Política
Publicado em 24/01/2024, às 06h29 MATEUS VARGAS -(FOLHAPRESS)
A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) produziu em 2005, durante o primeiro governo Lula (PT), relatório sobre as atividades do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no qual apontava frustração do grupo com a gestão petista.
Para os oficiais de inteligência, o movimento social "alimentava a expectativa" de ter o governo como aliado para mobilizar a reforma agrária nos debates com a Justiça e o Congresso Nacional.
O documento afirma que, na leitura do MST, o governo "optou por não ir para o enfrentamento, manteve restrições legais que limitam as ações de movimentos sociais, descaracterizou o PNRA [Plano Nacional de Reforma Agrária]".
"Mostrou quem era seus aliados e preferiu investir no agronegócio seguindo a reflexão de que 'é preciso tratar bem e por primeiro os inimigos, para que não se revoltem; os amigos saberão esperar", diz ainda o relatório.
A análise da agência consta em relatório de 32 páginas, marcado como secreto -sob as regras da época, significava 30 anos de sigilo. Os papéis foram divulgados após pedido baseado na Lei de Acesso à Informação, mas a Abin decidiu tarjar alguns trechos, inclusive aqueles que mostrariam qual setor da agência elaborou a análise e para quais órgãos ela foi enviada.
O começo do relatório promete traçar a trajetória e os objetivos do MST e diz que os trabalhos até então disponíveis pouco haviam avançado "no lado considerado mais obscuro" do movimento. "Possivelmente por simpatias e conveniências com as práticas do Movimento, ou por falta de material que permitisse dar a verdadeira visão dos objetivos táticos e estratégicos dele."
Apesar de sinalizar abordagem negativa sobre o MST, o documento não se refere às atividades do grupo como criminosas e pouco usa o termo "invasão". A insatisfação do grupo com o governo Lula também já era pública quando o relatório foi difundido.
Durante a edição de 2005 do Grito dos Excluídos, por exemplo, o economista João Pedro Stedile, um dos fundadores do MST, disse que "o governo [Lula] acabou", criticou alianças do Planalto com Renan Calheiros (MDB) e José Sarney (MDB) e declarou que o movimento se sentia constrangido com a gestão petista.
Para os agentes da Abin, o MST ainda temia uma guinada autoritária do governo contra o movimento social. "O MST não acreditava que o governo do presidente Luís (sic.) Inácio Lula da Silva tinha sepultado a ideia de ameaçar o movimento com repressão e violência e julgava que acreditar nisso seria 'ingenuidade imperdoável'", afirma o documento.
"Na ótica do MST, o governo, na medida em que as ocupações se avolumassem, acionaria o aparelho do Estado por meio do Judiciário, da PF, da Abin, e utilizaria a Lei para manter a ordem pública", diz ainda o mesmo relatório de inteligência.
O MST estabeleceu relação de "dubiedade" com o governo, diz a Abin, pois mesmo decepcionado, o movimento manteve diálogo com o Planalto, não considerou romper com Lula e viu possibilidade de avanço da reforma agrária, ainda que em formato distante daquele idealizado pelo grupo.
"Em síntese, o MST deixa claro que a questão não é de romper com o governo, pois um movimento social não pode se comportar como um partido político que necessita fazer oposição para se afirmar. O movimento, adianta o MST, precisa de vitórias e estas podem vir com maior ou menor entendimento com o governo, menos as custas de cooptação", afirmam os agentes de inteligência.
Classificação Indicativa: Livre
Cinema em casa
Fones top de linha
Linda Mochila
Saldão Motorola
Lançamento