Coronavírus

Prefeito de Xique-Xique relata esforço conjunto para conseguir tanque de oxigênio para abertura de leitos

Reprodução/ Marco Santos / Ag. Pará
Reinaldo Teixeira Braga Filho (MDB), conhecido como Reinaldinho, demonstrou irritação com declaração feita pelo secretário de Saúde da Bahia  |   Bnews - Divulgação Reprodução/ Marco Santos / Ag. Pará

Publicado em 08/05/2021, às 17h58   Marcos Maia



O prefeito de Xique-Xique, na região de Irecê, Reinaldo Teixeira Braga Filho (MDB), conhecido como Reinaldinho, demonstrou irritação com declaração feita pelo secretário de Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, durante entrevista a uma rádio local, sobre o município ser o responsável por viabilizar oxigênio para a abertura de leitos de UTI Covid na cidade.

Braga Filho conversou com o BNews no início da noite da última sexta-feira (8) sobre as circunstâncias que inviabilizam a abertura de novos leitos na cidade para tratar da doença e as dificuldades para providenciar a instalação de um tanque de oxigênio na cidade.

"A gente sabia que os documentos tinham que ser viabilizados através da Fabamed [Fundação da Associação Bahiana de Medicina]- que é contratada pelo Estado -, mas não ficamos em momento algum colocando culpa. A própria Fabamed  fez um ofício falando que ficou Estado, Fabamed e município, todo mundo estava  correndo atrás de tanque [de oxigênio]. Todo mundo sabe da escassez do mercado ", conta.

Na última quarta-feira (5), a Fundação encaminhou um ofício ao prefeito, com cópia ao secretário estadual de Saúde, salientando que "há quase dois meses" estavam à procura de um tanque para viabilizar a abertura da unidade e que os três (Fabamed, Sesab e Secretaria Municipal de Saúde) continuavam realizando tentativas junto às fornecedoras . A reportagem teve acesso ao documento.

Ele salienta que a estrutura segue montada e a Fabamed tem sido solícita na busca por uma solução.

Início

Ele conta que a jornada para implantação dos novos leitos teve início em uma reunião com outros prefeitos da Bahia e o Governo do Estado em 3 de março, véspera da reabertura do hospital de campanha da Arena Fonte Nova, em Salvador. Na época, a Bahia passava por uma fase de recrudescimento da pandemia, com a reabertura de leitos e adoção de medidas mais restritivas para conter avanço da doença.   

“Ao final da audiência, o governador disse que o Estado gostaria de expandir os leitos de UTI pelo interior, que eles tinham até equipamentos para fazer isso.[...] Entretanto, as maiores dificuldades eram de viabilizar espaços adequados para viabilizar equipe médica de intencivistas”, recorda.

O prefeito acrescenta que falou que o Hospital Filantrópico Julieta Viana, localizado no município, teria condições de adequar o espaço em um curto espaço de tempo para abrir 20 vagas - dez de UTI e outras dez de enfermaria. Braga afirma que o governador o orientou a falar diretamente com a subsecretária de Saúde do Estado, Tereza Paim, e com os técnicos da Secretaria Estadual de Saúde (Sesab) sobre o tema.

Vale salientar que, também em 3 de março, o secretário de Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, retornou ao trabalho, ainda em fase de recuperação, após um período internado em virtude da Covid-19. “Ele [o governador] gostou da ideia. Tanto que depois, em entrevista à Rede Bahia ele citou o município de Xique-Xique”, salienta. 

Braga se refere a entrevista dada pelo governador, na véspera da reabertura do hospital de campanha da Arena Fonte Nova, quando fazia uma inspeção no local e falava sobre elevar a oferta de leitos de UTI para evitar um colapso do sistema de saúde. 

"Agora pela manhã, na região de Irecê, o prefeito de Xique-xique se referiu que faria um esforço para tentar, dentro do hospital, abrir leitos. Disse a ele que se conseguisse reunir uma equipe - que é a maior dificuldade -, eu contrato os dez leitos. Ele vai fazer um esforço até amanhã de tentar organizar uma equipe de médicos, enfermeiros e fisioterapeutas", disse durante a transmissão.

Reforma

Braga Filho conta que foi orientado sobre as adequações necessárias e a procurar a Fundação da Associação Bahiana de Medicina (Fabamed).  “A Fabamed é a fundação contratada pelo Estado - não pelos municípios, não só pelos municípios. A Fabamed tem vários leitos de UTI espalhados pela Bahia, inclusive aqui do lado, em Barra”, afirma. 

O prefeito conta que conversou com a entidade e visitou as instalações montadas na cidade vizinha. Segundo o prefeito, a Fabamed explicou que o Estado ficaria responsável por firmar um contrato com a fundação para que esta cuidasse dos equipamentos necessários e da equipe técnica que atuaria nos leitos.

Braga Filho conta que após contato com José Rodrigues, presidente da Fabamed, uma equipe da entidade esteve no município para auxiliar com orientações. “Olharam nossa planta, solicitaram modificações. Fizemos absolutamente tudo. A Fabamed nos indicou fornecedores para a rede de gases. Contratamos, a empresa veio e fez. Quando terminou tudo, comuniquei ao governador e à doutora Tereza”, conta.

Ele afirma que a Fundação atestou que tudo estava certo, mas alertou que não estavam encontrando tanque de oxigênio para instalar no município. A reportagem teve acesso a um ofício encaminhado pela prefeitura ao governo do Estado em 13 de abril - e protocolado pela Casa Civil três dias depois, em 16 de abril - sobre a situação à época.

"Hoje, a pendência para instalação das UTI's em Xique-xique é o tanque de oxigênio. A Fabamed tem ciência do assunto e também a subsecretária estadual de Saúde, Dra Tereza Paim. Diante do exposto, solicito a especial atenção de Vossa Excelência no sentido de interceder junto aos grandes fornecedores de equipamentos para viabilizar a aquisição de um tanque de oxigênio para a implantação dos leitos de UTI", afirma o documento.

O prefeito conta que dias depois, no dia 18 - um domingo - recebeu uma ligação do governador, na qual ele se comprometeu a falar com a subsecretária de Saúde para que o Estado  tentasse contato direto com a White Martins, umas das fornecedoras de oxigênio do País. Ele conta que posteriormente recebeu uma mensagem de Paim, questionando o tamanho exato do tanque.

“Ela disse que estava correndo atrás. Me passou um contato da White Martin. Eu falei. A Fabamed falou: ‘Olha, não estamos conseguindo. Vamos ver se o Estado consegue emprestado. Eles falando é diferente, eles têm mais poder de negociação’. Ficamos na tentativa. Nos colocaram em contato com empresários da Desenbahia”, diz, acrescentando que os esforços conjuntos sempre esbarravam na ausência de tanques. 

Entrevista

Nesta semana, Vilas-Boas concedeu uma entrevista à uma rádio local de Xique-xique explicando que, no momento, não existia a menor possibilidade de abrir os leitos sem a  existência do tanque de oxigênio. O secretário salientou também que usar cilindros de oxigênio não era uma opção segura considerando o risco de desabastecimento.  

Ele explicou que não haviam tanques disponíveis para aquisição no Estado e acrescentou que a viabilização da rede de oxigênio para garantir o fornecimento seguro à unidade era de responsabilidade da prefeitura, e que, assim que isso fosse feito, haveria o interesse de firmar contrato para abertura das vagas de UTI. 

"O responsável por viabilizar o oxigênio da unidade é a prefeitura. Assim que a prefeitura conseguir viabilizar a rede de oxigênio que garanta a segurança, ela pode nos procurar que nós iremos realizar o contrato imediatamente. A gente até ajuda a botar os equipamentos, os monitores, respiradores. Foi uma orientação do governador", afirmou. 

Vilas-Boas destacou que não existe tanque criogênico - para armazenamento de oxigênio em estado líquido - disponível para instalação no Estado da Bahia. "Pode ser que daqui há 15 dias, um mês, algum hospital da região norte seja desativado e seja possível trazer de lá. Mas, hoje, não existe tanque", acrescentou. 

Posteriormente, o prefeito realizou uma incursão durante a entrevista, demonstrando irritação com a fala do secretário sobre o município ser responsável por viabilizar o oxigênio. Na ocasião, e na entrevista ao BNews, o chefe do Executivo Municipal avaliou que o secretário havia “politizado” a questão da abertura de leitos na cidade. 

Na rádio, Braga Filho chegou a dizer que o secretário "estava faltando com a verdade", que ele não havia participado da reunião com o governador sobre a situação. O prefeito também citou cinco encontros virtuais sobre o tema, todos com a presença de Paim.

"Ela e o governador são testemunhas de que o governador afirmou categoricamente: 'Arrume o espaço físico, veja a questão da equipe médica, que equipamentos nós temos. Inclusive o mais difícil que seriam bombas de bombas de infusão'. Em todo momento, as tratativas que tivemos - inclusive aos finais de semana - o oxigênio, o tanque, sempre foi de responsabilidade do Estado", rebateu.

Por fim, Vilas-Boas respondeu dizendo que o oxigênio não é fornecido pelo governo, mas que o ente estava agindo para auxiliar os municípios. "Prefeito, eu não tenho razão para fazer crítica. Estou fazendo uma afirmação técnica no sentido de que o oxigênio não é fornecido pelo governo do Estado. Estamos buscando ajudar os municípios", concluiu.

Tentativa

Braga Filho explica que o município segue mobilizado para viabilizar a abertura das vagas,  e que encaminhou, na última sexta, um ofício ao Ministério da Saúde informando da necessidade de um tanque de oxigênio para viabilizar a abertura de leitos.

Ele explica que o documento busca verificar se, eventualmente, o Governo Federal tem alguma estrutura do tipo disponível ou pode indicar um fornecedor que possa alugar ou vender um tanque para pronta-entrega.

"A dificuldade tem sido muito grande. Estamos consumindo 30 cilindros de oxigênio por dia. É muito. Era o que consumimos antes em uma semana", conta. O prefeito demonstrou receio de uma eventual terceira onda da doença, ou surgimento de uma variante do Sars-Cov-2, que sobrecarregue o sistema de saúde local.

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp