Política

Itaipava tinha conta junto com Odebrecht, diz ex-presidente da empreiteira

Publicado em 25/03/2017, às 08h07   Redação Bocão News


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Em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Benedicto Júnior, delator e ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, classificou de "burla eleitoral" o esquema da empreiteira que utilizou a cervejaria Itaipava, do grupo Petrópolis, para disfarçar a participação em doações eleitorais em 2014, segundo o jornal Folha.
A reportagem detalha que o delator batizou o esquema de "caixa 1 travestido". "Era uma burla eleitoral, se é que a gente pode chamar dessa maneira", disse em depoimento no dia 2 de março ao ministro Herman Benjamin, relator do processo de cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, em 2014. A Folha teve acesso ao documento.
A estratégia é classificada de "barriga de aluguel" pelo próprio relator. As siglas que receberam doação da cervejaria foram PDT, PSB, DEM, PT, PMDB e PCdoB. O total desembolsado foi R$ 24,8 milhões via doação oficial. Do total, a campanha de Dilma-Temer recebeu R$ 17,5 milhões.
Um esquema envolvendo Odebrecht e Itaipava usando um paraíso fiscal movimentou R$ 117 milhões, de acordo com as investigações. O dinheiro repassado pela cervejaria a políticos no Brasil era devolvido pela Odebrecht no exterior.
Segundo a Folha apurou, além da estratégia para mascarar a doação, a Odebrecht utilizou a cervejaria para gerar fluxo para seu Departamento de Operações Estruturadas, setor que contabilizava pagamentos de propina.
A empreiteira adquiria notas em reais da cervejaria, que tinha grande quantidade de moeda no Brasil devido aos bares e pequenos pontos de venda espalhados pelo país. O reembolso ao grupo era feito em contas no exterior.
O grupo Petrópolis pertence ao empresário Walter Faria e atuou, segundo Benedicto Junior, como laranja para doar R$ 40 milhões a campanhas eleitorais de 2014.
Os beneficiários eram informados que parte da doação seria feita oficialmente pela construtora e outra parte via um "terceiro""– neste caso, o grupo Petrópolis.
BJ afirmou que a empreiteira gerenciava uma espécie de "conta conjunta" com a cervejaria. Essa "conta", segundo ele, tinha direito a remunerações com taxas similares ao CDI, principal indicador de taxa de renda fixa.
"O que acabou acontecendo? Ele [Walter Faria] tinha interesse em se associar com a Odebrecht em projetos específicos. Achava que a cervejaria já estava no seu auge e a qualquer momento iria vendê-la para uma empresa internacional", contou BJ.
O relato mostra que a operação funcionava como um empréstimo feito pela cervejaria, que seria compensado mais tarde com projetos.
"Qual era a combinação específica? Você [Itaipava] faz a doação em meu nome [Odebrecht], a gente cria uma conta corrente; até que eu converta isso num projeto, eu te remunero por CDI como se você fosse um banco que está me emprestando dinheiro".
"Após pegar esse volume e transformar num projeto, a gente abate e eu me obrigo a que esse projeto em que levo você para ser meu sócio te dê uma remuneração maior que o CDI que o banco te daria. Essa era a combinação genérica que eu tinha com o sr. Walter", detalhou BJ.
O executivo disse ainda achar que "a combinação" com Walter foi feita em 2008, 2010, 2012 e 2014.
O Grupo Petrópolis afirmou, por meio de sua assessoria, que suas "relações com a Odebrecht sempre foram profissionais". Disse também que a Odebecht foi a empresa responsável por construir as fábricas da cervejaria.
Em relação a doações a partidos e políticos, a empresa relata que "todas as transações financeiras foram declaradas e que todas as doações de campanha seguiram estritamente a legislação eleitoral e estão devidamente registradas". A nota afirma ainda que as doações foram feitas por meio de transferências eletrônicas.
O grupo Petrópolis não se manifestou especificamente sobre o relato de que teria vendido notas no Brasil e recebido o reembolso em contras fora do país.
A Odebrecht tem afirmado que não comenta delações sigilosas dos delatores ligados à empresa e que reafirma seu compromisso de colaborar com a Justiça.

Classificação Indicativa: Livre

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