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"Vai dar a lógica de sempre", diz Otto Alencar ao cravar vitória da chapa majoritária

Imagem "Vai dar a lógica de sempre", diz Otto Alencar ao cravar vitória da chapa majoritária
Em entrevista ao BNews, o senador e presidente do PSD na Bahia fala sobre eleições, crises política e econômica, afaga o ex-presidente Lula (PT), exalta a operação Lava Jato e aponta excessos do juiz federal Sergio Moro  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 29/09/2018, às 11h38   Alexandre Santos


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A uma semana das eleições, o senador e presidente do PSD na Bahia, Otto Alencar, tem uma meta audaciosa: emplacar os 23 candidatos da sigla que disputam cadeiras na coligação proporcional. “Concorremos com dez candidatos a deputado federal e 13 para deputado estadual. Vencer é o resultado desejável”, projeta ele em entrevista ao BNews.

Aliado do governador e candidato à reeleição Rui Costa (PT) e integrante da sigla que nacionalmente apoia o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB), Otto define-se como “um político de centro”. 

“Acho que a razão está no meio, com a defesa que eu sempre tive ao longo de minha vida de uma ação social forte. Você não pode ter um Brasil tão desigual sem programas sociais profundos para acabar com a desigualdade”, diz, para quem a redução das mazelas no Brasil só foi possível graças ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso por corrupção em Curitiba desde abril. “Por isso, Lula não foi esquecido, mesmo preso”, afaga.

Em relação à corrida pelo Palácio de Ondina, diz que Zé Ronaldo (DEM), oponente de Rui, “joga pedras” ao adotar como estratégia recorrentes ataques à gestão do atual chefe do Executivo estadual. “Até terminar as pedras, vai continuar jogando”, ironiza.

Quanto ao líder das pesquisas de intenções de voto Jair Bolsonaro (PSL), descreve o capitão da reserva como “aquilo que há de pior”. “Tanto é que não ficou no Exército”, dispara.

Na conversa, Otto também fala sobre as crises política e econômica, exalta a operação Lava Jato, aponta excessos do juiz federal Sergio Moro e crava que “vai dar a lógica de sempre" ao ver como certa a vitória da chapa majoritária. “O governador eleito elege também os senadores”, opina.

Qual a expectativa do PSD baiano em relação ao número de deputados estaduais e federais que podem ser eleitos no próximo domingo?
Nós estamos concorrendo com dez candidatos a deputado federal. São sete homens e três mulheres. E também 13 [candidatos] a deputado estadual, sendo cinco mulheres e oito homens. Todos os candidatos saem na expectativa de que possam vencer. Vencer é o resultado desejável. Acho que o PSD vai ter um bom desempenho. Não posso dizer a você quantos, em números exatos, porque eleição não é uma coisa exata. Altera muito. Antes, durante e na hora do voto. Espero que todos possam ser eleitos.

O PSD é um partido relativamente novo, criado em 2011. Como o sr. avalia o desempenho da sigla em nível estadual nesse período?

Nas eleições que disputamos, nós sempre tivemos um bom desempenho. Deputadas estaduais perdemos porque duas [mulheres], que saíram candidatas a prefeita. Mas o partido cresceu em número de vereadores, perfeitos. Deputados estaduais, nós temos nove hoje, e [deputados] federais, temos cinco. Então, o partido tem tido um bom desempenho nas eleições que disputou. Nós estamos na terceira eleição —2012, 2014, comigo, e 2016, para prefeito. É a quarta eleição que nós estamos disputando.  

Nos bastidores, as movimentações para a sucessão de 2020 já começaram. O PSD já está se articulando para a disputa?

Nós estamos bem organizados na maioria dos municípios da Bahia, inclusive com diretórios, e não com comissões provisórias. Estamos lutando para em cada município ter um diretório para dar à militância fortalecimento da representação municipal. Eu acho uma coisa que deslustra a imagem de um partido é estar trocando comissão provisória por questões de ordem pessoal ou imediatista. Por isso, estou estimulando que se formem os diretórios municipais, com militância e seus membros participando.

O candidato da oposição Zé Ronaldo tem feito críticas frontais à gestão do governador Rui Costa, sobretudo nas áreas de educação e saúde. Como o sr. avalia a estratégia do adversário?

É o estilo dele, eu respeito. Ele está equivocado em muitos temas. Mas, como é oposição e resolveu jogar pedras, até terminar as pedras, vai continuar jogando. Acho que o Rui tem sido um bom governador. Não é fácil governar na crise. E, na crise, ele se desempenhou muito bem. Poucos fariam melhor do que ele: administrar a Bahia, um estado difícil de ser administrado, numa crise como essa. 

A pesquisa Ibope mais recente mostra Jaques Wagner na liderança na corrida pelo Senado, com 43%, e Irmão Lázaro e Angelo Coronel tecnicamente empatados, somando 26% e 22%, respectivamente. O sr. acredita  ser possível uma dobradinha entre Wagner e Coronel?

Vai dar a lógica, como sempre deu. O governador, eleito, elege também os senadores. Essa lógica vem de muito tempo. Só tem uma exceção na história da Bahia, quando Waldir Pires (1926-2018) disputou eleição [de governador] com Lomanto Júnior. Lomanto ganhou e Waldir, perdeu. O candidato a senador de Waldir, que era Josaphat Marinho, se elegeu. O vice de Waldir, Orlando Moscoso, se elegeu. 

Em nível estadual, o sr. é aliado do governador Rui Costa, cujo espectro político é de esquerda. Nacionalmente, porém, pertence a uma sigla que apoia o presidenciável tucano Geraldo Alckmin, historicamente de direita. Pode-se dizer que as ideologias partidárias atualmente só ficam na teoria?

A cada dia que passa, ficam mais claras as posições políticas dos políticos. Vai ficar claro quando acabarem as coligações proporcionais, que começam agora em 2020. Já não vai ter proporcional para vereador. Em 2022, também não vai haver proporcional. Aí você vai enxugar o número de partidos. Vão sair de 30 e tantos para seis, oito partidos. E aí você vai ter uma clareza maior do que cada um defende. Eu, por exemplo, sou um político que defende a posição de centro. Acho que a razão está no meio, com a defesa, que eu sempre tive ao longo de minha vida, de uma ação social forte. Você não pode ter um Brasil tão desigual sem programas sociais profundos para acabar com a desigualdade. Por isso, Lula não foi esquecido, mesmo preso. Porque ele foi um presidente da República, e eu o apoiei em 2002, que avançou muito nos programas sociais.

Basta ver a Bahia, por exemplo. Ele trouxe cinco universidades federais, 30 escolas técnicas, o Fies sem aval, o Prouni, o Pronatec, o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida; o Luz para Todos, o Água para Todos. É por isso que ele não foi esquecido. Porque foi o presidente da República que avançou na área social para acabar com a desigualdade. E, mesmo assim, preso, no cárcere, não foi esquecido. 

O Partido dos Trabalhadores e aliados de Lula consideram injusta sua condenação. Para o sr., trata-se de uma prisão política?

Considero política e sem provas materiais. Sempre considerei. No Senado eu discursei sobre isso, com consciência, porque li todo o processo em Brasília. Acho que não se achou uma prova material. Só suposições. É crime eu querer comprar uma cobertura? Digamos que me ofereçam uma cobertura na Vitória, na Mansão Wildberger. A cobertura custa R$ 15 milhões. Então, o dono me chama para olhar a cobertura. Eu vou lá, olho, entro, tiram foto minha, mas eu não fico com a cobertura. Gostei, minha mulher gostou, mas eu não comprei. O apartamento não é meu. Foi o que aconteceu com Lula. Ele teve vontade comprar? Teve. A mulher dele [Dona Marísia Letícia] teve?  Teve. Mas ele não comprou, e aí? É uma coisa da suposição, sem a prova material. Agora, está solto o Aécio [Neves], com prova material. Está solto o [Rodrigo da] Rocha Loures, que carregou aquela mala pra Temer. Tem muita gente que cometeu crime com prova material e que está candidato. [Fernado] Collor, candidato em Alagoas, e o Lula está preso. Esse é o contraponto que o povo faz. Não quero dizer que ele não tenha errado administrativamente.

Em sua opinião, a escolha de Fernando Haddad como o plano B do PT foi uma saída acertada?

A escolha do PSD foi o [Geraldo] Alckmin. Eu não voto no Alckmin, fui contra. Diante disso, esperei aqui a decisão do grupo do qual eu sou aliado. Escolheram Haddad. [Jaques] Wagner resolveu ser senador. Haddad foi talvez o melhor ministro da Educação da história recente do Brasil. Tirando Anísio Teixeira, lá no passado, não lembro de outro. Você vai dizer: ‘Não foi um bom prefeito de São Paulo’. Ninguém, nenhum petista foi bom em 2016. Porque estavam no auge da crise     do governo Dilma Rousseff. Até os melhores pagaram o preço. Ele não foi um mau prefeito. Só que o partido dele estava atolado nos problemas com Dilma Rousseff.

É só você olhar o quadro aqui na Bahia. O governador Rui Costa, o ex-govenador Wagner, o PT, dono do poder, e, em 2016, o PT fez aqui na Bahia 39 prefeitos, o PP fez 66 e nós [o PSD] fizemos 83. Porque estavam julgando os erros administrativos da presidente Dilma e que a grande imprensa nacional exarcebou bastante.

Em meio à polarização do atual cenário político do Brasil, o sr. consegue enxergar uma saída no curto prazo?

É um momento que o Brasil talvez já tenha vivido antes. Parecido com 1989, quando o Collor se elegeu presidente da República, mas ninguém esperava. Talvez o [Jair] Bolsonaro seja um figurante, um personagem que surgiu agora, um arauto defensor da extrema direita com conotação de reformista, na verdade —mas não vejo nenhum projeto dele nesse sentido. No momento que o Brasil vive, em que o governo federal não atua para dar segurança aos seus habitantes, ele vem com essa mensagem de prender e punir, ou seja, ele passa essa imagem que, sendo militar reformado e ao lado dos militares, vai resolver o problema das drogas e da violência. Se resolvesse, já teria resolvido no Rio. Não resolveu. O caminho é outro. O caminho é diminuir as desigualdades sociais. Na hora em que o filho do casal, da favela, do mocambo, no interior, na caatinga, no serrado, vislumbrar o futuro, como tem o futuro das pessoas economicamente mais fortes, ele não vai fazer essas pcoisas, nem serão utilizados para isso. Acho que o caminho dele de violência, bala, discriminação contra minorias, querer fazer um apartheid racial no Brasil, como se o nosso país não fosse tão miscigenado como é, ele se julga por talvez ter origem europeia, como um ser superior, ele não é um ser superior.

O presidenciável Jair Bolsonaro, líder nas pesquisas de intenção de voto, é tido, como o sr. mesmo mencionou, como um candidato de extrema direita. Caso ele seja eleito, isso não representará um risco à democracia? Na esteira dessa escolha, é possível os militares reeditarem um novo golpe, tal como em 1964?

O Exército tem grandes oficiais generais, coronéis que têm uma mentalidade democrática. Você não pode querer tirar o Exército pelo Bolsonaro. Eu convivi com vários comandantes militares democráticos, cultos, respeitosos, que querem a democracia. Pelo amor de Deus, não compare a postura do capitão reformado Jair Bolsonaro com a postura dos homens do Exército. São homens decentes, que não usam essa linguagem chula, agressiva, de palavrão. Não. Pelo contrário. Acho que é um equívoco querer rotular o Exército pelo Bolsonaro. Bolsonaro talvez seja o rebotalho do Exército, aquilo que há de pior. Tanto é que não ficou no Exército.

Aliados do ex-presidente Lula têm repetido a tese de que a operação Lava Jato esfriou após a prisão do líder petista. Como o sr. avalia o trabalho da força-tarefa?

A Lava Jato continua, mas não na mesma intensidade. Agora mesmo, prendeu-se aí o ex-governador do Paraná [Beto Richa] e o irmão dele. Houve um momento em que ela estourou muito escândalo. Estão mais pontuais. A Lava Jato é uma operação positiva, puniu muita gente. Tem muita gente aí respondendo a processo. Fez quase que uma geral, mas não parou a corrupção em Brasília. O processo de corrupção em Brasília continua o mesmo. Cada gabinete de cada agência, de cada ministério, é um centro de traficância. Só para no momento em que diminuir o tamanho do Estado. Não parou. O tráfico de influência em Brasília continua a mesma coisa.

Como avalia a atuação do juiz federal Sérgio Moro?
Com muitos acertos e com alguns erros, inclusive com o [ex-] presidente Lula. O erro que ele cometeu ao grampear a [então] presidente Dilma e o Lula. O erro que ele cometeu ao acusar alguns senadores, que depois foram absolvidos. O [ex-procurador-geral da República] Rodrigo Janot errou também. Todo mundo erra. O juiz erra na sentença. O Ministério Público erra. Tem muitos acertos. Mas o juiz Sergio Moro cometeu alguns poucos excessos. 

Além de ser tachado de parcial, Moro é apontado como 'amigo' do senador Aécio Neves, com quem até já posou para fotos descontraídas. O que o sr. acha desse tipo de relação?

O estado do Paraná é governado pelos tucanos há muito tempo. Ele sempre teve uma relação muito forte com os tucanos. Pode ser que, nesse nível, ele teve alguma influência para de alguma forma penalizar adversários [do partido].

O sr. acha que, se eleito, Fernando Haddad concederá indulto ao ex-presidente Lula?

Ele disse que não, que é contra indulto, porque Lula não quer indulto. Lula quer ser julgado por uma instância superior, o STJ, para mostrar a inocência dele. Ele é o único ex-presidente do Brasil vivo acusado e preso. Fernando Henrique foi acusado, não foi preso. Sarney, centena de vezes acusado, nada. Collor, a mesma coisa. Dilma também. Tem quatro ex-presidentes vivos aí que estão soltos e que tiveram acusações semelhantes às dele. Só que ele não teve direito de ser julgado nem no STJ, que é uma corte maior, nem no STF. Na minha opinião, ex-presidentes da República deveriam ser julgados nas cortes superiores. Porque tanto faz bem como contraria muitos interesses. 

Nos últimos anos, o Judiciário tem sido alvo de severas críticas tanto por suas decisões quanto por conceder benesses a seus membros, a exemplo do auxílio-moradia. Como o sr. vê essa questão?

O Brasil não está com déficit fiscal por causa do Judiciário. O déficit fiscal que o Brasil tem foi má gestão, corrupção dentro de empresas como Petrobras, Eletrobras, ministérios. Não acho que deva-se avaliar um colegiado com tanta gente correta, direita, decente, como é o Judiciário, e nivelar todo mundo por baixo. Um juiz erra, a corte toda errou? Não. Vão dois jogadores jogar, um comete um pênalti, tem que penalizar o time todo? Todo lugar tem santo e tem demônio. Até no Vaticano tem. Estou falando pelo comportamento profissional. Todo juiz, ao contrário do que muita gente pensa, trabalha muito, tanto no seu ambiente de trabalho como na sua residência. 

Como o sr. avalia as reformas implementadas pelo governo Michel Temer?

Votei contra a reforma trabalhista. Votei contra a mulher parturiente, grávida, trabalhar em ambiente insalubre, que é um absurdo. O trabalho intermitente, que eles ficaram de resolver com medida provisória, não resolveram, o que é um outro absurdo. Você tá pensando que o trabalhador da iniciativa privada, com a reforma trabalhista, vai conseguir contribuir 35 anos para se aposentar? Esqueça! Vão fazer o contrato dele no pico da necessidade. Parou, até logo! Quando voltar o Natal, eu lhe chamo. Quando voltar o Carnaval, eu lhe chamo. A reforma trabalhista foi feita para país de primeiro mundo, com todo mundo de nível superior. Querem aplicar uma legislação que está num país de primeiro mundo, de alto nível de escolaridade, no Brasil. Não dá!

Há saída para a atual crise política e econômica? 

A saída é fazer a economia girar, fazer a economia circular. A política do Michel Temer com o Henrique Meirelles é uma política monetarista, de trabalhar em cima de números. A taxa de juros, a Bolsa de Valores e a inflação. Mas o dinheiro não circulou. Por isso, os empregos não saíram. O Estado só avança quando o dinheiro circula. Teve uma crise parecida no governo Lula, que ele chamou de marola, e ele fez o dinheiro circular. O dinheiro não está circulando, está preso. 

Uma dos temas centrais das campanhas, a segurança pública tem apresentado números cada vez mais alarmantes, sobretudo no Nordeste. Como atacar os principais problemas da área e reduzir esses índices?

Em primeiro lugar, fortalecer o Exército para fiscalizar bem a fronteira de terra. Fortalecer a Guarda Costeira para fortalecer a fronteira de mar. E a Aeronáutica, com fronteira de ar. Tem que investir muito para dar condições logísticas para fiscalizar a entrada da droga no Brasil. Nós não produzimos droga. Depois, na inteligência da Polícia Federal em cooperação com as polícias Civil e Militar. Segundo lugar, investir pesado na educação, muito. E, em terceiro lugar, investir na humanização dos presídios, para que o preso não chegue no ambiente que, ao contrário de ser um ambiente para recuperá-lo dos erros que cometeu, seja uma escola do crime, como é no Brasil hoje. Todo tratamento desumano leva a uma subordinação, uma reação. Por isso, o preso vaio para o presídio e sai pior. 

Classificação Indicativa: Livre

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