Política

Com regalias cortadas, André Esteves come salsicha e lê o próprio caso

Publicado em 11/12/2015, às 11h57   Redação Bocão News (Twitter: @bocaonews)



O banqueiro André Esteves agora tem vivido a vida de preso. Desde que chegou à Penitenciária Pedrolino Werling de Oliveira (Bangu 8) foi acusado de ter regalias. Há rumores de que com dois dias de Bangu 8, teria comido bacalhau levado pela mulher, tornou a vida do banqueiro na unidade mais espinhosa. Agora, sem regalias, vence o tempo lendo o próprio caso. Está com o cabelo raspado e não tem permissão para trabalhar na cadeia.

Um manifesto assinado pelos presos reclama da decisão que revogou em novembro o benefício de manter as celas abertas durante o dia. Esteves, transferido recentemente de cela individual para coletiva, onde divide 12 metros quadrados com outros cinco presos, só não fica trancado quando cumpre as duas horas diárias de banho de sol ou recebe visita de parentes e advogados.

Os advogados alegam que Esteves quer trabalho para "ocupar o tempo", mas a Secretaria estadual de Administração Penitenciária (Seap), comandada pelo coronel Erir Ribeiro Costa Filho, sustenta que não há vagas. Enquanto espera, o ex-CEO do banco de investimentos BTG-Pactual gasta as horas trancafiado estudando o inquérito que o levou à cadeia por participar de uma trama para atrapalhar as investigações da Lava-Jato.

A Seap e os advogados de Esteves negam o bacalhau. Garantem que as duas refeições diárias do banqueiro, servidas às 11h30m e às 17h, são as mesmas dos demais 135 presos de Bangu 8: arroz, feijão, macarrão e uma proteína, acompanhada de um copo de guaraná. Como o governo do estado está atrasando o pagamento da fornecedora de quentinhas, a proteína geralmente tem variado entre salsicha, moela de frango, polenta e almôndegas. 

Ao entrar na unidade, no dia 26 de novembro, após passar a primeira noite na carceragem da Polícia Federal, Esteves recebeu um colchão e um lençol, uma caneta, um copo e um prato de plástico. Como a unidade não oferece talheres, ele teve de improvisar um para comer. Além de almoço e jantar, tem direito ao café servido às 8h. A família foi autorizada ainda a levar lençol da cor branca, padrão da unidade, podendo trocá-lo quando estiver sujo.

Os agentes penitenciários da unidade consideram Esteves um "preso calmo, respeitoso, que não dá trabalho". Na cela onde se encontra, todos os presos têm nível superior, e a maioria está ali porque deixou de pagar pensão alimentícia. O cubículo tem três camas-beliche de alvenaria, com colchonetes, separadas do lavatório por uma parede a meia altura. A água é sempre fria, e os presos protegem o boi, como é chamado o sanitário rente ao chão, com uma cortina para garantir o mínimo de privacidade.

Os guardas garantem que, além da papelada da Justiça, Esteves também se cercou de livros de Direito Constitucional e Tributário. Estudar o próprio caso, para orientar a defesa, é visto como direito de todo preso.

Por enquanto, só a mulher e a mãe estão autorizadas a visitá-lo, sempre às quartas e aos sábados. Mas o banqueiro aguarda autorização para também receber os filhos. Os advogados podem entrar diariamente, inclusive nos fins de semana, mas o contato é feito no parlatório, uma sala dividida por um vidro, onde os interlocutores se comunicam por interfone.

Criado para presos provisórios com formação superior, Bangu 8 mantinha até novembro as portas das celas abertas das 8h às 18h. Durante o dia, os internos tinham direito a circular nas áreas comuns, incluindo academia de ginástica, sala de cinema e biblioteca (à exceção das áreas de segurança), mas a descoberta de celular numa das celas, no início de novembro, foi punida com o regime de tranca para todos.

Fim das mordomias no presídio

Os presos não se conformaram. Em abaixo-assinado que vazou de suas grades, eles alegam que a Seap não poderia ter cortado os benefícios a que têm direito pela presunção da inocência — "os desiguais devem ser tratados de forma desigual, na exata medida das suas desigualdades", diz o manifesto. Eles também alegam que perderam direitos depois que os policiais militares que cumpriam pena na unidade foram transferidos para a Penitenciária Vieira Ferreira Neto. em Niterói, levando junto as mordomias.

André Esteves, que chegou depois da confusão, acabou também afetado. Mas ele não quer problemas. Prefere manter-se calado.

Informações do O Globo

Classificação Indicativa: Livre

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