Política

Ao Bocão News, Josias explica destino do polêmico empréstimo aprovado na Alba

Publicado em 07/10/2015, às 15h30   Aparecido Silva (Twitter: @CydoSylva)


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O deputado federal licenciado e secretário de Relações Institucionais do governo do estado, Josias Gomes, viveu um início de semana turbulento com a Assembleia Legislativa apreciando três projetos do Executivo com forte atuação da oposição na Casa. A votação das proposições durou 36 horas e o próprio secretário chegou a ir ao plenário levar “um abraço de agradecimento” enviado pelo governador Rui Costa, que se encontra em viagem oficial pela Europa. Em entrevista exclusiva ao Bocão News, nesta quarta-feira (7), o responsável pela articulação política do governo explica o polêmico projeto que prevê a contratação de um empréstimo de R$ 1,6 bilhão junto ao Bird, o Banco Interamericano de Desenvolvimento.

“Os recursos são para uma série de eventos que o governo quer fazer na saúde na infraestrutura, enfim, uma diversidade de possibilidades que existe e todas essas possibilidades foram amplamente discutidas com a Assembleia e inclusive com a oposição. Não escondemos nada, não temos nenhum motivo para esconder nada do povo baiano”, descreveu.

Durante o bate-papo, Gomes também falou sobre os entraves políticos que lida diariamente e afirmou que não está descartada a possibilidade de um secretário ser liberado do governo para disputar a prefeitura de Salvador.

Assunto que tem deixado os deputados na Alba enfurecidos, as emendas parlamentares que ainda não foram liberadas também foi tratada na conversa. Gomes alega dificuldades econômicas, mas diz que o governo estuda entregar máquinas agrícolas e veículos escolares para os deputados como forma de compensar a falta do repasse.

Confira a entrevista na íntegra:

Bocão News - Secretário, qual avaliação que faz do embate ocorrido na Assembleia Legislativa da Bahia na votação dos três projetos do governo estadual, em uma discussão que o senhor chegou a intervir diante da resistência da oposição?

Josias Gomes - Foi positivo. Os três projetos versavam sobre assuntos diferentes, não tinham nenhuma relação entre si, mas que tinham forte impacto no estado. À bancada do governo, nós tomamos a iniciativa de explicar os projetos antes e ela tinha muita consciência da importância de cada um dos projetos para o governo. Essa é uma prova da relação nossa com a Assembleia de que ela é positiva. Um fruto dos que esperamos na hora que precisamos da bancada. Porque ela estava consciente, conhecia a matéria e sabia muito bem em que estava votando. Ontem pela manhã, em conversa com o governador relatei o acontecido nessa relação nossa com a bancada e ele me pediu para ir lá na Assembleia agradecer pessoalmente a cada um dos nossos deputados. Do ponto de vista da oposição, apesar de vocês terem destacado esse empréstimo de 1,6 bilhão de reais do Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Banco Mundial, mas na realidade, se você observar, todos os projetos passaram por um processo de obstrução muito forte. O primeiro projeto que foi sobre os créditos não tributários, ele foi aprovado à 1h da madrugada de segunda para terça-feira (6). E a obstrução continuou e só viemos aprovar o segundo que foi sobre a alteração no regime previdenciário do estado quase 13h da tarde. Só no final da tarde é que aprovamos o terceiro que foi o empréstimo. Como na madrugada e pela manhã, talvez vocês não estivessem ainda atentos, acabou que o projeto do empréstimo virou uma discussão como se ele fosse o que mais chamava a atenção. Na verdade, é um projeto no qual estamos pedindo a autorização para tomar o empréstimo na ordem de US$ 400 milhões ao Banco Interamericano de desenvolvimento, mas que já estava tramitando há bastante tempo. É do conhecimento da Assembleia o objetivo do empréstimo, é bastante conhecido, versa sobre uma gama de atividade que o governo pretende fazer.

Bocão News - Em que será investido esse dinheiro exatamente? Porque esse era o questionamento que a oposição fazia o tempo todo durante a discussão...

Josias Gomes - Os recursos são para uma série de eventos que o governo quer fazer na saúde na infraestrutura, enfim, uma diversidade de possibilidades que existe e todas essas possibilidades foram amplamente discutidas com a Assembleia e inclusive com a oposição. Não escondemos nada, não temos nenhum motivo para esconder nada do povo baiano. É do conhecimento de todos que nós somos um dos poucos estados que temos condições de tomar empréstimo e daí decorre essa necessidade, porque vivemos em uma crise tremenda e temos que recorrer, já que temos capacidade de tomar empréstimo, a empréstimo para poder investir, uma vez que nossos recursos próprios não estão em uma situação confortável para área de investimento. É disso que se trata e a oposição sabe.

Bocão News - Nos bastidores da Alba, circulava a especulação de que essa obstrução na votação dos projetos do governo se dava como uma espécie de retaliação pelo fato de ainda não terem sido liberadas as emendas parlamentares. Existe previsão de pagamento das verbas para os deputados?

Estamos com um fluxo de caixa muito complicado, mas o governador se comprometeu ainda no primeiro semestre de fazer isso. Inclusive tive uma reunião com a oposição e expliquei isso, falei das dificuldades que temos de marcar um prazo em função de não ter uma previsão de aumento da receita no segundo semestre, como de fato não ocorreu. Então, estamos ainda com uma situação de fluxo de caixa muito complexa, muito apertada. Mas mesmo nessa situação, nós estamos vendo a possibilidade de comprar alguns veículos de transporte escolar, uns equipamentos agrícolas e vamos fazer esse atendimento das emendas dessa forma. Pelo menos dentro daquilo que temos a possibilidade de fazer. Se trata também de reconhecer que quando estamos buscando diálogo com o parlamento, queremos dizer a eles que essa relação não deve ser o móvel da nossa relação, e eu sei que não é o caso deles. São parlamentares, tanto do governo como da oposição, que são muito responsáveis em tudo que fazem. Isso é inegável. Não posso afirmar que oposição está sendo qualificada disso ou daquilo porque é o papel da oposição, compete a ela fazer oposição, como o próprio nome já diz. Não temos essa noção de que mesmo na oposição eles queiram o pior para o estado. Pelo contrario, acompanham o desenrolar dos fatos, sabem da crise que estamos vivendo e tenho certeza que vão reconhecer o esforço que estamos fazendo para resolver essa questão das emendas.

Bocão News - Temos visto que o secretário tem mantido um forte diálogo com prefeitos, vereadores e lideranças do interior. A ideia comum que se tinha nessa relação era de que os deputados faziam essa intermediação entre as lideranças regionais e o governo. Não acha que isso gere algum tipo de ciúme ou mal-estar entre os deputados e o governo?

Josias Gomes - Aqui, essa secretaria funciona como a porta de entrada política do governo. É natural que todos os segmentos, além de prefeitos e vereadores, acorram para aqui no sentido de buscar a porta para que a gente abra as portas para cada um desses segmentos. Isso a gente tem feito de modo a contemplar esses segmentos, mas sem esquecer da importância da representatividade que os deputados tem. Houve uma reclamação inicial porque eu estava fazendo esse recebimento sem os deputados acompanhando os prefeitos, as lideranças. Nós corrigimos isso, todos os prefeitos que vem agora trazem os seus representantes e isso acho legítimo. Como parlamentar, sei da necessidade de se manter o vínculo com as suas lideranças, com o pessoal que segue os mandatos parlamentares.

Bocão News - Teve uma reunião no início dessa semana do Conselho Político do governo capitaneada pelo governador interino João Leão. Qual o balanço que faz desse encontro que discutiu, sobretudo, as eleições de 2016?

Josias Gomes - Nós somos uma coalizão do governo com mais de dez partidos e o propósito dessa primeira reunião coordenada pelo nosso vice foi de começar a entender a necessidade de que nós da coalização do governo, liderados pelo Partido dos Trabalhadores, precisamos ganhar as eleições do ano que vem. Esse objetivo foi definido em um lugar comum, mas é necessário, como dizia Churchil, ‘na política, tudo que não for óbvio, é bobagem’. Então, o que buscamos é exatamente dialogar com os presidentes dos partidos que são da coalizão do governo um caminho para que possamos ter nas eleições de 2016 uma relação muito fraterna. Sabendo que cada partido terá seu esforço para aumentar o seu tamanho politico. Como fazer isso de forma a que haja um consenso progressivo entre todos e que ninguém se digladie é o centro da nossa conversa. Eu creio que foi positivo esse primeiro momento porque deu para estabelecer o que a gente chama de princípios basilares dessa relação. Após isso, marcamos para o dia 26 a próxima reunião, quando já vamos conversar sobre casos específicos que não fizemos nessa primeira. Foi mais um reconhecimento de gramado.

Bocão News - Nesse cenário das eleições de 2016, qual tem sido a orientação do governador Rui Costa para os casos de alianças? A ideia é reforçar as alianças que já possui ou vai dar prioridade ao aliado que tenha força no município onde poderá disputar?

Josias Gomes - O caso específico de cada cidade é o que prevalece. Não dá para discutir no geral nessa nossa situação. São 417 municípios e cada um com sua realidade. Há casos em que dois determinados grupos políticos locais apoiaram o governador Rui Costa e no plano local eles disputam entre si. Como vamos então fazer isso, é esse consenso que vamos buscar onde for possível. Onde não for, vamos buscar manter a civilidade no debate para que não crie arestas futuras para que continuemos juntos, ainda que nesses casos existam divergências inevitáveis. Como aspecto central, o primeiro ponto é que nos três municípios onde tem segundo turno, é importante que saiam candidaturas dos partidos da base para produzir a condições de ir a para o segundo turno. Nos demais, vamos discutir caso a caso, sobretudo aquelas grandes cidades onde elas acabam tendo um reflexo positivo sobre as demais. Se você resolve a questão dos partidos da coalizão, por exemplo, em Juazeiro, você acaba espraiando aquilo para região no entorno do município e assim por diante, como Barreiras, Teixeira de Freitas, Itabuna, esse é o nosso propósito e com isso nós vamos, já na próxima reunião, tratar desses municípios sedes de regiões.

Bocão News - Nesse caminho já vislumbrado sobre segundo turno, vindo para Salvador, poderia dizer que uma candidatura do PT hoje já é irreversível?

Josias Gomes - Dos partidos da base, nós estamos conversando no sentido de colocar candidaturas. Se o PT tiver uma candidatura competitiva, eu espero que tenha, como o Sargento Isidório que saiu recentemente do PSC e será candidato, como a companheira Lídice da Mata(PSB) tem dito que será candidata e nós a apoiamos, da mesma forma a deputada Alice Portugal (PCdoB), será bem-vinda nesse propósito de a gente permitir que a eleição vá para o segundo turno.

Bocão News - Quando Rui Costa assumiu o governo, foi firmado um acordo com o seu secretariado para que nenhum deles deixasse o cargo para disputar prefeitura em 2016. Existe a possiblidade de o governador abrir exceção e liberar algum secretário como Pelegrino ou Carlos Martins para entrar na briga em Salvador?

Josias Gomes - O governador pediu aos secretários que assumiram no início desse ano sendo claro na sua determinação de que queria que os secretários permanecessem ate o final do mandato, portanto não concorressem nessas eleições. Portanto, qualquer decisão nesse caso caberá ao governador junto com esses secretários que tiverem interesse em discutir.

Bocão News - Então não essa possibilidade não está descartada, não é uma coisa fechada?

Josias Gomes - Veja, o governador foi claro quando afirmou isso. Eu estou dizendo que na política tudo pode acontecer.  Não estou dizendo a você que via acontecer isso. Creio até que a determinação do governador seja cumprida, porque ali ele tinha um propósito de que seus secretários ficassem para ter condições de seguir o governo e não gerar descontinuidade.

Bocão News - Mudando de assunto, quando os vereadores Henrique Carballal e J. Carlos Filho saíram do PT, sendo expulsos consequentemente, houve petista que disse considerar algumas perdas um ganho. Na sua visão enquanto articulador político, esse pensamento faz sentido em algum desses casos de ida de aliados para o campo de oposição ligada ao prefeito ACM Neto (DEM)?

Josias Gomes - Nunca se comemora perda, ao contrário, se comemora adesões. Eu creio que os dois vereadores ao optarem por deixar a base do governador fizeram vendo as suas conveniências eleitorais em Salvador. É um caminho que seguiram, respeito, porém discordo, porque todos tiveram, no conjunto, todas as condições dentro do PT e da base do governador Rui Costa de também crescerem, mas vida que segue e vamos em frente.

Bocão News - No caso de Alan Sanches, do PSD, acha que faltou alguma coisa, houve falha, no diálogo com ele que deixou a base do governo para ingressar na oposição?

Josias Gomes - Da minha parte, eu fiz o que foi definido comigo e o governador. Busquei entrosá-lo com a Secretaria de Saúde, que como médico e presidente da Comissão de Saúde da Assembleia teve toda essa movimentação, discutimos todas as questões que diz respeito às bases eleitorais e procuramos tratá-lo como aliado de primeira hora, como aliado do governador e da presidente Dilma. Lamentavelmente, ele seguiu outro caminho e espero que ele tenha lá o sucesso dele. Não tenho nenhuma dúvida de que seria muito importante ele estar na nossa base, onde ele se elegeu inclusive.

Bocão News - Seria um deputado que, por ter saído da base do governo e conhecer internamente a estrutura do governo, deveria ter uma atenção especial do núcleo político por conta da possibilidade e ataques vindos dele, já que agora está na oposição?

Josias Gomes - A oposição como um todo, como eu disse mais cedo, tem um papel de fazer essa oposição ao governo. Se foi para lá, o caminho é esse, não tem meio termo. Ou você é oposição ou é governo. Eu creio que nisso aí, não há nenhuma necessidade de olhar mais ou olhar menos para ele ou qualquer um outro. Para todos nós temos um olhar muito claro, os parlamentares da oposição são da oposição e nós temos que respeitá-los, algo próprio da democracia e seguir em frente como fizemos agora nesses projetos que vocês acompanharam o que foi essa obstrução, segundo se comenta, a segunda maior existente no parlamento.

Bocão News - Secretário, no início do ano, o PTN e o PSB se juntaram à base do governo. Recentemente, voltou a se especular que o PROS também estaria se aproximando do governo. Em que pé ficou isso?

Josias Gomes - Tiveram algumas conversas no início do ano com a presidente nacional do PROS que não foram em frente em função de que estávamos negociando com eles em função de uma outra situação. Acabou não ocorrendo, por exemplo, o PTB, que poderia ter se fundido com o DEM, isso não ocorreu. Mas recentemente, outras conversas que estivemos bolando, também não foram adiante, de modo que nós recuamos de fazer essa busca do PROS. Porque seria, na verdade, para acomodar duas situações políticas que tanto uma como a outra não se materializou. Não vimos a necessidade de se insistir no PROS.

Bocão News - E no caso do PRP, o partido está realmente se aliando ao governo?

Josias Gomes - Fiz uma conversa aqui com o deputado estadual Jurandy Oliveira e com o presidente do partido, o vereador Alexandre Marques ali de Lauro de Freias, e eu creio que as conversas estão muito avançadas. Em breve, a gente deve estar anunciando aí uma adesão do PRP em definitivo. Até porque o deputado Jurandy foi eleito pelo PRP e não estava na base, o que causou um certo transtorno para ele quando não podia ir para nossas atividades exatamente porque o partido dele não estava em nossa coligação. E isso nós discutimos, é um deputado com base social muito forte na região de Ipirá e de reconhecida competência política.

Bocão News - O que se decidiu na situação do PDT, onde os deputados estão com o governador Rui Costa, mas o partido institucionalmente se afastou?

Josias Gomes - Nós estamos tentando retomar as conversas com o PDT, até porque essa discussão em Brasília se resolveu e melhorou muito porque teve uma alteração lá, o deputado André Figueiredo assumiu o Ministério das Comunicações e acho que isso vai facilitar muito a retomada do diálogo com o PDT, que eu espero que seja positivo.

Bocão News - Para concluir, o senhor que é deputado federal licenciado, o que acha da reeleição para presidente de Casas Legislativas, a exemplo do que ocorre na Alba, onde o deputado Marcelo Nilo já se encontra no quinto mandato à frente da presidência?

Veja bem, eu não tenho opinião formada sobre essa questão. Agora, a gente diz às vezes que um mandato de quatro anos para governador é pouco, daí ter surgido o instituto da reeleição, um pouco para favorecer, como era nos Estados Unidos. Aliás, nos Estados Unidos não tinha limitação de mandato, isso ocorreu depois que o Roosevelt foi eleito quatro vezes, então, fizeram uma alteração lá e só pode dois mandatos agora. Para o Executivo, tem uma razão de ser, eu acho, e defendo, inclusive, que haja essa reeleição. No parlamento, eu não tenho opinião formada sobre essa questão, porque trata-se mais de um cargo importante, mas de representação. O que quero dizer é o seguinte, dois anos para governar um estado é muito pouco. Já para uma Assembleia, uma Câmara Federal, um Senado, eu não tenho certeza que terá que ter a reeleição. Muito embora também não veja isso como problema de maior envergadura. Afinal, você tem a possibilidade de tirar ou não, se não estiver de acordo, aquele que está dirigindo a Casa.

Classificação Indicativa: Livre

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