Brasil

Política externa brasileira perde prestígio, diz estudo

Publicado em 23/07/2017, às 08h35   Folhapress


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A edição 2017 do estudo "The Soft Power 30", realizado pela consultoria britânica Portland e divulgado na última semana, aponta que o Brasil caiu cinco posições no ranking em relação a 2016, ocupando hoje o 29º e penúltimo lugar. A análise leva em conta a capacidade de persuasão de um país no cenário global.
Desde a publicação da primeira edição do estudo, em 2015, o Brasil só perde terreno --foi ultrapassado por países como China, Polônia, República Tcheca e Hungria.
O cenário condiz com o encolhimento da política externa brasileira nos últimos anos, iniciado ainda sob Dilma Rousseff e catalisado pela crise política que engolfa o governo de Michel Temer  --que, há quase um ano, ao assumir a Presidência de fato, prometera priorizar a área.
"Não vejo estratégia alguma. O Brasil em matéria de política internacional está cumprindo tabela", afirma à Folha Celso Amorim, que chefiou o Ministério das Relações Exteriores de 2003 a 2010, no governo Lula.
Segundo analistas ouvidos pela reportagem, a atual crise política e econômica não é a única explicação para a menor presença do país no cenário global --da qual um último exemplo foi a passagem desbotada de Temer na cúpula do G20, no início do mês.
"Esse período de mudança política no Brasil é contemporâneo a um período em que o mundo se fechou para negócios", diz Marcos Troyjo, professor da Universidade Columbia, em Nova York, e colunista da Folha de S.Paulo.
"Há um recrudescimento da política comercial chinesa, o 'brexit' e a vitória de Donald Trump nos EUA, que coloca a Parceria Transpacífico de escanteio, questiona o Nafta e põe um enorme ponto de interrogação na relação EUA-União Europeia."
Na avaliação de Mathilde Chatin, do King's College de Londres, a crise econômica e a turbulência política dos anos recentes contribui para uma retração visível da política externa em comparação com o governo Lula, mas a pesquisadora também acredita que o período de expansão é que foi exceção.
"O contexto econômico e político que os sucessores enfrentaram foi drasticamente diferente do qual o presidente Lula beneficiou. Pode ser que aquele período tenha sido um 'ponto fora da curva', que se regularizou com seus sucessores --inclusive por falta de interesse em política externa da presidente Dilma Rousseff e uma diplomacia presidencial menos intensa."
Para o pesquisador Andrés Malamud, da Universidade de Lisboa, o encolhimento diplomático do Brasil "é evidente, não é opinião".
Hoje, ele explica, "o Brasil tem menos protagonismo, e por vezes até nem participa, em reuniões ou fóruns de alto nível, mesmo sobre questões nas quais o país já foi um ator relevante (como ambiente). Em nível regional, a Unasul (uma criação brasileira) e a Celac estão paralisadas: nem conseguem se reunir para tratar a crise venezuelana".
O Brasil, para Malamud, ampliou sua presença diplomática no mundo pela "atuação excepcional" dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula, mas depois "voltou à normalidade dos presidentes medíocres: daí a perda de imagem internacional e soft power".
"Mesmo que a gestão diplomática de Dilma tenha sido incompetente e a de Temer seja inexistente (e são!), o 'encolhimento' do Brasil é estrutural. A sua retração deve-se parcialmente aos erros na política externa, mas deve-se ainda mais ao fato de o país ter pretendido jogar numa liga maior à permitida por seus recursos materiais."

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