Política

Rui exonera PM que matou cachorro, mas agressores de jornalista estão nas ruas

Publicado em 06/07/2015, às 11h36   Cíntia Kelly (@cintiakelly_)


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Dois pesos, duas medidas. Um dia após serem divulgadas imagens de um policial militar executando um cachorro a tiros em Teixeira de Freitas, o governador Rui Costa pediu imediatamente a expulsão do mau profissional. Em entrevista a Rádio Metrópole, Rui cravou: "A ação mostra absoluto desequilíbrio. Uma pessoa daquela não reúne as condições de estar vestindo uma farda e portar arma. Imagine um policial daquele em contato com a população?”.

Não foi preciso imaginar muito. Pouco mais de um mês depois disso, o jornalista Marivaldo Filho foi torturado por quatro policiais da 17ª CIPM, em Salvador. Foi esmurrado dezenas de vezes na cabeça, depois, sem se darem por satisfeito, os policiais deram-lhe uma coronhada. Já sem condições de raciocinar, o jornalista acredita ter sido agredido com uma pedra. Talvez sim, talvez não. Pode ser sido uma coronhada ou uma fantada.

Para agravar ainda mais a situação, os policiais o algemaram e o colocaram dentro de uma viatura. Mesmo com a cabeça sangrando, eles deram voltas e voltas até chegarem à UPA de Roma, onde a vítima levou oito pontos sem que as algemas fossem retiradas de seus pulsos.

Por meio de suas redes sociais, Rui Costa pediu apuração. “Não permitiremos em nosso estado intimidações, constrangimento e nenhum tipo de violência contra o profissional ou contra o cidadão que denuncie ato ilícito”, diz trecho da sua postagem. Nada de pedido de expulsão dos quatro envolvidos na brutal e covarde agressão.

Enquanto a morte de um cachorro foi prontamente respondida, a agressão que poderia ter terminado com a morte de Marivaldo Filho, o corregedor da PM, coronel Andrade Neto diz que os PMs poderiam, caso seja comprovado o crime, ser afastado por 60 dias. "Caso seja constatado o crime os policiais ficarão afastados por 60 dias após a instauração de um processo disciplinar”, disse.

Os Invisíveis da periferia

Mas não sejamos corporativistas. Para além de Marivaldo Filho, pessoas imersas na invisibilidade de sua pobreza são violentadas em sua dignidade todo santo dia, mas não encontram espaço na imprensa e nem resposta do Estado.

O garoto Davi Fiúza, 16 anos, despareceu em outubro do ano passado. Uma busca incessante de sua mãe por seu filho em nada resultou. Para Ruth Fiuza, Davi foi levado por policiais militares no Vila Verde, no bairro de São Cristóvão. Do governo, apenas o silêncio.


Davi Fiúza desapareceu, há mais de um ano, próximo à sua casa, em São Cristóvão

Ruth não está só nessa tragédia particular. Outras mães viram seus filhos desaparecerem. Todas elas acusam policiais militares. Ana Lúcia Conceição da Silva não tem notícias de seu filho Mateus, 16, há três anos. Ele desapareceu no bairro do Nordeste de Amaralina. Cleonice Oliveira viu seu filho Jean Carlos Oliveira Silva, 19, há dois anos, desaparecer no bairro de Canabrava. Rildean de Jesus Santos, 19, sumiu há pouco mais de cinco anos. Até hoje Mirian Cristina de Jesus procura por seu filho.

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