Política

Zé Carlos e seu filho ilegítimo

Imagem Zé Carlos e seu filho ilegítimo
Cláudio busca na Justiça reconhecimento da paternidade  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 27/05/2011, às 20h40   Jota Júnior


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O vendedor Cláudio José Costa Fontoura, 44, passou a adolescência desconfiado de que sua família mantinha bem guardado um segredo sobre ele. Mas, só conseguiu descobrir o mistério em 1988, quando completou 22 anos e ouviu o que garante ser a verdadeira história sobre seu nascimento.

Ao invés do casal Moacir e Perolina Fontoura, como constava no registro civil, seus pais eram outros: uma criada da casa onde morou e o hoje deputado federal baiano José Carlos Araújo (PDT), presidente do Conselho de Ética da Câmara, a quem processa pedindo reconhecimento de paternidade.

A ação corre em segredo de justiça na 5ª Vara de Família, onde se arrasta desde 2004. Além de pedir o reconhecimento de que é filho legítimo do deputado, através de exame de DNA, Cláudio também entrou com pedido de indenização de 2 mil salários mínimos, o que equivale a R$ 1,09 milhão, da qual terminou desistindo posteriormente. Segundo o vendedor, ele só decidiu processar o parlamentar depois de tentar, por 14 anos, uma aproximação com o pai verdadeiro.

História – Foi através de relatos da mãe verdadeira, Uilza, e de amigos e vizinhos, que ele conseguiu montar todo o quebra-cabeça sobre seu nascimento. “Minha mãe era o que se chama de ‘filha de criação’ de Moacir e Perolina. Moacir era contador do Derba, atualmente, Departamento de Infraestrutura de Transportes da Bahia, que mantinha casas para funcionários na sede, no lugar que hoje é mais conhecido como Estrada do Derba”, narra.

De acordo com Cláudio, Iza, como chamavam a criada do casal Fontoura, era uma mulata bonita de 18 anos - daquelas que chamavam a atenção dos funcionários do órgão -, quando se apaixonou por um novo integrante da equipe de Moacir. “Isso foi em 1966, quando Zé Carlos (como ele se refere ao deputado) foi trabalhar lá. Ela levava a merenda para o pessoal e ele ficou vidrado nela”, narra.

Durante um tempo, o ainda aspirante a político, começou a paquerá-la. “Ele era jovem, bem de vida, tinha um Simca Chambord (carro de luxo famoso da década de 60). Aí, sabe como é, rolou um caso. Minha mãe pulava o muro para ficar com Zé Carlos”, conta. Pouco tempo depois, veio a gravidez.

Abandono – Cláudio conta que Iza procurou o amante e falou sobre a gravidez, ainda escondida de Moacir e Perolina. “Quando souberam, disseram que era mentira. Achavam que Zé Carlos jamais teria nada com uma mulata, que era criada na casa. Mas, as filhas do casal sabiam do romance. Daí então, ele sumiu. Até dizem que, quando eu nasci, ele quis me levar. Minha mãe me escondia dele, tinha medo”, afirma.

“Fui registrado como filho por Moacir e Perolina, quer obrigaram Iza a ficar calada, a nunca me contar a história verdadeira. Minha mãe acabou virando minha babá. Eu cresci sem saber de nada, mas achava estranho, porque eu era fisicamente diferente do resto da família. Perolina, por exemplo, era muito branca e de olhos azuis. O neto dela, Maurício, falava direto que eu era adotado. Sempre me senti rejeitado, como se tivesse uma doença”, relembra.

Descoberta – Em 1988, um funcionário antigo do Derba, de prenome Raimundo, que sabia de toda história, perguntou a Cláudio se ele não iria procurar o pai verdadeiro. O vendedor diz ter ficado intrigado com o caso. “Tive certeza de que havia alguma coisa errada e comecei a perguntar ao pessoal do Derba. Um dia, perguntei a meus pais adotivos: ‘Que história é essa de que sou filho de Zé Carlos e de Iza?’", rememora.

Um ano depois de investigar o caso e confirmar a história com testemunhas do romance, resolveu ir procurar José Carlos Araújo, então diretor da Telebahia, a estatal de telefonia do estado. Nessa época, ele havia anunciado sua intenção de disputar uma vaga na Assembleia, pelo grupo político controlado por Antônio Carlos Magalhães, então candidato ao governo baiano.

Encontro - O primeiro contato entre Cláudio e o suposto pai verdadeiro ocorreu no escritório que José Carlos Araújo mantinha no Max Center, na Pituba. “Pedi para a secretária dele me anunciar. Disse que eu era Cláudio do Derba. Ele tomou um susto quando me viu. Falou que não tinha muito tempo, desconversou e me pediu para que voltasse a procurá-lo em 1990, depois da eleição”, relata.

Cláudio diz que procurou o deputado inúmeras vezes ao longo da década de 90. “Eu queria uma ajuda, um emprego, qualquer coisa. Sabia que ele nunca iria me considerar como um filho mesmo. Ficava injuriado, por que ele sempre empurrava com a barriga".

Tribunais – Em 2004, depois de tentar por várias uma aproximação, Cláudio decidiu entrar na Justiça com uma ação de reconhecimento de paternidade. De lá para cá, o processo caiu na vala escura e profunda do Judiciário baiano. “Ele passou a correr de mim”, acrescenta.

Cláudio afirma que, apesar de várias citações, o deputado se nega a fazer o exame de DNA, mesmo após, segundo ele, ter sido insitado por oficiais de Justiça. “A mulher dele sabe da história, o filho e a filha também. Acredito que, através de sua influência no poder, Zé Carlos vem conseguindo fazer o processo ficar parado. Agora, ele diz que aceita fazer o exame, mas só se for em Brasília. Acho isso estranho”, assinala.

“Eu nunca levaria esse assunto ao público, nunca teria entrado na Justiça contra ele. Só queria ter sido ajudado por ele em uma fase difícil da minha vida. Hoje, não espero que ele abra os braços e diga: ‘Meu filho’. Sei que isso nunca vai acontecer. Quero agora é o reconhecimento, os direitos legais de um filho”, afirma.


O Bocão News tentou contactar esta semana o deputado federal para que ele comente o caso, mas não conseguiu. E, como faz em casos que envolvem polêmica, sempre de acordo com as regras do bom jornalismo, deixa o espaço aberto ao parlamentar, para que ele possa explicar o que, de fato, existiu na história contada por aquele que diz ser seu filho.   

Fotos: Roberto Viana e Agência Câmara

* Matéria originalmente postadas no dia 27/05/2011 às 10h

Classificação Indicativa: Livre

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