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Festival Virada Salvador ignora público LGBT, deixa artistas do segmento de fora do Réveillon e gera polêmica

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Nomes como Anitta, Ludmilla, Gloria Groove, Pabllo Vittar, entre outros voltados ao público LGBT não estão na programação  |   Bnews - Divulgação Reprodução / Instagram @viradasalvador
Tiago Di Araújo

por Tiago Di Araújo

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Publicado em 20/09/2022, às 10h47



Na última quinta-feira (15), o prefeito de Salvador, Bruno Reis, divulgou as atrações que vão se apresentar no Festival Virada, festa de Réveillon da capital baiana. O evento volta a ser realizado após dois anos por causa da pandemia de covid-19 e segue o formato dos anos anteriores, com cinco dias, entre 28 de dezembro e 1º de janeiro, na Arena Daniela Mercury, no bairro da Boca do Rio.

Na programação, nomes importante da música nacional e referências baianas, a exemplo de Bell Marques, Durval Lelys, Wesley Safadão, Gusttavo Lima, Saulo, Leo Santana e muitos outros. São mais de 30 atrações ao todo. A grande novidade ficou por conta de Claudia Leitte, que vai comandar a contagem regressiva para chegada de 2023, ao invés de Ivete Sangalo, como aconteceu nas edições anteriores.

No entanto, apesar de apresentar como novidade também os principais nomes do piseiro, gênero que vem dominando o Brasil, como Vitor Fernandes, João Gomes, Zé Vaqueiro e Nattan, a programação deixou de fora um dos principais segmentos na atualidade: os artistas voltados ao público LGBT.

Apesar do destaque nacional e internacional, nomes como Anitta, Ludmilla, Gloria Groove, Pabllo Vittar, Luísa Sonza, Iza, Jão, Liniker e outros ficaram de fora da grade do Festival Virada Salvador. A decisão de não incluir artistas que atrai uma massa do público LGBTQIA+ tem sido vista com maus olhos por foliões soteropolitanos.

fabricio capinam
Fabrício Capinam - publicitário (Reprodução / Acervo Pessoal)

Para o publicitário Fabrício Capinam, a "exclusão" desses artistas não é novidade. "Isso mais uma vez não é surpresa. Salvador é a capital que só quer lucrar com o público LGBT no Carnaval. Até às paradas são com patrocínios mínimos. Temos grandes nomes que arrastam público e possuem cacife para estar no palco do Festival da Virada", afirmou.

Apesar de Claudia Leitte ter grande parte do público na comunidade, o publicitário diz não se sentir representado com a artista. "Nos últimos dias esteve em um escândalo, ressaltando seu casamento heteronormativo", disse ao lembrar da polêmica envolvendo a artista.

Segundo ele, o público LGBTQIA+ terá que se contentar com apenas uma atração em toda grade como representante. "Resumidamente, os LGBTs só sentirão abraçados em um único dia, no dia 1°, com o show de Daniela Mercury, mulher bissexual que sempre defendeu e fez coro para as lutas e anseios da população LGBTQIA+".

O discurso é reforçado pelo jornalista Neison Cerqueira, que enxerga a ausência dos artistas do gênero como uma atitude separatista. "É muito difícil entender e aceitar que artista como como Pabllo Vittar, Glória Groove, Anitta, Ludmilla, que são um estouro de talento e também de representatividade para o público gay estejam de fora de um dos maiores festivais de Réveillon do Brasil".

"Quando essa porta “se fecha”, fica evidente que vivemos em uma sociedade separatista e carregada de preconceitos. Uma festa que é pública e com o alcance que tem, como é divulgada pela própria prefeitura, a gestão municipal poderia dar uma resposta maior para essa população, que não é uma minoria, ter também quem a represente no palco", frisa.

Em entrevista à reportagem do BNews, o designer e radialista Robson Cobain acredita que falta evolução dos gestores para lidar com a diversidade. "Eu acho um verdadeiro absurdo, visto que deveria ser um evento para contemplar todos os públicos. Acho que quem organiza esses eventos deveria ter uma cabeça mais aberta para a diversidade. Salvador é uma cidade que ainda precisa dar uma evoluída quando o assunto é eventos públicos que abracem realmente o público LGBT".

Falta de oportunidade aos artistas LGBT regionais
E a questão vai além. Não só a ausência de grandes artistas, que da comunidade LGBT, mas sim a falta de oportunidades ao representantes do público na música baiana. Ativista, Genilson Coutinho chama atenção para necessidade de oportunizar às vozes regionais.

"O que a gente sente falta é da inclusão dos artistas LGBT na programação. Temos uma programação muito engessada, que todo ano se repete da mesma. Você não vê por exemplo, uma Aila Menezes, que é uma mulher bissexual, você não vê o Di Cerqueira, que é o rapper negro e gay, não vê o Coletivo Afrobapho, nem a Nininha Problemática. A gente fala tanto da diversidade na cidade, mas a gente não consegue ver essa inclusão dessas pessoas nesses espaços que a gente precisa ocupar para fortalecer as nossas lutas".

Coutinho destaca que, além das pautas de defesa da comunidade no dia-a-dia, é necessária uma atuação da prefeitura em dar essa oportunidade aos artistas LGBT. "Mesmo a prefeitura tendo um centro de referência, com algumas políticas de defesa da pauta LGBT, mas nesse momento a gente vê nesses espaços. A única referência é Daniela Mercury porque já é uma referência. Então, você não consegue ver essa diversidade, a gente não está lá no palco. Não queremos estar apenas na plateia, porque a galera vai, mas queremos ser protagonistas também no palco", afirma.

"Mesmo a gente estando incluso no plano de cultura do município, mas na hora de fomentar a economia desses artistas, de dar um trabalho a esses artistas, não consegue fortalecer. Então, precisamos pensar nessa diversidade que a prefeitura tanto fala, mas cadê o colar com a gente nesse momento em que essas pessoas precisam trabalhar?", completa com o questionamento.

Conselho Municipal LGBT
A reportagem do BNews buscou um posicionamento do Conselho Municipal LGBT, sobre uma possível atuação do órgão para viabilizar a presença desses artistas em eventos da prefeitura, como o Festival Virada. Em resposta ao questionamento, o Walter Pinto Júnior afirmou apenas que a pauta "não está dentre as ações do conselho".

O que diz a prefeitura de Salvador?
A reportagem do BNews procurou a prefeitura de Salvador, através da Saltur (Empresa Salvador Turismo), responsável pelo Festival Virada, para um posicionamento sobre o assunto, mas até a publicação dessa matéria, não tivemos retorno. Por outro lado, o órgão informou que as atrações jjá foram todas divulgadas, ficando apenas o DJ Telefunksoul fora do anúncio oficial e que também irá se apresentar.

Caso um posicionamento seja enviado, a matéria será prontamente atualizada.

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