Polícia

Fugas no sistema prisional baiano: quase 60 já fugiram desde o início de 2017

Publicado em 10/04/2017, às 20h12   Tony Silva


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Segundo dados informados pelo Sindicato dos Servidores Penitenciários do Estado da Bahia (Sinspeb), 57 internos já fugiram das unidades do sistema prisional baiano desde o início de 2017 e apenas quatro foram encontrados.  No sábado (1º), dois internos, identificados como Diego da Silva Santos e Edimar Alves de Souza, fugiram do Presídio Regional Advogado Nilton Gonçalves, no município de Vitória da Conquista, no Sul da Bahia.

Foragidos: Diego da Silva Santos e Edimar Alves de Souza

Segundo o Sinspeb, os presos aproveitaram a soltura para o banho de sol, quando todo efetivo precisa atuar neste momento e o posto de observação fica sem vigilância. O sindicato diz também que as guaritas do presídio estavam sem policiamento e os presos escalaram o muro e conseguiram escapar. Ainda de acordo com as informações do Sinspeb, os dois foragidos morreram em um confronto com a polícia, na quinta-feira (6).

Já na segunda-feira (3), 25 internos fugiram da Unidade Especial Disciplinar (UED). Destes, um foi capturado. Outro também foi preso em posse de drogas e 23 continuam foragidos. Ivanildo Bispo dos Santos, 26 anos, vulgo "Dentinho", foi capturado por policiais da 22ª Delegacia Territorial (DT), na noite de segunda-feira (3), no município de Simões Filho. Já Romilson Santos de Almeida foi preso por policiais da Rondesp Atlântico no bairro da Boca do Rio, em Salvador, na noite desta sexta-feira (7), em posse de maconha e materiais utilizados para o tráfico de entorpecentes.

Ivanildo Bispo dos Santos, 26 anos, vulgo "Dentinho" e Romilson Santos de Almeida

Após a fuga do interno Joanderson Carvalho da Colônia Penal de Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), no dia 25 de abril, neste domingo (9), os internos Eliezer dos Santos Araújo, Eric Bruno Passos Costas, Mauricio Tavares Silva e Enilson da Cruz Silva também conseguiram fugir da Colônia Penal.

Segundo os agentes penitenciários, os detentos usaram uma corda feita com lençóis conhecida como “tereza” e escalaram até a passarela, que por motivo de falta de segurança no local conseguiram pular sobre a laje da cozinha e saíram na frente da unidade, que também estava livre. Os quatro fugitivos pularam uma tela de proteção e escaparam. Um preso que trabalha na unidade, - que é chamado de “farda azul”, por causa da cor do uniforme para presos que desenvolvem alguma atividade nas unidades - percebeu a fuga e avisou aos agentes penitenciários que trabalham apenas internamente.

Troca de acusações
Segundo o Sinspeb, no cumprimento da obrigação de relatar todas ocorrências durante os plantões, os agentes penitenciários registraram em dezembro de 2016 em um livro ata, o funcionamento, que eles classificam como “precário” da UED, alertando para uma possível fuga de internos. Segundo o sindicato dos agentes penitenciários, entre os problemas relatados na estrutura estão portas e grades enferrujadas com dobradiças quebradas e corroídas e alambrados danificados na área do solário (pátio onde os presos tomam banho de sol).

Segundo a Sinspeb, o secretário da Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização da Bahia (Seap), Nestor Duarte atribuiu a fuga dos 25 internos da UED na última segunda-feira (3), ao envolvimento dos agentes penitenciários com os internos, declarando que os servidores penitenciários estariam em “conluio” com os presos. A acusação aconteceu durante uma entrevista a uma rádio de Salvador.

O sindicato rebateu a declaração afirmando que não existe nenhum caso na Bahia em que algum agente penitenciário fosse condenado por prática criminosa, inclusive associação a algum autor ou sequer suspeito de crime, como declarado pelo secretário. Sobre a fuga da UED, o sindicato diz que não existe nenhuma investigação que aponte o envolvimento de agentes.

Materiais ilícitos continuam sendo apreendidos em celas do sistema prisional
No sábado (1), foram apreendidos na galeria A da UED, seis aparelhos celulares, duas baterias recarregáveis, além de alguns carregadores telefônicos e chips.

Na última segunda-feira (3), também foram apreendidos na Cadeia Pública de Salvador, os seguintes materiais arremessados por cima dos muros da unidade: sete facas, 10 aparelhos celulares, maconha (quantidade não especificada), muitos carregadores de celular, tabaco, tempero, papel para uso de drogas, whisky, cachaça, vinho dentro de pequenos potes, isqueiros e chips.

Os agentes penitenciários destacam que os materiais ilícitos contribuem para a fuga de presos, principalmente porque a forma utilizada atualmente para fazer entrar esses materiais é através de arremessos. Segundo o Sinspeb, desde alimentos e bebidas não permitidas, até drogas, armas brancas e armas de fogo podem ser arremessadas.

A Seap promete apurar
A reportagem do Bocão News entrou em contato com a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização da Bahia (Seap) em busca de informações sobre o paradeiro dos foragidos, as condições da estrutura da UED para conter os internos e o que apontam as investigações da fuga em massa. O órgão prometeu enviar uma nota assim que apurasse os fatos e confirmou que as fotos e nomes divulgados correspondem aos criminosos que fugiram.

Acompanhe a lista dos foragidos da UED e fotos
1- Alex Santos de Amburgo, vulgo “Fininho”, preso por crimes de tráfico em São Félix
2 - Claudio Santos de Jesus, preso por crime de homicídio na Fazenda Grande do Retiro
3 - Flavio Bastos Carneiro, vulgo “Fal”, preso por crime de assalto no município de Irecê
4 - Hamilton Rodrigues dos Santos, preso por crime de homicídio em Itaparica
5 - Jacson Santana de Jesus, preso por crimes de assalto e homicídio na Baixa dos Sapateiros em Salvador
6 - João Cleison Mota Carvalho, vulgo “Didi”, preso por liderar o tráfico de drogas em  Ribeira do Pombal
7 - Lucas Santos de Almeida, vulgo “Mata rindo”, preso por tráfico no bairro de Cosme de Farias, Salvador
8 - Luciano Alves de Jesus Silva, preso por cometer assaltos no município de Pojuca
9 - Marcos Aurélio Soares Teles, preso por crime de assalto no município de Luís Eduardo Magalhães
10 - Moises Luiz Sousa Araújo, preso por crime de tráfico no município de Camaçari
11- Romilson Santos de Almeida, preso por crime de assalto em Feira de Santana
12 -Carlos Alexandre de Jesus dos Anjos, vulgo “Acerola”, preso por crime de tráfico, assalto e homicídio no Lobato
13 - Cassio André Bastos de Souza, preso por assalto no bairro da Mata Escura, em Salvador
14 - Davidson Barbosa da Silva Reis, preso por homicídio no município de Ubaitaba
15 - Edson Paulo de Jesus, preso do município de Paulo Afonso
16 - Eduardo Nery dos Santos, preso por homicídio, no município de Santo Antônio de Jesus
17 - Egberto Lima dos Santos Filho, vulgo “Klebinho”, preso por tráfico e assalto no bairro do Beiru em Salvador
18 - Elisandro dos Santos Paixão, preso por assalto no município de Canavieiras
19 - Eriberto Souza Machado, preso por assaltos no município de Xique-Xique
20- Ivanildo Bispo dos Santos, preso sem dados criminais divulgados
21 - Jackson Mercês Correa, preso por assalto no município de Feira de Santana
22 - Joanderson da Conceição dos Santos, vulgo “Major”, preso por homicídio no município de São Félix
23- Lones Ferreira da Costa, preso sem dados criminais divulgados
24 -Solon Vieira de Carvalho, vulgo “Magrão”, preso por assalto a banco em São Paulo
25 -Wellington de Jesus dos Santos, preso sem dados criminais divulgados

Análise do coordenador do Observatório de Segurança Pública da Bahia
Em março deste ano, o professor João Apolinário da Silva veio à Web TV do Bocão News e comentou o estudo realizado no sistema prisional baiano pelo observatório, em parceria com órgaõs como o Minsitério Público, entre outros órgãos. O especialista declarou, que os grandes problemas do sistema prisional baiano estão na engenharia e administração das unidades.

“O problema no sistema penal está na engenharia, que é como se constrói os presídios e o processo de socialização em razão dessa engenharia e equipamentos, no quis diz respeito aos espaços onde ficam e circulam os presos. Um exemplo: não há salas de aulas suficientes para homens e mulheres, existe ai um fator discriminador, pois os homens têm a preferências nessas vagas em salas de aula, sem contar os puxadinhos dentro das cadeias. Existe outra questão que é a gestão. Os gestores não entendem do serviço que prestam”.

A falta de padronização na rotina é também uma das deficiências básicas do sistema prisional apontada por Apolinário. “Além do problema dos processos de funcionamento da rotina da prisão. Não existe rotina dentro das prisões, deveria ter, por exemplo, um tempo padronizado para o banho de sol, mas pela falta de agentes, os presos ficam o tempo que bem querem e isso varia de unidade para unidade. O preso só tem mesmo hora para sair e ser recolhido. Cada presídio faz o que bem entende”, denuncia o especialisa que ainda aponta a falta na comunicação integrada. “Não existem equipamentos que permitam a integração da rede. O sistema prisional não é conectado com outros poderes, a exemplo da polícia”.

Outro ponto observado pelo especialisa é que o Estado também não faz uma boa escolha de gestão ao não equilibrar a proporção de agentes com a de prisioneiros. Nesse sentido, para Apolinário, o controle do sistem prisional é transferido para o próprio prisioneiro. "A desproporção de agentes do Estado para prisioneiros transfere o controle do sistema prisional para os próprios prisioneiros, proporcionando a atuação das gangues dentro e fora da prisão”, afirma.

Classificação Indicativa: Livre

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