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Greve dos professores: inabilidade da prefeitura ou palanque para os esquerdistas?

Imagem Greve dos professores: inabilidade da prefeitura ou palanque para os esquerdistas?
Repórter analisa os argumentos de ambos os lados a respeito do movimento que já dura um mês  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 10/08/2018, às 20h33   Henrique Brinco


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O assunto da semana no noticiário baiano foi o confronto entre Guardas Municipais de Salvador e servidores ligados ao Sindicato dos Professores (APLB-Sindicato). O palco das cenas de agressão foi montado em frente à Secretaria Municipal da Educação, no bairro de Ondina, na manhã da última terça-feira (7). Armas foram apontadas em direção aos trabalhadores, que também foram atingidos por spray de pimenta e gás lacrimogêneo. 

O impasse, que já dura cerca de um mês, abre brechas para interpretações diversas, de ambos os lados. Será que o movimento ainda não acabou por inabilidade política da Prefeitura ou será que os sindicalistas se utilizam da greve como palanque político, faltando apenas dois meses para a eleição? 

No último dia 23 de julho, o BNews publicou uma reportagem assegurando que a greve acabaria no dia seguinte. Este repórter que vos escreve apurou, junto aos sindicalistas e vereadores que apoiam o movimento, que as partes estavam entrando em sintonia. Naquela semana, os docentes pediam reajuste salarial de 12,41% e desceram a proposta para 6,5%. 

Só que, para a surpresa de todos no dia seguinte, a gestão municipal tomou duas atitudes que jogaram gasolina na mobilização. Primeiro, foi anunciado o corte do ponto dos professores. Depois, o prefeito ACM Neto (DEM) disse em um evento que não negociaria com os grevistas. O movimento, com baixa adesão desde o início, começou a ganhar corpo.

A Secretaria Municipal de Educação (Smed) se manteve impassível até agora com a proposta de 2,5% de aumento - que não é aceito pela categoria. A gestão municipal classifica o movimento como "partidário". Políticos ligados ao grupo de Neto acusam, sobretudo, o PSOL e o PCdoB de incitarem os manifestantes. É sabido que essa será uma eleição difícil para os postulantes da esquerda - que vão utilizar qualquer lugar de fala para a autopromoção. E também causa estranheza arrefecimento do sindicato em relação aos professores estaduais...

Um dia antes das agressões dos guardas aos professores, os vereadores Teo Senna (PHS) e Aladilce Souza (PCdoB) trocaram farpas no Plenário da Câmara Municipal de Salvador. O edil acusou formalmente a deputada federal Alice Portugal (PCdoB) de "manipular" a APLB. Aladilce tomou as dores da correligionária e pediu para que a acusação fosse retirada da ata da sessão. Já Alice, por sua vez, disse ao BNews que vai estudar uma ação contra Teo.

Consultado pelo BNews, Bruno Barral disse que "não haverá radicalismo por parte da Prefeitura". Ficaremos na torcida para que essa promessa seja cumprida, porque a imagem de um oficial da Guarda Municipal apontando uma arma para uma professora diz muita coisa. Imagem essa, aliás, que deve ser usada à exaustão no horário eleitoral gratuito. Barral pode até ter razão ao destacar o cunho político da greve - mas a ação dos oficiais descredibiliza, em parte, o argumento. 

Antes de terminar este texto, destaco aqui o depoimento da pedagoga Lusiane Carvalho Da Silva, de 48 anos, dado ao BNews em frente à Câmara Municipal de Salvador, durante o protesto dos professores na última quarta-feira (8). Indagada se o movimento é político, ela fez um desabafo. “Se é político, digo que meu partido é a educação. Não tenho ligação partidária. Tenho vergonha porque nunca participei de nenhuma greve antes na minha vida. Trabalhava em uma escola bonita, mas me transferi para uma próxima ao meu bairro que vive em calamidade pública. Na minha sala tem cinco buraquinhos de rato e dou aula com cheiro de barata no corredor”. Independente de partidarismos, a fala ilustra bem a situação vivida pelos servidores da educação (não só municipal, mas também estadual).

Diante do cenário, fica a pergunta: quem está com a razão? Uma coisa já sabemos: teremos os mesmos protestos na próxima eleição.

*Henrique Brinco é repórter de política do Bocão News e do jornal Tribuna da Bahia, tendo passado por quase todos os principais portais de notícias baianos. 

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