Salvador

Ambulantes de Salvador continuam nas calçadas e afirmam que reordenamento prejudica vendas

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Prefeitura diz que tem intensificado as ações de ordenamento nas áreas críticas de Salvador  |   Bnews - Divulgação Vagner Souza/BNews

Publicado em 16/10/2017, às 15h38   Shizue Miyazono


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Há 15 anos, Eliane dos Reis Santos ganha a vida vendendo lingerie na Avenida Sete, em Salvador. Como ambulante, ela consegue pagar as contas e sustentar a família. Apesar do medo de ter os produtos confiscados pelo "rapa", a mulher afirma que prefere ficar na calçada em vez de ir para o espaço que a prefeitura criou para os ambulantes trabalharem na região. "Lá não vende. O acesso é difícil e dentro do beco ninguém vai", afirmou.

Eliana contou ao BNews que até ganhou uma box no espaço da prefeitura, mas voltou para a calçada, pois as vendas caíram muito. Ela explicou que já está acostumada a ficar na rua e a sua barraca fica entre um poste e uma árvore, o que não atrapalha o trânsito das pessoas.

Ela é uma entre as cerca de 30 mil ambulantes que trabalham na capital baiana. Segundo a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), desse total, apenas 11 mil estão cadastrados na Prefeitura, mas o número de comerciantes informais vem aumentando em função da crise econômica que afeta o Brasil.

Enquanto a reportagem conversava com a ambulante, uma cliente parou para ver os produtos e ratificou a informação de Eliana. Para a esteticista e maquiadora Morena Rocha, os ambulantes não atrapalham os pedestres. Ela disse que os trabalhadores informais são muitos solícitos e muitas vezes acabam ajudando quem passa pelo local. "Uma vez passei mal no meio da rua e fui socorrida por uma ambulante, que me levou para sentar e me ajudou", contou.

Lorena acha complicada a situação do reordenamento público em Salvador. A esteticista afirmou que colocá-los em um único local só seria possível se todos os ambulantes permanecessem na área escolhida. "Tendo (ambulante) na rua, não vai (cliente) ao local específico", afirmou.

Isso é o que também alega Joel Nascimento, que vende morangos na Avenida Sete há alguns meses. Após ficar desempregado, Joel resolveu vender a fruta na rua e explicou que a decisão de não ir para as barracas é o fato de lá não passar muita gente, o que causa prejuízo.

A Semop afirmou que a Prefeitura tem intensificado as ações de ordenamento nas áreas críticas de Salvador, para que os ambulantes tenham consciência de que as avenidas de grande circulação devem estar desocupadas para não atrapalhar a mobilidade dos pedestres e o fluxo de veículos no trânsito.

"A população vem registrando, diariamente, através dos meios de comunicação, a ação de ambulantes que obstruem ruas, calçadas e pontos de ônibus, insistindo em trabalhar de forma desordenada, prejudicando assim as vias e passeios da cidade".

O bairro de Pau da Lima é um dos exemplos de locais com grande quantidade de trabalhadores informais que tomam conta das calçadas, mas os populares parecem não se incomodar com o desordenamento. Iraci Jesus é cliente de uma barraca de frutas que fica na região e afirmou que os ambulantes não prejudicam o trânsito de pedestres e contou que todos já estão acostumados com os trabalhadores nos locais.

Dono de barraca, Robson Ferreira explicou que trabalha como ambulante há 15 anos e há três está em Pau da Lima. Para ele, a prefeitura deveria ordenar os ambulantes na própria rua, cada um ter seu espaço na calçada, ao invés de fazer mercados ou locais próprios para os trabalhadores, pois o  movimento na rua é maior e a vendagem melhor.

Já Edivan Rodrigues, que começou no trabalho informal há quatro meses, após dois anos sem conseguir emprego, afirmou que iria para um local que a prefeitura designasse, pois tem as vantagens, o ordenamento, além do local para guardar a mercadoria.

A Prefeitura de Salvador afirmou que está investindo no bem estar e segurança dos vendedores ambulantes e a atual gestão investiu mais de R$ 10 milhões na construção de mercados nos bairros de Cajazeiras, Liberdade, Itapuã e Água de Meninos. De acordo com a Semop, até 2020, serão mais três novos equipamentos.

Mas, mesmo com a construção dos mercados, muitos ambulantes ainda preferem ficar na rua. É o caso de Anderson Barbosa, de 33 anos, que trabalha nas proximidades do Mercado da Liberdade há oito anos e afirmou que no mercado só tem movimento na parte da manhã. "Quando dá 11h, o movimento cai, por isso prefiro ficar aqui na rua".

Apesar de tentar ordenar a cidade colocando os ambulantes em locais específicos, a Semop afirmou que o foco é no diálogo, evitando apreensão dos produtos, o que foi confirmado pelos ambulantes ouvidos pela reportagem. Apenas os trabalhadores informais da Avenida Sete contaram que a fiscalização passa de vez em quando pelo local e eles são obrigados a correrem e se esconderem para evitar que o material seja levado.


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