Política

Após fábrica na Bahia, Itaipava doou R$ 17 milhões para a campanha de Dilma

Publicado em 24/01/2015, às 15h41   Redação Bocão News (Twitter: @bocaonews)


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Inauguração da Itaipava em Alagoinhas

No começo de 2013, o empresário Walter Faria, dono da Cervejaria Itaipava, a segunda maior do país, queria expandir seus negócios ao Nordeste. A primeira parte do plano envolvia a construção de fábricas na região. Ele optou por erguer a primeira em Alagoinhas, na Bahia, em razão dos incentivos fiscais. A Revista Época deste fim de semana traz que poucos dias após receber um empréstimo do Banco do Nordeste para cobrir os riscos da instalação da fábrica no Nordeste baiano depositou R$ 17,5 milhões na campanha da presidente Dilma Rousseff.

A denúncia é baseada em documentos internos do BNB, relatórios do TCU e entrevistas com os envolvidos. Segundo a semanal, o valor se tornou a quarta maior doação da campanha da petista e o ‘favor milionário’ correspondia ao valor que se recusava a pagar por conta de uma carta-fiança pedida pelo banco como garantia dos empréstimos de R$ 375 milhões referente à fábrica de Alagoinhas e de R$ 452 milhões para a de Pernambuco em 2013. O BNB pediu uma carta-fiança para cobrir um possível calote.

Faria e seu Grupo Petrópolis, que controla a Itaipava, tinham nome sujo na praça – e uma extensa ficha policial. Deviam R$ 400 milhões à Receita, em impostos atrasados e multas por usar laranjas, além de notas fiscais. Em 2005, Faria fora preso pela Polícia Federal, acusado de sonegação fiscal. Ficou dez dias na carceragem da PF. Três anos depois, em outra operação da PF, Faria acabou denunciado pelo Ministério Público Federal por corrupção ativa, formação de quadrilha e por denúncias caluniosas.

Segundo as investigações, Faria armara um esquema para retaliar os fiscais da Receita que haviam autuado sua cervejaria anos antes. Iria difamá-los. Contratara para o serviço Marco Valério Fernandes de Souza, o operador do Mensalão. A PF encontrou R$ 1 milhão na sede da Itaipava em São Paulo – dinheiro que, segundo a acusação, serviria para pagar chantagistas. Valério foi preso. Mas Faria perseverou.

Ainda de acordo com a revista, o que permitiu que Faria conseguisse reaver a carta-fiança foi a sua proximidade com líderes do PT durante o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como o próprio chefe do Executivo, além do tesoureiro informal da legenda, João Vaccari.

Durante as negociações para reverter a caução, o empresário argumentava que a exigência da fiança lhe custava o equivalente a 2% do valor dos empréstimoo, o que equivale a quase R$ 17 milhões ao ano. Mas o impossível aconteceu. Ainda em abril de 2014, Ary Lanzarin, o presidente do BNB, deixou o cargo. O PT pressionava para voltar ao comando absoluto do banco. A presidente Dilma Rousseff aceitou. As diretorias do BNB foram entregues novamente a afilhados de políticos petistas, como o ministro da Defesa, Jaques Wagner. Procurado pela revista, Wagner preferiu não comentar o assunto. O jogo mudara. Faria conseguiu. Num intervalo de pouco mais de 24 horas, o pedido passou por cinco instâncias do BNB e foi aprovado pelo Conselho de Administração do banco, segundo os documentos obtidos pela semanal.

No dia 29 de setembro, apenas 12 dias após seu Grupo Petrópolis obter o impossível no BNB, Faria depositou R$ 5 milhões na conta da campanha de Dilma. Até o dia 3 de outubro, a campanha dela receberia outros R$ 12,5 milhões. No total, Faria doou R$ 17,5 milhões. 

É aproximadamente esse valor que Faria gastaria com as fianças anuais dos dois empréstimos. O pedido para que o segundo empréstimo, o da fábrica em Pernambuco, também seja dispensado da carta-fiança será feito em breve. Segundo fontes na cúpula do BNB, está encaminhado para ser aprovado. 

O Grupo Petrópolis afirmou, por meio de nota, que a dispensa da fiança gerou economia para a empresa, mas não disse quanto. Afirmou ainda que a fiança foi substituída por outras garantias com “valores até maiores”. Ainda de acordo com a nota, Faria conhece Vaccari, mas negou ter pedido ajuda a ele ou a qualquer pessoa para que a fiança usada no empréstimo do BNB fosse dispensada. Disse, ainda, que todas as doações à campanha da presidente Dilma cumpriram as regras eleitorais.

Fonte: Revista Época

Classificação Indicativa: Livre

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