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Petrobras, as possibilidades de mudança na sua condução

Imagem Petrobras, as possibilidades de mudança na sua condução
Bnews - Divulgação

Publicado em 18/09/2018, às 23h16   Iramaya Soeiro, Lucas Valladares e Manoel Carvalho Gontijo


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O petróleo é uma fonte de energia e uma mercadoria essencial. Mesmo com avanços para a viabilidade de outras fontes energéticas, o petróleo ainda terá peso na matriz energética do futuro. Neste breve texto, pretendemos dar conhecimento ao leitor da situação da indústria petrolífera no Brasil, em especial da Petrobras, tendo como plano de fundo a situação internacional desse setor.

Setor externo: o preço desce, o preço sobe

Não é uma alusão a um novo hit da música baiana, o preço de mercado flutua . O preço do petróleo praticado no Brasil depende de um preço do mercado internacional que é o barril do petróleo chamado Brent, que a referência mais utilizada para transações. 

Mais recentemente, o setor externo trouxe um certo alívio, pelo menos em relação ao preço do petróleo. Com o ano de 2018 se encaminhando para o seu último trimestre, a situação para o mundo do petróleo parece melhor. Entre maio e agosto deste ano, como consta no gráfico abaixo, o preço do barril de petróleo Brent se manteve acima de 70 dólares, patamar muito mais confortável para empresas e governos que dependem das receitas relacionadas ao petróleo. Ou seja, quanto mais caro o preço do petróleo, mais as empresas e governos vão receber. Preços mais elevados também viabilizam novos investimentos, o que traz esperanças para as empresas que prestam serviço no setor.

O preço de 70 dólares por barril não chega nem perto das altas históricas, mas já recuperou bastante, em relação a desvalorização histórica de janeiro de 2016 (US$ 30,70). O preço do petróleo somente começou a recuperar após um acordo explícito entre países produtores, em dezembro de 2016, para reduzir a oferta e elevar os preços.  Um ano e meio depois, esse compromisso se mostrou efetivo, resultando em um crescimento de 32% no preço do barril. Com o preço estável em um patamar mais confortável, em julho de 2018, ficou acertado a volta, gradativa, do crescimento da produção. Tal oscilação de preço afetou a maior empresa do país.

Tempestade Perfeita na Petrobras

O país já atravessava grandes dificuldades após a reeleição de Dilma. Forte acirramento político e deterioração da situação socioeconômica – com agravamento após o impeachment. Mas o setor de óleo e gás esteve em uma tempestade perfeita.

A forte queda nos preços internacionais do petróleo, no final de 2014, somou-se ao escândalo de corrupção entre Petrobras, empresas fornecedoras e agentes políticos. Tudo isso em um momento onde a Petrobras começaria a receber o retorno pelos pesados investimentos realizados no pré-sal. A empresa enfrentava dificuldades de ordem econômica para gerar caixa e problemas de imagem devido a lava-jato.

Ou seja, a empresa estava muito endividada e o preço da mercadoria que ela vende para gerar dinheiro tinha caído vertiginosamente, além da cereja no bolo que é a lava-jato. O arranjo entre Estado e segmentos do setor privado se rompe e a engrenagem para de girar. Sobravam motivos para o pessimismo. A companhia teria que se desfazer de ativos para pagar dívidas.

Já em 2018, após a venda de parte do seu patrimônio, forte contração nos investimentos e uma política de preço de combustíveis e derivados que tinha objetivo de aumentar o retorno para a companhia, a empresa parece em uma posição mais confortável, com o seu endividamento já abaixo do projetado para o final do ano. É claro que isso não vem sem consequências para toda a sociedade.

Os novos patamares “aceitáveis” para a gasolina e diesel

A recuperação parcial dos preços do petróleo ajudou a Petrobras. Ela passou a ajustar diariamente o preço nas refinarias do país seguindo as flutuações do Brent. Os aumentos foram para as bombas de combustível dos postos e para os lares (com o gás de cozinha). A gasolina, por exemplo, em uma média nacional de preços, custava em agosto de 2017 18% a menos do que em agosto deste ano.

A Petrobras foi criticada pela sua atuação, tanto pelos repasses ao consumidor  quanto pela venda de parte do seu patrimônio. O petróleo é de extrema importância para o desenvolvimento industrial do país e para o bem-estar da população. Por ser um recurso estratégico e fundamental para a atividade econômica, não se deve pautar uma política de preços que desconsidere a realidade social do consumidor. 

Mesmo que seja necessário reduzir o endividamento da maior empresa petrolífera do país, são realizáveis diretrizes que permitam a criação de caixa para a companhia e a redução do endividamento. Mas a questão é o horizonte de tempo para se conseguir tais objetivos. Se a meta de redução da dívida for estabelecida em um prazo menor, maiores serão as vendas de patrimônio e os repasses aos consumidores. Para 2019, os parâmetros aceitáveis para a companhia atuar serão definidos em poucos dias, nas urnas.

1 - A Petrobras não tem o poder de influir no preço, já outras empresas e países tem.

2 - Ou seja, existem empresas e governos com capacidade de influenciar fortemente no preço internacional. Assim foi feito, entre os países produtores da OPEP e a Rússia.

3 - Antes da política de ajustes do preço, a Petrobras havia segurado os preços anteriormente, em períodos de petróleo caro. Ela teve prejuízo por causa disso.

* Iramaya Soeiro – Pesquisadora do Núcleo de Estudos Conjunturais da UFBA (NEC-UFBA) e graduanda em economia pela Faculdade de Economia da UFBA.
* Lucas Valladares – Pesquisador do Núcleo de Estudos Conjunturais da UFBA (NEC-UFBA) e graduando em economia pela Faculdade de Economia da UFBA
* Manoel Carvalho Gontijo - Pesquisador do Núcleo de Estudos Conjunturais da UFBA (NEC-UFBA) e graduando em economia pela Faculdade de Economia da UFBA

Classificação Indicativa: Livre

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