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'Freiras maconheiras' levam apoio a Sanders à convenção democrata

Publicado em 25/07/2016, às 18h52   FolhaPress


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Algo não cheira bem, e a irmã Darcy, 28, não se refere ao aroma de maconha que de repente empesteia aquele metro quadrado vizinho à Prefeitura da Filadélfia.

Ela usa hábitos de noviça e se apresenta como freira. Mas, apesar do título eclesiástico, não é filiada a nenhuma ordem da Igreja Católica "nem a qualquer outra religião terrena".

Darcy milita pelo "verdadeiro presente de Deus, a Cannabis". No domingo (24), contudo, sua luta era outra.

Ela transitava num protesto no centro da cidade onde, em poucos dias, Hillary Clinton será oficializada como presidenciável democrata, na convenção nacional do partido.

E Darcy, como a maioria dos manifestantes, não está nada empolgada com a candidata.

"Se Donald Trump ganhar...", ela diz e faz uma pausa para tomar uma limonada do McDonald's. "Acho ele um idiota, um babaca. Mas, se os republicanos vencerem, a culpa vai ser do Partido Democrata."


'CONSPIRAÇÃO'

A freira que xinga e fuma maconha (de um cigarro eletrônico) sempre apoiou o pré-candidato Bernie Sanders e, como tantos devotos do senador, acredita que a cúpula da legenda conspirou para que Hillary o atropelasse nas prévias partidárias.

No mesmo fim de semana, a presidente da legenda renunciou ao cargo após o WikiLeaks divulgar e-mails em que ela e outros dirigentes do partido atacavam o senador.

O episódio foi a prova que faltava para o eleitorado sanderista se convencer que há algo de podre no reino democrata. "O sistema é corrupto, expirou", reclama a irmã.

Darcy anda pela manifestação com um broche verde que traz o nome de Sanders e uma folhinha de maconha.

O senador de 74 anos, que cresceu no Brooklyn e hoje representa o Estado de Vermont, contou a uma audiência do Michigan, em março, sobre sua relação pessoal com a erva.

"Fumei maconha duas vezes na vida, quando era bem moço. E o efeito em mim, bom, me fez tossir bastante. Essa foi minha reação, mas imagino que outras pessoas tenham experiências diferentes."

Kate, 57, é a metade veterana das Irmãs do Vale, como se autointitula a dupla de freiras pró-Cannabis sativa (o nome científico da maconha).


DEMOCRACIA REAL

Elas cultivam a erva no jardim de uma casa de três quartos em Merced, Califórnia. Da planta extraem o canabidiol -substância química usada em remédios para combater de artrite a crises epiléticas.

Com a matéria prima, as Irmãs do Vale produzem pomadas e tônicos que, segundo Kate, importam mundo afora, inclusive o Brasil.

Elas publicaram em seu site um vídeo em que interagem com potenciais consumidores, com "Party in the USA", de Miley Cyrus, na trilha sonora.

Kate, uma militante pela "real democracia", é famosa desde que a mídia local começou a chamá-la de "freira maconheira, vegana e feminista" (rótulos que ostenta com orgulho).
A popularidade começou depois de ela participar do Occupy Califórnia, movimento contra o "1%" que tomou os EUA no final dos anos 2000.

A crítica contra essa fatia da população (a elite e as grandes corporações), que drenaria a riqueza dos 99% restantes, é uma constante nos discursos de Sanders.
No domingo, a batalha das sanderistas foi longa, como descreveram no Facebook das Irmãs do Vale.

"Freiras ativistas não têm o luxo de comer até o dia terminar. São 22h50, e só agora vamos conseguir jantar. Num bar de esportes. Apenas comida frita. Quem está reclamando? Nossos pés estão felizes por estarmos sentadas."

Classificação Indicativa: Livre

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