Meia do Cruzeiro revela passado envolvendo drogas e tentativa de suicídio

Em carta publicada pelo site 'The Players Tribune' na última quinta-feira (18), o meia-atacante Matheus Pereira, um dos principais destaques do Cruzeiro na temporada, abriu o jogo e fez um desabafo pesado sobre seu passado.

Na carta, o jogador contou detalhes sobre alguns momentos difíceis vividos durante sua carreira no futebol, envolvendo depressão, vícios em drogas e alcool, e pensamentos suicidas. 

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"As pessoas podem dizer que hoje eu estou bem. Sim, eu estou. Ou que estou melhor. Melhor do que antes, sem dúvida. Mas sofri bastante até me recuperar. É difícil para os outros entenderem porque ninguém está dentro de mim", contou o jogador.

E, sinceramente, eu não faço ideia de como as coisas chegaram ao ponto de eu desejar me jogar do 19° andar de um hotel em Abu Dhabi. Acho que quase tudo passa pelo futebol, não sei. Os meus vazios, as coisas que eu fazia para preenchê-los, a minha queda, minha salvação", emendou.

Em seu relato, o camisa 10 da Raposa contoy sobre o difícil início no Sporting (Portugal). Na ocasião, o jogador chegou ao país como imigrante ilegal, o que o impedia de jogar profissionalmente.

"Passei dois anos no Sporting só treinando. Não podia jogar nas competições por ser um imigrante ilegal. É uma condição desconfortável essa, de medo e insegurança", relatou Pereira. 

Logo após finalmente conseguir a regularização para jogar, Matheus Pereira enfrentou a separação dos pais e passou a viver sozinho no CT (Centro de Treinamento) do clube.

"Vivendo no CT, mais uma vez sem ninguém olhando por mim ou me falando sobre as coisas importantes, eu fui brincar na beira do abismo", disse.

Me juntei à rodinha da maconha e passava muito, muito tempo chapado. Também bebia um monte e gastava o dinheiro que sobrava em baladas. Depois me sentia um trapo, um miserável. Me culpava de um jeito insuportável ao imaginar a tristeza dos meus pais se eles soubessem", completou o brasileiro.

De forma conturbada, Mateus deixou o Sporting em 2019 rumo ao West Bromwich, da Inglaterra. Na terra da rainha, o brasileiro conta que viveu sua melhor fase em regularidade.

No entanto, não ficou muito tempo, pois o clube precisou aceitar uma oferta do Al-Hilal, da Arábia Saudita, e decidiu vender o meia-atacante.

Fiquei com medo do que essa nova mudança faria com a minha cabeça, mas era muito boa financeiramente. Conversei com a minha esposa e decidimos aceitar. Não demorou pro declínio psicológico reaparecer. Nem sempre existe uma causa específica, acho que é mais o conjunto de uma vida inteira, mas, morando em Riad, eu senti falta da minha igreja", revelou.

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"Pedi pra sair do Al-Hilal sem saber aonde ir. Naquela altura, eu não queria ir pra lugar nenhum. Eu não queria nada, não tinha mais prazer em nada, não prestava pra nada. Eu era um nada. Já tinha desistido de jogar futebol", contou o atleta.

Diante disso, Matheus contou que chegou a ter a oportunidade de se transferir para o Corinthians na época. Porém, com seu psicológico afetado, o jogador recuou na decisão e se transferiu para o Al-Wahda, dos Emirados Árabes.

"Colocaram a gente pra morar num hotel de luxo, no apartamento do 19° andar. Até hoje a minha esposa diz que a vista lá de cima era linda. Eu não lembro de ter olhado algum dia pra ela. Pra mim era tudo escuridão e desespero. Eu estava cansado de lutar. Estava cansado de ficar cansado. Eu queria me livrar de tanto sofrimento que eu nem entendia de onde vinha. Tinha noite que eu bebia três garrafas de vinho. Treinei bêbado várias vezes e fiquei outras tantas internado no hospital com hipocalemia, tomando soro pra tratar a falta de potássio no sangue, porque eu não me alimentava, só ingeria álcool", detalhou Matheus Pereira.

"Até que um dia eu abri a janela do nosso apartamento com vista espetacular e só não me joguei porque a minha esposa foi mais rápida. Ela me agarrou, me puxou pra dentro e a gente ficou um tempão chorando abraçado ali no chão da sala, sabendo que não era o fim — nem o meu, nem o do meu sofrimento", completou.

No Cruzeido desde 2023, o jogador conta que realizou um sonho e finalmente encontrou paz.

"O Cruzeiro eu reencontrei mais do que paz. Eu me reencontrei. Parece bobagem, mas não é. Porque no meio da escuridão, e eu andei muito por lá, a coisa mais difícil que tem é a gente se reconhecer. E isso piora demais uma situação que já está ruim. A gente não sabe mais quem é", explicou.