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Na Sombra do Poder: peixe fora d'água na Alba e Tia Eron com outros planos

Publicado em 05/05/2016, às 05h58   Editoria de Política (Twitter: @BocaoPolitica)


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Um peixe fora d’água

Alguém pode explicar o que a prefeita de Porto Seguro, Cláudia Oliveira (PSD) estava fazendo no meio do plenário da Assembleia Legislativa da Bahia, sentada na cadeira de deputado, em meio à votação do Plano de Educação? Como sempre, apagada, mexia no celular e conversou com poucos parlamentares. Sentiu saudades ou foi substituir o marido, o deputado Robério Oliveira (PSD), que não deu as caras no plenário?

Retrocesso

“Assegurar que a questão da diversidade cultural, religiosa, de gênero, sexualidade e etnia sejam objeto de tratamento didático-pedagógico e integrem o currículo dos escolares e da formação de professores”. Esse texto foi retirado do próximo Plano Estadual de Educação (PEE) que vai nortear a educação baiana nos próximos 10 anos. A retirada dessas referências foram consideradas um “retrocesso” por parlamentares. Alguns estavam indignados com o caminho que tomou a discussão: aprender sexo nas escolas. Mas esta não era a intenção. Porém, a falta de entendimento dos parlamentares recaiu sobre temas históricos e relevantes: racismo, indígenas, etnia e o combate à violência contra as mulheres.

Republicanismo

Pelo menos ninguém pode acusar o governador Rui Costa de falta de republicanismo. Enviou o plano para a Assembleia em novembro do ano passado. Os deputados, certamente muito ocupados com a agenda de desenvolvimento da Bahia, deixaram-no decantar por um semestre até que resolveram tirá-lo da gaveta. Bom, saiu da gaveta sem poeira, mas daí entrou em cena o grande aliado da gestão estadual, Pastor Sargento Isidório (PDT). Botou o pé na porta e com a bíblia em riste tacou poeira no projeto. A oposição gostou e adubou a discussão. Em dois dias rolou o intensivão do Legislativo. Algo tradicional no parlamento baiano, diga-se de passagem. Orientação sexual não pode ser objeto de discussão em sala de aula. Mas, aos desavisados, o Google está aí e seria melhor refletir onde é o melhor canal para discutir as coisas importantes da vida.

Fundação em risco

Mas o republicanismo de Rui Costa não se destaca pelo processo de discussão, mas sim por ser o governo o grande financiador da Fundação Doutor Jesus, que cuida de pessoas que têm problemas com drogas. Resolve o problema de muita gente, é fato. O dinheiro vem do governo do estado, e lá estava, na terça (3) e quarta (4), a caravana de ônibus da fundação para protestar contra o Plano de Educação do governo do estado. Se isso não for um ato de republicanismo, não se sabe o que é.

Lobisomens e jacarés

A discussão sobre o PEE começou ainda na terça-feira (3), na Comissão Conjunta sobre o Plano de Educação. Sem dúvidas, foi empolgante, afinal geralmente as comissões são mais mornas. Mas assim como na Câmara dos Deputados, na hora da votação do impeachment, discursos pitorescos e que beiram o surreal não faltaram. A “bancada” do deputado Isidório levou cartazes “defendendo a família” tradicional. Mas o grito de guerra para defender a retirada das discussões de gênero e sexualidade foi um argumento, digamos que, “irrefutável”: homem com homem dá lobisomem, mulher com mulher dá jacaré! Enquanto o outro lado, liderado pela deputada Fabíola Mansur, respondia entoando a frase “debate de gênero tem que acontecer, machismo e homofobia matam gente pra valer”. É, não tem como comparar!

Se achando

E o Pastor Isidório foi realmente um dos protagonistas da confusão sobre o Plano de Educação. Tá se achando tanto o ator principal que teve até a moral de chantagear o Governo do Estado, mais precisamente, o próprio governador Rui Costa. Deputados, que não quiseram se identificar, confessaram que ele disse aos quatro ventos que se o plano fosse aprovado com as referências a “gênero” e “diversidade sexual” ele deixaria a base governista e retiraria sua candidatura em Salvador. A atitude deixou o líder do governo, Zé Neto, espumando de raiva. A carta na manga do deputado é uma pesquisa de intenção de votos na capital baiana em que aparece em ótima colocação. De doido, Isidório não tem nada!

Num venha não

Na Câmara Municipal de Salvador a queda da cobertura do novo Mercado do Peixe não rendeu tanto quanto poderia. Isso porque, afirma um vereador da base de Neto, os apoiadores de Rui Costa devem ficar com as “barbas de molho” se falarem do Mercado do Rio Vermelho (nome novo para concorrer com a Ceasa do Rio Vermelho). Nós podemos falar da Feira de São Joaquim, que até hoje está lá sem solução. O mercado daqui teve um problema, mas já vai resolver. Lá, eles não souberam nem o que pedir.

Caricaturas

Uma gigante faixa pintada com caricaturas chamou atenção do ato em homenagem ao dia do trabalhador, na Barra, no último domingo. Lá, que há pouco tempo era visto como “reduto dos coxinhas” agora tem mais “mortadelas”. A faixa trazia “os mentores do golpe” e caricaturas de Cunha, Temer, Bolsonaro e até ACM Neto. Temer e Cunha conduzindo um veículo de placa 1964, passando pela “ponte do futuro”. Bem sugestivo. Política à parte, criatividade o povo baiano tem de sobra.

Dama de vermelho

Toda de vermelho, da bolsa ao sapato, a deputada Moema Gramacho (PT) fez e aconteceu no ato pró-governo, no dia 1º de maio. Com salto gigante, ela não hesitou em ir atrás da fanfarra dançando e pulando pelas ruas da Barra. Empolgada, subia e descia no trio e o figurino vermelhão chamou a atenção.

https://ssl.gstatic.com/ui/v1/icons/mail/images/cleardot.gifNão vai ter golpe. Ou já teve?

A mesma segurança que o deputado federal Jorge Solla tinha para conter o impeachment da presidente Dilma na Câmara dos Deputados deve ter sido a mesma que sua sobrinha, Clarinha Solla, teve na disputa para musa do Vitória. Mas tanta convicção não deu resultado. A candidata ficou apenas em terceiro lugar na disputa. O discurso de derrota só não pode ser o mesmo do tio: foi golpe.

https://ssl.gstatic.com/ui/v1/icons/mail/images/cleardot.gifPinheiro vai votar

Após uma polêmica sobre a licença de Walter Pinheiro (sem partido) do Senado, ele deve sim votar no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, na próxima semana. Isso porque, até o dia 28, ele ainda não estará à frente da Secretaria de Educação. A informação foi confirmada pelo governador Rui Costa. Segundo o petista, o suplente de Pinheiro, o ex-deputado estadual Roberto Muniz (PP), ainda não se desligou da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon).

O risco Geddel

Setores do PP, PSD e PR estão em polvorosa com a possibilidade, iminente, de Geddel Vieira Lima ser alçado ao posto de Secretário de Governo assim que Michel Temer assumir a Presidência da República. Razão é o que não falta, pois na política baiana, Geddel é conhecido por ter boa memória e guardar rancor. Portanto, o arco de alianças promovido lá atrás para avançar nas bases do PMDB quando do rompimento com o PT será prato cheio para uma “vingança” em prato frio.

Vai pra onde?

O ex-governador Jaques Wagner foi habilidoso politicamente, como esperado, e conseguiu articular a derrocada dos peemedebistas. Volta à Bahia para cumprir quarentena após a provável saída de Dilma para tentar, sem cargo na gestão estadual, segurar a base. Missão difícil diante dos problemas que se avizinham para ele próprio. Isso porque ao ser citado por Cerveró, o Galego terá que se dedicar à sua defesa e os gestos passam a ser acompanhados por lupa.

Cargos aqui e acolá

Ainda sobre a saída de Dilma, os baianos que ocupam cargos no alto escalão podem se dar ao luxo de segurar as pontas, ou seja, não necessariamente serão absorvidos pelo governo Rui Costa. O problema será nos cargos do segundo, terceiro, quarto e demais escalões. A articulação política da presidente foi tão falha que não se sabe ao certo, isso é fato, quantos aliados foram indicados por PP, PSD, PR, PTN, PDT, tampouco, pelo próprio PT. Será um “Deus nos acuda”. Com limite prudencial estourado, Rui tem pouca margem para manobra.

Quem fica e quem sai

De um petista da ala esquerdista do partido: fiz um levantamento no qual aparece que 80% dos prefeitos eleitos pelo PT na Bahia entraram no partido após a vitória de Wagner em 2006. Quero ver quantos ficarão para roer o osso.

O meu é meu

A deputada Tia Eron (PRB) virou alvo de polêmica desde o voto pró-impeachment. De um lado os que defendem a presidente Dilma dizem que ela não os representa, de outro, quem defende o impedimento está levantando a bola dela. O fato é que a parlamentar e presidente do PRB na Bahia está focada em outra missão: quantos prefeitos o PRB irá eleger. Outro dado: tem gente ligada a deputado federal do PT entrando no partido da Igreja Universal. Portanto, o pragmatismo político está cada vez menos ideológico. Enquanto isso, avatar em rede social se sente protagonista do mundo.

Classificação Indicativa: Livre

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