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Promotor expõe testemunha protegida em julgamento de chacina que deixou 17 mortos em SP

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Questionado, o ele minimizou a revelação do nome da testemunha, ainda que sem consentimento dela  |   Bnews - Divulgação Folhapress

Publicado em 22/09/2017, às 06h32   Folhapress


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Em um plenário repleto de familiares e colegas de PMs acusados de participação na maior chacina da história de São Paulo, a Promotoria expôs a identidade de uma testemunha protegida, que não quis comparecer ao julgamento por temer represália.

O nome verdadeiro do homem, que havia prestado informações à investigação sob a condição de sigilo no processo, foi citado pelo menos cinco vezes pelo promotor Marcelo Alexandre de Oliveira no julgamento da chacina que deixou 17 mortos em Osasco e Barueri (Grande São Paulo) em agosto de 2015.

Na quarta-feira (20), Oliveira fez referências à identidade da testemunha protegida de forma indireta. Nesta quinta-feira (21), foi explícito. Questionado pela Folha, Oliveira defendeu a exposição do homem: "Talvez ele fique até mais seguro se alguma coisa acontecer com ele".

A testemunha protegida é tio da mulher do policial militar Thiago Barbosa Henklain, 30, um dos três acusados pela chacina que estão sendo julgados nesta semana –ao lado do PM Fabrício Emmanuel Eleutério, 32, e do guarda municipal de Barueri Sérgio Manhanhã, 43.

No processo, a testemunha protegida foi apresentada pelo nome fictício de Gama. Esse homem disse à polícia, em depoimento formal, ter ouvido acusações contra Henklain em um almoço de família. Ele não quis, porém, repetir à Justiça sua versão porque, segundo a própria Promotoria, dizia ter recebido informações de que comparsas do PM estavam esperando para identificá-lo e matá-lo.

O julgamento dos acusados pela chacina começou na segunda-feira (18) e poderá acabar nesta sexta (22). Segundo essa testemunha Gama, a avó de Henklain teria visto o policial chegar em casa na noite da chacina, às 23h30, muito agitado.

No dia seguinte, teria ouvido a mulher do PM brigar com ele ao reconhecê-lo em imagens de TV matando uma pessoa de camisa vermelha no chamado bar do Juvenal, em Osasco, epicentro da chacina e onde câmeras flagraram os assassinos com os rostos escondidos. Esse reconhecimento teria ocorrido em razão de uma blusa do PM.

Para a Promotoria, essas informações, prestadas a policiais no inquérito, seriam as mais importantes do processo –por se tratar de gente próxima ao policial militar e que o conhecia muito bem.

PROTEÇÃO

Questionado, o promotor minimizou a revelação do nome da testemunha, ainda que sem consentimento dela. Embora a identidade do homem tenha sido mantida em sigilo no decorrer do processo por questões de segurança, Oliveira afirmou que a defesa dos réus havia tido acesso ao nome e que a exposição poderia significar maior proteção à testemunha.

O promotor afirmou ainda que a testemunha se recusou a falar à Justiça também porque poderia haver problemas familiares, já que a mulher de Henklain estaria grávida e ficaria ao lado do marido. Isso, na avaliação de Oliveira, seria a principal razão para a testemunha não falar ao júri, até mais do que eventuais ameaças de morte.

Em 2015, a principal testemunha protegida de chacinas ocorridas em 2013 –também envolvendo PMs de Osasco– foi assassinada a tiros.

INTIMIDAÇÃO

Um outro episódio do julgamento, a cargo da defesa de um dos policiais, foi questionado pela Promotoria. O advogado Nilton Nunes, que defende o PM Eleutério, mencionou o nome e a profissão dos jurados no fim dos debates nesta quinta.

Detalhes sobre os integrantes do júri vinham sendo mantidos sob reserva –sem divulgação a jornalistas. Para o promotor Oliveira, tratou-se de "uma tática baixa, para dizer o mínimo", pela hipótese de intimidação. "Não sei se ele fez de propósito ou de boa-fé. Se estiver de boa-fé, é muito ingênuo, mas é um tremendo ato de irresponsabilidade", disse.

Nunes afirmou não haver nenhuma proibição e que não quis amedrontar ninguém. Disse que apenas tentou ser mais educado "para tratá-los por nome, e não por números". 

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