Política

Entidades ligadas a Coronel lucram com contratos públicos; deputado nega irregularidades

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"É uma coisa social. O único dividendo que tenho é político", afirma Coronel  |   Bnews - Divulgação Arquivo/BNews

Publicado em 12/06/2018, às 08h09   Folhapress - João Pedro Pitombo


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Auditor-geral da Assembleia da Bahia, Mário Simões Júnior é polivalente. Trabalha no Legislativo, é vice-presidente de um conglomerado de empresas e comanda duas organizações sociais que faturam contratos com o poder público.

Ele é aliado de Angelo Coronel (PSD), presidente da Assembleia e pré-candidato ao Senado na chapa do governador Rui Costa (PT). Outros três servidores do deputado comandam empresas ou entidades com contratos e convênios com prefeituras, governo e Assembleia baiana.

A relação das entidades com governo e Legislativo contraria o Estatuto do Servidor da Bahia, que proíbe os servidores de "transacionar com o Estado".

O sistema Family Cred é o principal exemplo das interseções entre organizações sociais, funcionários da Assembleia Legislativa e o Grupo Corel, conglomerado de empresas do deputado controlado pela Jet International Trading, offshore sediada no Panamá.

A entidade Family Cred Clube de Seguros administra cartões de benefícios a servidores públicos mediante desconto em folha de pagamento. O serviço funciona com o software Cellpago, desenvolvido pelo Grupo Corel, e atende a servidores do governo, Assembleia e prefeituras.

Já a Family Cred Soluções, esta uma empresa, gerencia cartões de tíquete combustível. Até 2014, firmou contratos com as prefeituras de Aporá, Malhada de Pedras, Itapebi, Mascote, Ipiaú e Dom Basílio. Um deles, o de Ipiaú, foi contestado pelo Tribunal de Contas: auditores constataram "desvantagem ao município".

É dono da empresa Alexandre Pereira e seu administrador, Eugênio Isaac Bonfim, ambos funcionários da presidência da Assembleia. Na época dos contratos, o pai de Angelo Coronel, Orlando Martins, constava entre os sócios.

Na prática, empresa e entidade Family Cred são a mesma coisa. Funcionam no mesmo endereço e têm como responsável Alexandre Pereira, cuja ligação com Angelo Coronel é tão íntima que se refere ao deputado como "um verdadeiro pai" nas redes sociais.

Alexandre ainda preside a entidade que gere a rádio Coração FM, na cidade de Coração de Maria, base eleitoral do deputado. Apesar de comunitária, a rádio é apresentada no site do Grupo Corel como braço do conglomerado no setor de comunicação.

Comandada por uma cunhada de Angelo Coronel, a OSB (Organização Social de Gestão da Bahia) recebeu R$ 5 milhões do governo da Bahia de 2013 a 2018. A entidade gerencia o Hospital Angelo Martins, em Coração de Maria, e obteve só recursos para compra de equipamentos e cirurgias.

A contratação foi feita a despeito do histórico de suspeitas da OSB. Em 2008, o Tribunal de Contas viu "graves irregularidades" em repasses feitos pela Assembleia: a entidade usou recursos públicos para comprar cestas básicas de uma empresa dos filhos do deputado. As cestas, afirmaram os auditores, não tiveram distribuição comprovada.

Também alvo dos auditores do TCE, a ADBahia é comandada por Mário Simões Júnior e revelou ter expertise elástica: construiu imóveis do Minha Casa, Minha Vida e recebeu do estado um trator, em cessão por cinco anos.

Já a Cooempo, comandada por Márcio Barreto, chefe de gabinete da presidência da Assembleia, atua no Minha Casa, Minha Vida e forneceu merenda à Prefeitura de Coração de Maria na gestão de Diego Coronel (PSD), filho do deputado.

Entre as empresas do deputado, a OBS Empreendimentos atuou no Minha Casa, Minha Vida e construiu imóveis em Central, Retirolândia, Lapão, Santo Estevão e Nova Fátima.

OUTRO LADO

Angelo Coronel nega irregularidades nas entidades geridas por seus familiares e funcionários e diz que não tem ingerência sobre elas. Afirma que não geram lucro.

"É uma coisa social. O único dividendo que tenho é político. Não sou hipócrita para negar isso", afirmou o deputado, alegando que não há pedido de voto como contrapartida.

Em relação à Family Cred, diz que a relação da entidade se dá diretamente com o servidor, não havendo repasses do poder público. Sobre a Family Cred Soluções, diz que a empresa não pertence mais ao Grupo Corel. A respeito da rádio, diz que tem relação afetiva, mas não comercial.

Sobre o Minha Casa, Minha Vida, diz que OBS, Adbahia e Cootempo não foram contratados pelo governo federal, mas por instituições financeiras responsáveis pelo projeto.

A Secretaria da Saúde da Bahia afirma que a contratação da OSB seguiu "ditames e regulamentos legais". A Secretaria do Desenvolvimento Rural diz que o trator cedido à ADBahia visa facilitar a produção de alimentos da agricultura familiar.

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