Justiça

O ENEM evidencia a farsa cruel

Publicado em 13/09/2011, às 15h27   Waldir Santos



Na avaliação do ENEM, os 5 melhores colégios de Salvador admitem seus alunos predominantemente por meio de processo seletivo. Há sinal mais evidente do que esse no que se refere à solução para os problemas da educação? Não há, portanto, tanto mérito quanto se pinta, e com isso não pretendo desmerecer as qualidades dos gestores e professores de tais unidades escolares. Afirmo, no entanto, que o mais importante para esse resultado é o aluno que lá se matricula, seja pelo processo seletivo formal, seja pela consciência de que lá a cobrança é mais rigorosa.

Infelizmente seguimos em direção ao abismo natural, perdendo qualidade a cada ano, com as equivocadas medidas governamentais que proíbem a reprovação do aluno sem rendimento, e com a avidez orçamentária que cria estatísticas fantasiosas nos municípios. O nível tem baixado tanto que se perde até o parâmetro para avaliação das poucas escolas que melhoram.

Por mais doloroso e politicamente incorreto que possa parecer, é óbvio, como os franceses, através de Alfred Binet, já sabem desde 1905, que os estudantes devem ser atendidos por seu nível de conhecimento e potencial de aprendizado. A maioria da pedagogia brasileira caminha no sentido oposto. Por que o principal instituto de matemática e algumas das melhores universidades do mundo estão na França?

Muito se fala e se escreve sobre a educação, e é quase unanimidade que todos os problemas serão resolvidos a partir dela. Mas tanto falatório esbarra na falta de coragem de profissionais da educação e governantes, que querem sempre estar bem com a opinião pública ou com o eleitor. Não se faz, em virtude disso, uma análise real, cruel e sincera sobre o problema.

Não podemos continuar torturando os alunos, por mais elevados que sejam os equivocados fins, presumindo um conhecimento que eles não têm, pois o mercado de trabalho será implacável e vai jogá-los no desemprego ou no sub-emprego. Infelizmente eles lembrarão apenas da carinhosa professora, e nunca desse nefasto sistema educacional que destrói as riquezas do nosso País.

Classificar os estudantes por seu nível de aprendizado não é condená-los à humilhação. Ao contrário, é impedir que continuemos desperdiçando os talentos, fruto de aptidões naturais e de esforço e técnica, enquanto os profissionais de outros países invadem nossas vagas de emprego mais desejadas e melhor remuneradas. Os que tiverem maior dificuldade ou base insuficiente devem ter atenção específica e cuidados especiais, para que possam se igualar aos demais em condições e oportunidades no futuro. Em lugar disso, o que vemos é a educação brasileira jogando o despreparo para debaixo do tapete.

Para os que discordam, e certamente aplaudem o rendimento dos colégios campeões, quero lembrar que o que os melhores colégios fazem é exatamente isso, mas de maneira mais conveniente, sem recibo passado.

Coloquemos os alunos dos melhores colégios nos piores, e vice-versa. Isso, apesar de algum prejuízo natural, evidenciará que bons alunos importam mais que bons professores e boa estrutura. É preciso abrir os olhos para entender que o bolo feito pela nossa avó era mais gostoso por que tinha os melhores ingredientes e era feito com mais carinho, apesar de ela não ser graduada em gastronomia e nem possuir uma batedeira.

*Waldir Santos é advogado da União e professor
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Classificação Indicativa: Livre

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