Política

Juristas afirmam que 5º mandato de Nilo afronta princípio constitucional

Imagem Juristas afirmam que 5º mandato de Nilo afronta princípio constitucional
Reeleição na Assembleia Legislativa pode sofrer Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin)  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 23/11/2014, às 16h46   David Mendes (Twitter: @__davidmendes)


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Marcelo Nilo se movimenta para completar uma década no comando do Legislativo baiano


Com a certeza de que 48 dos 63 deputados que declararam apoio à reeleição de Marcelo Nilo (PDT), segundo o próprio, a votação para escolha da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), marcada para o início de fevereiro do ano que vem, garantirá o quinto mandato ininterrupto do pedetista.

O PT, que já comanda o Executivo estadual, tenta comandar o Legislativo e garante que a candidatura de Rosemberg Pinto (PT), mesmo com a concretização do poder hegemônico do partido no estado, servirá para oxigenar o parlamento baiano, nas mãos de um político há quase uma década. 

“Acho que é absolutamente inconstitucional qualquer forma de recondução para cargo na mesa diretora. E cinco eleições sucessivas, como no caso da Bahia, é ainda mais grave”, opinou, em entrevista ao jornal A Tarde, o renomado jurista e professor aposentado da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), José Afonso Silva.

Para o especialista, mesmo se tratando de uma nova legislatura, a tentativa de perpetuação na presidência é inconstitucional já que o Artigo 57 da Constituição Federal prevê o mandato dos membros das mesas diretoras da Câmara Federal e do Senado em dois anos vedando a reeleição para os mesmos cargos na mesma legislatura, o que deve ser seguido pelas Assembleias Legislativas e Câmaras municipais.     

Na visão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que baixou uma resolução reforçando o entendimento de que não é possível a reeleição para cargos de direção de tribunais, sem a alternância o poder político é engessado, impedindo que as diversas correntes de opinião participem da direção do Parlamento. Outro questionamento é que o continuísmo favorece a formação de oligarquias que se eternizam no poder, promovendo o clientelismo e o fisiologismo – o que, em tese, alimenta a corrupção política. Daí talvez o apoio dos deputados que já ocupam uma das cadeiras da Alba e preferem a Casa como está, sem mudanças, pelo menos já demonstraram ao assinar a lista que Marcelo Nilo mandou rodar pelos gabinetes.

Para o professor de Direito Constitucional da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Manoel Jorge da Silva, também em conversa com o diário baiano, a Constituição de 1988 visou, ao proibir a reeleição da Mesa, prestigiar os princípios democráticos e republicanos, que atestam a alternância do Poder. Ainda para o acadêmico, a Constituição Estadual feriu o princípio da simetria, ao não seguir a norma de organização dos poderes fixada na Constituição Federal, o que pode gerar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) proposta pelo procurador-geral de Justiça, partidos ou um parlamentar - esse último mais improvável.

Como o próximo governador Rui Costa (PT) já externou que não se meterá na eleição, as chances de um petista presidir o Legislativo são mínimas. Em 2015, o Executivo, que tenta demonstrar ares de “novo”, contará com um Legislativo “velho”, mas, pelo menos, com Marcelo Nilo, as deliberações prioritárias na Alba continuarão a ser sempre as de interesse do Executivo estadual, como vem ocorrendo há oito anos. Neste caso, é melhor o "muro", com a garantia da "governabilidade", já que, pelo seu histórico, a Assembleia Legislativa da Bahia sempre foi comandada por um fiel escudeiro do governador.


Publicada no dia 23 de novembro de 2014, às 08h46

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