respeito à privacidade da família e métodos de alívio da dor como massagens e imersão em água. Outras recomendações são o contato pele-a-pele imediato com a criança logo após o nascimento; e o estímulo à amamentação".

O Ministério da Saúde afirmou que com as diretrizes pretende reduzir as altas taxas de intervenções desnecessárias como a episiotomia (corte no períneo), o uso de ocitocina (hormônio que acelera o parto), a cesariana, aspiração naso-faringeana no bebê, entre outras, que deveriam ser utilizadas de forma parcimoniosa, apenas em situações de necessidade.

Na terceira matéria da série de reportagem sobre violência obstétrica, que vai ao ar na tarde deste sábado (25), conta o caso de uma paciente que acabou com uma ação ajuízada pela Defensoria Pública.

Foto da defensora: Roberto Viana

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Classificação Indicativa: Livre

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