Socorro! A IBCM não pode fechar!

Há 40 anos, Dona Conceição Macedo cumpre uma rotina difícil. Acordar pra cuidar, estancar feridas do corpo e da alma, acariciar com seu imenso coração de mãe crianças e velhos e mulheres agredidas e dependentes químicos e qualquer um que lhe chegue. E ela compra pomadas, lava as roupas, dá providências para o gás que acabou, nina para dormir, sai atrás de quem doe o saco de cimento, uma camisa que não se use mais, um quilo de arroz pra matar a fome que tonteia e deprime. Há 40 anos. 

A IBCM, instituição beneficente que leva o seu nome, cuida e ampara 65 crianças que vivem com o HIV. Mantém 28 casas-abrigo para portadores do vírus e os acompanha na busca dos antirretrovirais, no encaminhamento aos especialistas e no aconselhamento. Sai à noite na orla marítima levando preservativos, lanches e carinho a prostitutas, travestis e transexuais. Com seus proventos de enfermeira aposentada. E com as doações que brotam da generosidade e admiração de quem passa a conhecê-la e acompanha a sua missão.

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Dos órgãos públicos, municipais, estaduais ou federais, nada vem.

Ontem, assistindo à TV, eu a vi chorando. Os 12 mil reais que todo mês pagam os salários de professoras, cozinheira e ajudantes da creche não serão mais pagos a partir de novembro pela empresa que até então assumia esses custos. E as lágrimas que rolavam na sua face de anjo denunciavam: a creche vai fechar!

Pois cá eu tive um estalo.

Nesta campanha eleitoral eu vi candidatos - inclusive à reeleição de cargos no Legislativo e no Executivo - dizerem amar o seu povo, sobretudo os mais vulneráveis, aqueles que encontram em Tia Conça o abrigo, afeto, comida e remédios que, por algum motivo, não lhes chegam às mãos com facilidade se o caminho procurado é a administração pública.

Dos vereadores ao governador, passando pelo prefeito da capital aos deputados e aspirantes ao Senado, todos, sem exceção, dizem poder fazer, uma vez no poder, pela saúde, educação e alimentação dos que mais precisam.

Hoje, a dois dias do dia que milhões irão dizer se acreditam no que ouviram, é uma boa ocasião para que pelo menos dois desses personagens provem, antes, que de fato farão o que prometem fazer.

Afinal, com 12 mil reais Tia Conça mantém mensalmente dezenas de corpos e almas alimentados, cuidados, curados. O valor de cerca de quatro placas de outdoor, dentre as mais de 200 que a prefeitura colocou para anunciar as obras do BRT. Ou 0,09% do preço de um helicóptero que leva e traz o governador na sua lida diária.

Então... Não custa muito, não é?

Portanto, governador Rui, prefeito Neto, que dia poderemos contar com vocês?

*Orocil Júnior é jornalista e voluntário da IBCM