Política

Ilha emporcalhada: prefeito de Vera Cruz tenta justificar acúmulo de lixo

Publicado em 07/01/2015, às 19h26   Caroline Gois (Twitter: @goiscarol)



Montanhas de lixo, cheiro de chorume e o rastro do descaso. Este é o cenário visto nas praias da Ilha de Itaparica durante o Verão, principalmente no período que abrange as festas de fim de ano até o Carnaval. A redação do Bocão News recebeu diversas denúncias que partiram da Gameleira, Aratuba, Ponta de Areia e Mar Grande, entre outras praias. Todas referentes ao acúmulo de lixo na região. Moradores e veranistas afirmaram à reportagem que o problema se repete a cada ano e que não existe coleta no local. 
Entretanto, o prefeito de Vera Cruz, Antônio Magno (PT), em entrevista concedia ao site Bocão News, justifica o amontoado de lixo na incapacidade do município em receber a demanda desta época do ano, que chega a até quatro vezes mais da população de Itaparica, estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 38 mil habitantes. "Não suportamos o volume de gente neste período, a não ser que desmonte a prefeitura", ressaltou o prefeito, informando que a receita do município no Verão chega a R$ 500 mil. "Esse é um debate que precisamos fazer com o Estado. Até porque a maioria do lixo é oriunda das pessoas que vêm da capital. No período do Verão aumentamos nosso efetivo, mas temos limite. Nossa capacidade de pagar não existe porque não temos uma receita proporcional ao aumento das despesas. Tanto que a estrutura de Saúde é ampliada, os atendimentos são ampliados, mas com relação ao lixo não temos dinheiro para suprir a demanda", justificou o petista.
Quando questionado sobre a rotina da coleta de lixo e os valores envolvidos na transação com a empresa responsávael pela coleta, o gestor afirmou que o contrato gira em torno de R$ 300 mil por mês e que depende da quantidade de toneladas coletadas. "Não tenho o valor de cabeça e nem a quantidade de carros que fazem a coleta", desconversou, alegando estar no momento da entrevista no evento de posse de Nelson Pelegrino como secretário do Turismo, ocorrido na segunda-feira (5). Ainda conforme o prefeito, um dos motivos que gera o problema do lixo é que "as pessoas não se submetem à rotina da coleta que é feita todos os dias pela manhã. Atribuo isso a pouca disciplina dos visitantes", afirmou.
Sobre a dificuldade em lidar com a receita mensal que não chega aos milhões, o prefeito relatou ainda que o fechamento de 150 leitos do Club Med e a parada na produção da Daw Quimica, prevista para retornar em fevereiro, diminuíram o recolhimento do município. "Fizemos muita coisa já para diminuir o problema do lixo em Vera Cruz. Iniciamos a reestruturação do sistema de limpeza e coleta, fizemos recuperação do aterro e adequamos a coleta com os condomínios que são os maiores contribuidores para o acúmulo. Fizemos também panfletos só que tem o componente que o visitante é transitório e, por isso, não se submete a esta disciplina, o que dificulta mais", amenizou. 
O site Bocão News também conversou com o secretário de Obras e Urbanismo de Vera Cruz, Pedro Alcântara. Este afirmou à reportagem "que todos os contratos com a empresa responsável pela coleta foram com licitação", garantiu, referindo-se à Arqtec Engenharia, que há um ano realiza o serviço de coleta no município.
Com o escritório localizado no bairro da Federação, em Salvador, cuja pessoa jurídica é a Sociedade Empresária Limitada, a Arqtec foi aberta em 2001, e é proprietária desde 2012 do aterro sanitário de Cruz das Almas, no Recôncavo baiano. Com o município de Vera Cruz a empresa possui dois contratos. Um no qual houve dispensa de licitação, firmado em 2 de janeiro de 2014 e com vigência de seis meses, no valor de  R$ 689.040,00. Outro, já dentro do processo de licitatório, foi assinado em julho do ano passado, cujo valor ultrapassa um milhão e quatrocentos mil reais, o que equivale, em média, por mês, a R$ 123.380 mil. O contrato tem validade de um ano. 
No contrato, fica certo que a Arqtec reponsabiliza-se por "execução de serviços de Operação e Manutenção de uma Central de
Tratamento e Destinação Final de Resíduos Sólidos Urbanos gerados pelos Municípios de Vera Cruz, Salinas das Margaridas, Jaguaripe, no Aterro Sanitário Integrado da Ilha situado no município de Vera Cruz". Com relação ao contrato que dispensou a licitação, a Prefeitura à época divulgou nota justificando o plano emergencial com "o objetivo de atender a demanda de veranistas e turistas, que atraídos pelas belezas naturais de Vera Cruz, fazem com que o município de cerca de 40 mil habitantes, chegue a abrigar 300 mil pessoas no período de alta estação, segundo dados da Polícia Militar". Por isso, a prefeitura preparou um plano emergencial, garantindo assim o contrato antecipado com a Arqtec, fixando-o posteriormente por mais um ano. 
O secretário não soube informar a quantidade de veículos da Arqtec que atendem o município. Porém, no ano passado, a Prefeitura anunciou a aquisição de dois compactores que têm capacidade para carregar até 9 toneladas de lixo. A intenção era que, conforme a Prefeitura, os carros pudessem suprir a demanda.
Mas, ainda que com os possíveis esforços ditos pela Prefeitura para amenizar um problema histórico, a população continua sofrendo com o descaso. Com o fim do Verão, a Prefeitura terá quase um ano para planejar a estrutura do ano que vem. Até lá, que haja receita, caminhões de lixo, campanhas, mais educação da população e uma ação imediata para que a montanha de lixo não se transforme na mancha da gestão municipal e na avalanche de desculpas de Verão. 
Matéria originalmente publicada dia 6 de janeiro de 2015, às 17h

Classificação Indicativa: Livre

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