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Servidores em greve acampam na porta da Prefeitura de Canarana

Beavi/Sertão Baiano
Salários atrasados é a motivação dos profissionais de saúde e educação; vereadores falam em CPI e impeachment  |   Bnews - Divulgação Beavi/Sertão Baiano

Publicado em 28/08/2014, às 06h42   Daniel Pinto / Sertão Baiano (Twitter: @dspinto99)


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Desde a semana passada, servidores da Educação, Saúde e Limpeza Pública do município de Canarana, norte do estado, paralisaram as atividades e acamparam em frente à Prefeitura, no Centro da cidade. Os funcionários cobram o pagamento de salários atrasados, melhores condições de trabalho e transparência da gestão municipal com os gastos públicos. De acordo com Dina Paula, técnica de Enfermagem lotada no Hospital Municipal, até o meio-dia desta quarta-feira (27), os servidores estavam com vencimentos de julho em atraso e sem perspectiva de receber pagamento referente ao mês de agosto. “O sindicato realizou várias reuniões com os representantes da Prefeitura, mas eles nunca cumprem as promessas. Perdemos a confiança na gestão”, desabafa. Em conversa com a reportagem do Sertão Baiano, Arlete Seixas, servidora da Saúde há 26 anos, relatou o seu drama particular. “Estou com contas atrasadas e passando dificuldades. E o pior é que as contas não param de chegar. Quem vai arcar com esses juros?”, questiona.


A crise na Saúde em Canarana ficou ainda mais crítica com a adesão dos servidores dos dois Postos de Saúde que atendem os moradores da sede. Além disso, segundo relatos de testemunhas, o clima ficou mais tenso após ameaças de advertências e demissão de trabalhadores, além do uso da força para desocupar a entrada da Prefeitura. “Mandaram recado dizendo que iriam cortar ponto e até mesmo nos transferir para a zona rural, caso não desistíssemos do movimento. Também chegaram boatos de que a Polícia iria nos tirar daqui, como se fôssemos marginais”, afirmou Selson Ricardo, técnico em Enfermagem.


Falência total da gestão

Segundo o vereador Marcelo Inocêncio (PT), a situação “calamitosa” se repete na área da Educação: desde a última terça-feira (19), as 19 escolas e creches do município estão de portas fechadas ou funcionando de forma precária. “Os salários estão atrasados, existem problemas com o transporte escolar, as unidades estão em péssimo estado de conservação e ninguém toma providências”. O argumento é endossado pelo vereador Ademilton Barbosa (PT), que também pertence ao mesmo partido do prefeito Reinan Oliveira. “O que falta é gestão! Infelizmente, a Administração Municipal perdeu o rumo. A Prefeitura é como uma empresa, que pode quebrar se não houver uma boa gestão. E, neste caso, estamos falando em falência total”.

Durante bate-papo com a reportagem do Sertão Baiano, o professor Lindobergue Bastos dos Santos, representante da APLB-Sindicato, admite que está com salário em dias, mas que a categoria docente permanece fora das salas em solidariedade aos demais trabalhadores em Educação. “Decidimos, em assembleia geral, que só voltaremos depois que a situação de todos os servidores for resolvida. O professor é apenas uma peça desta estrutura. Sem funcionários de apoio, não há condições de ter aula. Esse problema afeta a Educação de forma direta. Os maiores prejudicados, sem dúvida, são os alunos”, observou.


Na avaliação do vereador Filinto Saraiva (PT), o colapso gerencial em Canarana só será resolvido após a instalação de uma CPI na Câmara Municipal: “temos cinco assinaturas e precisamos de apenas mais uma para dar entrada no requerimento. Acreditamos que, graças à pressão popular, alcançaremos essa meta no início de setembro. Temos que quebrar o sigilo e saber se há corrupção e improbidade administrativa, já que o que está em jogo são verbas carimbadas. Pessoalmente acredito que já há elementos suficientes para pedir o impeachment do prefeito”.

Equação mal resolvida na Educação

Numa tentativa de mediar o impasse entre servidores e poder público, a vereadora Sandra Janete (PTN) se reuniu com o secretário municipal da Educação, Ronaldo Neres, nesta quarta-feira (27), na sede da Prefeitura de Canarana. Durante o encontro, o gestor disse que é preciso ter coragem e sinceridade para “admitir que existe um problema de ordem financeira”. “Temos uma folha que superar a cifra de R$ 1 milhão por mês, sem contar com os outros gastos de custeio, que chegam a R$ 200 mil. Hoje, a verdade é que as despesas superam as receitas”.


De acordo com Ronaldo Neres, a situação é decorrente do número excessivo de profissionais e de decisões administrativas tomadas no início da gestão. “Temos 544 servidores na Educação, entre professores e o pessoal de apoio. É um quadro inchado para nossa realidade. Acredito que a solução é fazer um reordenamento da rede, mas essa medida só é possível depois do final do ano letivo. No começo do mandato, foi tomada a decisão de arcar com três meses de salários atrasados da gestão anterior. Não tenho dúvida de que, logo em seguida, esse montante empregado fez falta para fechar essa equação”.


Na oportunidade, Sandra Janete lembrou que essa é terceira paralisação da Educação apenas em 2014. “Como cumprir o compromisso dos 200 dias letivos?”, arguiu a vereadora. O secretário, por sua vez, jogou a responsabilidade no “colo” dos manifestantes. “Quem faz greve tem a consciência de que é preciso repor as aulas. Sou um homem do diálogo e, em todas as reuniões que participei, sempre disse que é preciso encontrar outra forma de resolver o problema. Na disputa entre servidores e Prefeitura, o alunado é o maior prejudicado”.

Publicada no dia 27 de agosto de 2014, ás 17h03

Classificação Indicativa: Livre

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