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Não vai acontecer nada com esse sujeito? É isso mesmo?

Imagem Não vai acontecer nada com esse sujeito? É isso mesmo?
Bnews - Divulgação

Publicado em 17/05/2018, às 08h06   Malu Fontes*


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Pelo encaminhamento policial e judicial da coisa, a impunidade, de mais este agressor, parece já certa. O delegado já declarou à imprensa, em entrevista gravada, que “isso aí dá no máximo uma lesão corporal leve”, pois, segundo ele, aquilo tudo no corpo dela, não a incapacitam para o trabalho por mais de 30 dias.

Agora, você aí, que fica sempre acusando de omissas as mulheres que são agredidas por esses vermes e não denunciam, responda aí:

Qual o invectivo policial e judicial que uma mulher tem para cruzar a porta das delegacias, para se expor para o mundo inteiro, para reviver a agressão a cada vez que a imprensa ou as redes sociais falarão de seu caso particular, se o que provavelmente ocorre é isso: autoridades dizendo que “ela chegou aqui toda roxa, mas já estava bem”. E que não vai dar nada, no máximo uma lesão leve (que não leva ninguém para a cadeia), que viu “Filipinho” e os irmãos crescerem?

Homem que bate em mulher nesse país só comete coisa grave, e olhe lá, quando a mulher morre, de tiro ou pancada.

Fiquem atentas, Claras da vida, e famílias das Claras da vida: um macho violento que já lhe bateu uma vez, vai lhe bater inúmeras. E como o delegado mais próximo talvez não veja nada demais nem de mais em seu corpo ou em sua cara deformados de marcas e pancadas, saia, saia sozinha dessa história. A vida é sua e você só tem uma. Mire-se no caso dessa Clara, pois somos todas Claras. Eles vão continuar batendo. Não faça pacto de silêncio com esses imbecis. Faça pacto de barulho e de cumplicidade com seu círculo familiar e afetivo. Rompa o silêncio e o ciclo vicioso. As autoridades pouco farão por você. Ah, ele tá proibido de se aproximar dela, por lei? Sei. Mas diga aí: quantos vadia você conhece de homens que, mesmo com medidas protetivas, mataram as mulheres? Ah, mas aí ele vai preso. Talvez vá, é verdade. Muitos estão soltos. Mas há um aspecto mais importante que a prisão nesses casos extremos: as mulheres mortas não ressuscitam, né? Melhor não contar com essa opção de desfecho, da punição deles ao após matarem. Continuar viva e fisicamente preservada é a meta.  

LESÃO CORPORAL LEVE?

* Malu Fontes é professora na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e mestre e doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas.

Classificação Indicativa: Livre

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