Ciência

Pesquisadores avançam para viabilizar transplante de órgãos de porcos para humanos

Engin Akyurt por Pixabay
Objetivo é realizar transplantes de rim e diminuir a dependência de constantes sessões de hemodiálise dos doentes  |   Bnews - Divulgação Engin Akyurt por Pixabay

Publicado em 31/03/2021, às 15h25   Redação BNews



Pesquisadores brasileiros usam técnicas de edição de DNA e dão passos importantes para viabilizar o transplante de órgãos de porcos para seres humanos. Eles conseguiram remover trechos de material genético que poderiam desencadear rejeições ou causar doenças nos pacientes que receberem os tecidos de origem suína.

O primeiro objetivo dos pesquisadores é realizar transplantes de rim, o que poderia diminuir significativamente a fila de transplantes e a dependência de constantes sessões de hemodiálise por parte dos doentes. O trabalho está sendo coordenado pela geneticista Mayana Zatz e pelo médico Silvano Raia, da Universidade de São Paulo (USP). “Na parte molecular, temos tido bastante sucesso”, diz Zatz a Folha de S. Paulo. 

“Transplantes de rins suínos modificados dessa maneira para babuínos [que são primatas, como o ser humano] já mostraram que é possível uma sobrevida de longo prazo. Os macacos ficaram com os rins por dois anos e meio e foram sacrificados como parte do estudo, sem que isso tivesse relação com o transplante. O procedimento ainda não foi realizado com pacientes humanos em nenhum lugar do mundo, mas há equipes trabalhando para isso, e é um esforço que precisa ser realizado no Brasil também”, argumenta ela.

Os suínos são considerados fontes promissoras para esse tipo de xenotransplante (transplante entre espécies diferentes) há tempos. Tanto o tamanho dos animais quanto sua anatomia são compatíveis com as necessidades de receptores humanos.

Para que o transplante se torne viável, dois tipos de modificação genética são considerados necessários. O primeiro envolve a remoção de três trechos do DNA suíno que provocariam rejeição aguda nos pacientes. Além disso, é preciso extirpar ainda regiões do genoma conhecidas como Pervs (sigla inglesa de “retrovírus endógenos porcinos”).

Em essência, são vírus “fossilizados”, que infectaram os ancestrais dos porcos de hoje e inserem versões de seu material genético no genoma dos animais. É o que o vírus da Aids ainda faz hoje com as pessoas que infecta.

No organismo dos bichos, os Pervs são inócuos, mas há o risco de eles “ressuscitarem” e infectarem outra espécie que receber o órgão transplantado. Tanto no caso dos genes de rejeição quanto no dos Pervs, a equipe já dominou os métodos necessários para deletá-los, usando a técnica de edição de DNA conhecida como Crispr.

O próximo passo será transferir o núcleo das células suínas modificadas para óvulos cujo núcleo foi retirado — na prática, um processo de clonagem — e implantar o embrião assim gerado em fêmeas. Os rins dos filhotes que nascerem a partir desse processo serão testados em sistemas de circulação extracorpórea, para demonstrar que são capazes de realizar corretamente a função filtradora do órgão.

Isso, no entanto, ainda não será suficiente para que a pesquisa chegue ao teste clínico, com pacientes. Para isso, os pesquisadores estão em busca de financiamento para construir a chamada “pig facility”, uma instação em que os suínos seriam criados em condições livres de germes e, portanto, seguras para o transplante. 

Requisitos bioéticos para escolher os participantes

Os participantes da pesquisa seriam pessoas cuja expectativa de vida ficaria maior com o transplante do que apenas com a continuidade da hemodiálise. Além disso, elas receberiam prioridade na fila de transplantes de órgãos humanos caso o procedimento não desse certo. Seria possível fazer o xenotransplante sem retirar o rim ainda funcional do paciente, sendo reversível no caso de algum problema.

Classificação Indicativa: Livre

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