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"EUA não é o fórum para isso”, diz deputada americana ao receber queixas de bolsonaristas: assista

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Os bolsonaristas conseguiram promover uma audiência nos EUA para se queixar de censura e perseguição no Brasil  |   Bnews - Divulgação Reprodução/ vídeo
Letícia Rastelly

por Letícia Rastelly

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Publicado em 08/05/2024, às 01h07



Enquanto o congresso discute medidas para minimizar os transtornos provocados pelas fortes chuvas no Rio Grande do Sul, um grupo de deputados e comunicadores bolsonaristas participou, nesta terça-feira (07), de uma audiência nos Estados Unidos, onde eles buscam apoio internacional para validar o que eles chamam de perseguição e censura no Brasil, principalmente por parte do Supremo Tribunal Federal (STF).

Acompanhavam a sessão, onde apenas seis parlamentares americanos se propuseram a participar e apenas dois permaneceram até o final, os deputados federais Eduardo Bolsonaro, Nikolas Ferreira, Carlos Gilberto e o senador Eduardo Girão. Como já era de se esperar, eles foram apoiados pelos Republicanos e rechaçados pelos Democratas.

Também estavam lá o deputado cassado Deltan Dallagnol, o blogueiro foragido Allan dos Santos, os investigados e ex-comentaristas da Jovem Pan; Rodrigo Constantino e Paulo Figueiredo, o executivo Chris Pavlovski da Rumble, uma rede social da extrema-direita que foi banida no Brasil e o jornalista americano Michael Schellenberger, responsável pela postagem que chegou à Ellon Musk com críticas ao ministro Alexandre de Moraes.

No painel foram ouvidos Paulo, Michael e Chris. Além deles, indicado pelos Democratas, estava o professor de estudos brasileiros da Universidade de Oklahoma, Fábio de Sá e Silva, que assumiu a função de rebater as acusações. Foi ele que durante a sessão mostrou uma foto do jornalista Vladimir Herzog, que na época da ditadura militar brasileira foi torturado, morto e ainda simularam o seu suicídio. "Isso é o que acontecia com jornalistas brasileiros na ditadura", disse.

A audiência foi comandada pelo republicano Chris Smith, presidente do subcomitê de Saúde Global, Direitos Humanos Globais e Organizações Internacionais. Além dele, Maria Salazar, também estava na audiência, assim como os democratas Jonathan Jackson, Susan Wild, Joaquin Castro e a presidente da bancada brasileira, Sydney Kamlager-Dove.

Marcada por comparações entre Bolsonaro e Trump, a presidente da bancada brasileira seguiu essa linha, afirmando que a direita tem se vitimizado. "Esta audiência é uma tentativa de minar a democracia brasileira ao dar uma plataforma para os mesmos indivíduos que espalharam mentiras sobre as eleições", disse Sydney.

A parlamentar foi incisiva, principalmente com Paulo Figueiredo, pedindo para que ele respondesse as perguntas dela com apenas “sim” ou “não” e passou a lhe questionar sobre investigações ao qual ele está sendo submetido pela Polícia Federal e também sobre sua opinião a respeito da ditadura. Vale lembrar que Paulo é neto do último mandatário da ditadura no Brasil, João Batista Figueiredo

Já Wild, dedicou mais de cinco minutos para afirmar que aquela audiência não deveria estar acontecendo. “Gostaria de afirmar desde já que a audiência sobre o Brasil, que eu acredito que deveríamos estar tendo, é aquela focada no bicentenário, este ano, da relação bilateral entre os Estados Unidos e o Brasil, as duas maiores democracias do hemisfério ocidental. A audiência que eu acredito que deveríamos estar tendo é aquela focada nas muitas áreas de cooperação entre os nossos dois países, em direitos trabalhistas e dos trabalhadores, no clima e na proteção da Amazônia, no combate a fome, pobreza e violência e na expansão do crescimento econômico sustentável e ampla mobilidade, segurança e paz em todo o hemisfério”, iniciou a parlamentar.

Ela ainda disse que esse tipo de sessão prejudica a relação entre os países. “Essa audiência (...) ao invés vez de fortalecer nossa relação (...) serve apenas para prejudicar e minar. O Brasil é uma democracia forte e vibrante, com uma sociedade civil e uma mídia robusta, uma multiplicidade de partidos políticos que representam um amplo espectro político e um sistema eleitoral que é justamente considerado os mais seguros e rápidos do mundo”, explanou Susan.

Wild ainda disse que esse era o tipo de pauta que não devia ser tratada nos EUA. “Como em todas democracias, incluindo aqui os Estados Unidos, há debates saudáveis a serem realizados sobre aspectos das instituições do país. Mas quero ser clara, a política interna e os debates sobre questões constitucionais legais devem ser decididos pelo povo brasileiro, seus representantes eleitos e pelos judiciários do Brasil. O Estados Unidos não é o fórum para isso”.

As inspirações sobre os dois países continuaram quando Susan, assim como Sydney, relacionou o 8 de janeiro com o ataque ao Capitólio. "Colocando de modo simplificado, o ataque de 8 de janeiro foi claramente inspirado pelo 6 de janeiro. Acredito que precisamos de mais investigação dos dois eventos e do papel que os EUA podem ter desempenhado, incluindo de elementos de extrema direita que no mínimo expressaram apoio a essa tentativa de golpe [no Brasil]", disse a deputada.

Wild submeteu uma cópia do relatório da CPI do 8 de Janeiro a audiência, assim como uma declaração do deputado Jim McGovern, que é copresidente da Comissão de Direitos Humanos, e foi o responsável por barrar a primeira tentativa de realizar essa audiência no congresso americano.

Do outro lado

Maria Salazar, do Republicanos, foi breve, mas taxativa, com queixas ao mandatário brasileiro e ao ministro Alexandre de Moraes, ao qual ela até exibiu uma foto. "O Brasil não só tem um criminoso condenado por corrupção política como presidente, Inácio Lula da Silva, mas agora tem um operador totalitário como juiz do Supremo Tribunal Federal. Uau! Pobres brasileiros", disse Salazar. Para ela, que inclusive defendeu Elon Musk, “não mexe com liberdade de expressão. Você tem direito a dizer o que quiser, desde que não gere violência, ponto final".

O presidente da audiência revelou que acionou nesta semana a Organização dos Estados Americanos (OEA) solicitando informações sobre “alegações graves das violações dos direitos humanos no Brasil”. Ele concedeu uma entrevista ao Jornal Folha de São Paulo, onde afirmou que vai apresentar um projeto de lei prevendo sanções em caso de violações de direitos no Brasil. "Eu vou elaborar uma legislação semelhante ao que fiz com Belarus [Bielorrússia], chamada Lei da Democracia de Belarus. Eu já fiz isso quatro vezes, começando em 2004, com o Azerbaijão, o Vietnã, todas pedindo respeito aos direitos fundamentais", disse o americano.

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