Política

Senadores do PMDB receberam parte de propina de US$ 40 milhões, diz Procuradoria

Publicado em 23/02/2017, às 12h21   Folhapress


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A Polícia Federal deflagrou nesta quinta (23) a 38ª fase da Operação Lava Jato, apelidada de Operação Blackout, que apura o pagamento de US$ 40 milhões em propina a políticos e diretores da Petrobras.
A maior parte dos valores pagos a políticos foi direcionado a membros da bancada do PMDB no Senado, segundo o Ministério Público Federal.
Foram expedidos mandados de prisão a dois operadores financeiros: Jorge Luz e Bruno Luz, pai e filho, lobistas na Petrobras e ligados ao PMDB. Ambos estão nos Estados Unidos e foram incluídos na lista de procurados da Interpol (Polícia Internacional).
Jorge Luz, 73, engenheiro, é considerado por investigadores como "o operador dos operadores".
Ele começou a atuar na Petrobras na época do governo de José Sarney (PMDB), em 1986, segundo o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que o mencionou em sua delação.
Sua proximidade da diretoria da estatal era tão grande que ele estacionava seu carro em vagas reservadas para diretores, segundo contou o ex-senador Delcídio do Amaral, também em delação.
Entre os políticos com quem tinha relação, estão o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), Jader Barbalho (PMDB-PA) e Silas Rondeau, ex-ministro de Minas e Energia, afirmou Delcídio.
Luz e seu filho também foram citados por delatores como Fernando Baiano, de quem é considerado uma espécie de "patrono", e Nestor Cerveró, que o apontou como o idealizador da ocupação da diretoria Internacional pelo PMDB. 
Segundo Cerveró, o lobista considerava que a diretoria seria "um bom filão" para a obtenção de recursos para as campanhas eleitorais do partido.
O ex-diretor admitiu em delação que pagou pelo menos US$ 6 milhões em propina ao PMDB via Jorge Luz, em 2006, para a campanha eleitoral. O repasse, segundo ele, foi acertado em um jantar na casa de Jader Barbalho, em Brasília, com a presença de Renan Calheiros, Paulo Roberto Costa e Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro. 
EXTERIOR
De acordo com a PF e a Procuradoria, Bruno Luz, que tem cidadania portuguesa, está nos EUA desde agosto, já seu pai viajou em janeiro. Amigos da família relataram à Folha que eles estariam morando em Miami, na Flórida.
De acordo com o delegado Maurício Moscardi Grillo, a policia sabia que eles estavam fora desde esta quarta (22), mas "não podia parar a investigação".
Jorge e Bruno Luz usavam contas no exterior para repassar a propina a agentes públicos, na Suíça e nas Bahamas, segundo a Procuradoria. Eles teriam atuado em pelo menos cinco contratos da Petrobras, como na compra de navios-sonda, aluguel de terminais e fornecimento de asfalto.
Segundo o procurador Diogo Castor de Mattos, além das contas no exterior, eles mantinham empresas dentro do Brasil que recebiam recursos de empreiteiras investigadas na Lava Jato, como a Schahin Engenharia.
Pai e filho também mantinham uma relação próxima com o lobista João Augusto Henriques, também apontado pela força-tarefa da Lava Jato como operador do PMDB.
A maior parte da atuação dos dois era feita na diretoria Internacional da Petrobras, diz o procurador, mas também tinha relação com as diretorias de Serviços e Abastecimento. "Era um polvo", afirma Mattos sobre Jorge Luz.
Em despacho, o juiz Sergio Moro ressaltou o "caráter serial dos crimes" e a "atuação criminal profissional" de pai e filho. "O caráter serial dos crimes, com intermediação reiterada de pagamento de vantagem indevida a diversos agentes públicos, pelo menos dois diretores e dois gerentes da Petrobras, em pelo menos cinco contratos diferentes da Petrobras, aliada à duração da prática delitiva por anos e a sofisticação das condutas delitivas, com utilização de contas secretas em nome de offshores no exterior (cinco já identificadas, sendo quatro comprovadamente utilizadas para repasses de propinas), é indicativo de atuação criminal profissional".
Os mandados de prisão preventiva estão sendo cumpridos no Rio de Janeiro. Além disso, a PF cumpre 16 mandados de busca e apreensão. Os dois alvos são investigados sob suspeita de fraude à licitação, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, entre outros crimes. Eles serão levados à PF de Curitiba.
O nome da operação é uma referência, segundo a PF, ao encerramento definitivo da atuação dos dois operadores, e uma alusão aos seus sobrenomes. A reportagem não conseguiu contato com o advogado dos operadores nesta manhã. O PMDB foi procurado, mas ainda não se manifestou.

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