Política

Bastidores da queda: Sem despedidas e melancólico, Paupério deixa a Semge

Publicado em 30/09/2015, às 22h14   Marivaldo Filho (Twitter: @marivaldofilho)


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O ex-secretário municipal de Gestão, Alexandre Paupério, acusado pelo Ministério Público de participação em esquema de desvio de recursos na ordem de aproximadamente R$ 40 milhões em contratos com a Secretaria de Educação e investigado por suspeita de superfaturamento em licitação de mobiliário escolar, não resistiu às pressões e se afastou oficialmente da Secretaria Municipal de Gestão nesta quarta-feira (30).
Entre os funcionários da pasta que comandava, a queda já era tida como certa. O prefeito ACM Neto só estava escolhendo o “melhor momento” para estancar a sangria que as denúncias começaram a fazer na gestão municipal.
Logo após a primeira denúncia surgir, o prefeito iniciou uma série de reuniões com Paupério. Com o clima tenso na administração municipal, o ex-secretário de Gestão ainda contestava os argumentos do Ministério Público e jurava inocência. No dia 14 de setembro, depois de mais um encontro com ACM Neto, Paupério reuniu os trabalhadores da secretaria para conversar e “se explicar” sobre as denúncias.
Os relatos é que Paupério já apresentava um tom nostálgico e parecia prever que a situação seria irreversível. “Não tem problema. Se preciso for, eu vou responder (na Justiça) pela minha gestão, pelo período que estive aqui”, disse aos servidores.
Outra mudança na rotina da Semge foi a procura pelo subsecretário, Phedro Pimentel, que de acordo com os próprios trabalhadores da secretaria, “aumentou vertiginosamente” depois do encontro de Paupério e ACM Neto no dia 14. Com o ainda secretário tendo que se explicar e não dando conta de manter a rotina habitual, Phedro Pimentel passou a ser a bola da vez e um dos cotados a assumir a pasta com a iminente possibilidade de afastamento.
“Algumas secretarias da prefeitura começaram a ligar para cá, perguntando se com o mesmo número do secretário também conseguia falar com o subsecretário. Fora que algumas pessoas passaram a falar diretamente com o subsecretário. Percebemos um clima muito estranho”, afirmou outro servidor da prefeitura.
Neste dia, exatamente às 16h40, Paupério deixou a pasta ainda com a esperança distante de manutenção no cargo. À medida que outras denúncias começaram a brotar nos veículos de comunicação, servidores relataram que o humor do ainda secretário piorou e o tratamento com os funcionários da pasta estava longe de ser sereno.
Depois que o MP-BA anunciou que uma nova ação estava sendo preparada por conta de suspeita de um superfaturamento de R$ 9,4 milhões em licitação para compra de mobiliário escolar, a promotora Rita Tourinho afirmou ao Bocão News que o acusado teria 10 dias para explicar, Paupério “deu de ombros”. Em nota oficial, disse que já estava conversando com o MP-BA para explicar o caso. Mas, internamente, já havia mobilizado a secretaria para que fosse marcado um encontro com Rita Tourinho.
Após uma matéria feita pelo Bocão News com detalhes internos do cotidiano do órgão, Paupério reuniu alguns dos servidores do órgão, bateu na mesa e disse: “Quero saber quem é de vocês que está passando informações para este site. Zé Eduardo não é o dono da verdade”.
Paupério, então, passou a não dividir mais detalhes com os próprios funcionários, mudou de alvo e passou a atacar a imprensa. Reclamava da cobertura dos jornalistas sobre a enxurrada de denúncias e chegou a afirmar a um profissional de comunicação que duvidava que a promotora do MP-BA tivesse dado o prazo de 10 dias para ele se explicar.
A cada denúncia que surgia, Paupério ficava em dúvida se deveria ou não responder à imprensa. Futucar o que já não estava bom, poderia piorar ainda mais a situação. Confidenciou para amigos próximos, o receio em relação à participação no evento da Codesal, apresentação da nova Defesa Civil, organizado por ele, mas decidiu ir. Na oportunidade, disse ao Bocão News: “Se ele achar que não é o momento de continuar, estou à disposição”. Àquela altura do campeonato, Paupério já sabia que a situação era irreversível.  
Nos últimos dias, o sempre assíduo secretário tinha cada vez mais dificuldade de manter a rotina. Não foi à Semge nem na segunda (28), nem na terça-feira (29). Apareceu normalmente para trabalhar nesta quarta-feira (30) e no último dia como secretário, mesmo com a saída já acertada, agiu como se fosse um dia normal de trabalho. Sem se despedir, melancolicamente, deixou a Secretaria Municipal de Gestão.

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