Política

O advogado Kakay tenta salvar o restaurante Piantella

Publicado em 24/11/2014, às 11h56   Redação Bocão News (Twitter: @bocaonews)


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Antonio Carlos de Almeida Castro, o advogado conhecido como Kakay, reclina-se na cadeira de seu escritório de dois andares no centro de Brasília. Estufa-se e se envaidece. “A verdade é que adoro ser dono do Piantella”, diz. “Aquilo é uma instituição. Eu não podia deixar fechar.” Kakay mexe na cabeleira ao estilo Ravengar, ao falar sobre o restaurante em que políticos bem alimentados e encharcados de vinho, vodca e uísque confabularam acordos e traições que ajudaram a definir os rumos da República nos últimos 37 anos – e agora está prestes a quebrar. 
Kakay é um advogado que gosta de desafios. Livrou o publicitário Duda Mendonça de um triste destino no mensalão. Defende o ex-senador Demóstenes Torres de seu envolvimento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Representa a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, em suspeitas relacionadas à Operação Lava Jato – e também em outras pendências judiciais. Kakay, o salvador de políticos, acredita que pode salvar também o Piantella.
Há mais de 15 anos, Kakay já era dono de metade do restaurante, onde costuma exibir os dotes de cantor acompanhado pelo pianista Marcinho Silva. Dois meses atrás, comprou os outros 50% de Marco Aurélio Costa, sócio e fundador. No auge, as mesas do Piantella reuniam os comensais do poder em Brasília. Numa cidade ainda pequena, era o lugar certo para saber o que acontecia e para se mostrar no teatro simbólico da política. O deputado Ulysses Guimarães tinha uma mesa reservada no andar de cima. Parte da Constituição que rege a vida brasileira foi discutida lá, entre 1987 e 1988. Ícones como Ricardo Fiúza, Luís Eduardo Magalhães e Teotônio Villela debateram, beberam e comeram lá. O fundador do Piantella, Marco Aurélio Costa, conta por que desistiu do negócio. “Até 2011, tínhamos uma margem de lucro de 12%, saudável”, diz. “Depois, passamos a empatar ou operar no vermelho.” A crise financeira apertou o Piantella, e todo o setor, quando casas de São Paulo e Rio de Janeiro abriram filiais em Brasília. Várias já fecharam e deixaram dívidas na praça. “O mercado ficou bem difícil. Todos sofrem”, diz Jaime Recena, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do Distrito Federal. Fornecedores estão habituados a receber com atraso. “Hoje, metade dos restaurantes à la carte da cidade não dá lucro.”
Durante a entrevista em seu escritório, Kakay lembrava que entrou no Piantella pela primeira vez no final da década de 1970, na condição de um quebrado estudante de Direito da Universidade de Brasília. Ele queria impressionar uma garota. Chico, maître do Piantella até hoje, sugeriu que ele pedisse manicotti, uma massa recheada, e uma caipiroska. A menina se empolgou e pediu um prato mais caro. Kakay idem. “Tomei umas quatro caipiroskas”, diz. O garoto Kakay emplacou uma pendura, que só saldou uns dez dias depois. Tudo deu certo, e a moça se tornou mãe de dois de seus três filhos. Hoje, além de advogado badalado, Kakay é um investidor que, fora do ramo de restaurantes, já se arriscou com uma empresa de radares móveis (investigada na CPI do Cachoeira) e um cemitério. Enquanto falava, tinha dois bilhetes da Mega Sena sobre a mesa. “Aposto toda semana. Faço sempre jogos de dez números”, diz. A aposta com dez números custa R$ 525. O prêmio, em R$ 37 milhões na ocasião, é para pagar o Refis? “Pode ajudar”, diz Kakay – e ri.
Fonte: Revista Época

Classificação Indicativa: Livre

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