Polícia

Abuso Infantil: apesar de tabu, especialistas defendem maior discussão

Publicado em 30/04/2016, às 19h08   Tony Silva (twitter: @Tony_SilvaBNews)


FacebookTwitterWhatsApp

Um triste flagrante tem revoltado milhares de internautas em todo o Brasil. Um idoso abusa de uma garotinha que aparenta ter menos de 10 anos, na frente de um bar nas ruas de São Paulo. Nas imagens feitas por câmera de aparelho celular, é possível ver o homem sentado ao lado de uma mulher, que seria a mãe da menina. Ele disfarça e toca na suposta mãe e na criança. Ele não percebe que está sendo filmado e toca a garotinha nas partes íntimas. O homem que filma o abuso pede para outra pessoa chamar a polícia. Momentos depois uma guarnição da PM chega e prende o idoso.

O vídeo publicado nas redes sociais nesta sexta-feira (29), deixou os internautas indignados e dividiu opiniões sobre a atitude de filmar o abuso contra a criança. Muitos criticaram o ato de continuar filmando sem deter o idoso agressor e outros elogiaram a coragem de registrar a prova contra agressor.

O assunto ainda é um tabu na sociedade e sua discussão perpassa por questões sociais e psicológicas. A reportagem do Bocão News entrevistou o promotor de Justiça Davi Gallo Barouh, que atua na Promotoria de Júri do Ministério Público da Bahia (MP-BA), e as psicólogas Isaura Barbosa Moura e Fabiane Veimrober.

Segundo Gallo, os casos de abusos contra crianças e adolescentes na Bahia têm crescido. Apesar de não fornecer números, o promotor atribui o aumento à impunidade. “O que inibe o criminoso é a punição, se ele tem certeza da impunidade e que a lei é feita para beneficia-lo, automaticamente ele se sente à vontade para praticar o crime”, avalia.

Para Gallo, o tratamento de pedófilos não é bem enquadrado pela Constituição Brasileira. O promotor de Justiça já propôs há cerca de quatro anos a castração química, como é feito em alguns estados Norte Americanos. “Já defendi o uso da castração química, que diminui a libido do indivíduo. O maior problema está na própria constituição, que proíbe soluções como essa, julgando tal tratamento como degradante ao ser humano”, comenta.

O promotor do MP-BA também disse que além de não apresentar uma alternativa para o tratamento de pedófilos, o Código de Processo Penal e a Lei de Execução Penal beneficiam estas pessoas. Ele avaliou que o idoso flagrado abusando da garotinha em São Paulo, como todos os outros pegos em situações semelhantes, são mais beneficiados do que coibidos pela constituição. “O que resta para eles no Código Penal é puro benefício. Como idoso, ele é beneficiado por prazos e formas de prisão, entre outros dispositivos”, disse Davi Gallo que ainda disparou. “Posso dizer claramente que o legislador no Brasil só trabalha para o marginal e não pensa no cidadão”.

O que diz a Psicologia

A psicóloga clínica Isaura Barbosa, atende crianças em vulnerabilidade social e suas famílias em uma Ong de um bairro carente de Salvador. Ela avalia os principais danos causados a uma criança que sofre abuso sexual e diz que tais abusos são crimes. “O ser humano tem suas fases de desenvolvimento e ele está preparado biológica e psicologicamente para a sexualidade na fase adulta. Expor a criança a estímulos e/ou experiências sexuais que ela não tem condições emocionais de lidar, é um crime”, afirma.

São muitos os danos psicológicos e, segundo Isaura Barbosa, duram um longo prazo. “Diante do abuso, a criança sente uma sensação de vulnerabilidade, desamparo e desproteção muito grande. Sente culpa, medo e vergonha. E isso reverbera durante toda a vida adulta. Como não está preparada, o senso de identidade é comprometido. Pode desencadear problemas de autoestima, depressão, ansiedade, déficit em habilidades sociais, dificuldades de relacionamento, envolvimento com drogas. Além de poder ecoar na saúde física, onde a dor emocional é expressa através do corpo com doenças psicossomáticas. Esses só são alguns exemplos”, avalia a especialista.

A psicóloga traça um dos aspectos do perfil dos agressores e diz que maioria dos abusadores são pessoas próximas da criança. Ela também afirma que a sociedade precisa se preparar mais. “O abuso sexual sempre aconteceu, mas com o acesso à informação e campanhas, a sociedade pode se conscientizar mais sobre o assunto, o que facilita a identificação e a possível denúncia. As pessoas precisam observar e analisar esse fenômeno com cuidado e minúcia”, pontua.

Já Fabiane Veimrober não é a favor da castração química e afirma que a sociedade ainda não está preparada para lidar com os abusos contra crianças. “Não vejo a castração química como adequada, uma vez que se equipara aos antigos tratamentos como choques elétricos. Invalida o sujeito ao acesso a um tratamento e emergir como pessoa”, avalia.

Para Fabiane, há uma dificuldade de oferecer tratamento e acolhimento adequado aos pedófilos. Com as vítimas por ser um processo muito delicado. É algo que sociedade no geral tem ainda dificuldade para acolher e direcionar a criança para um tratamento adequado, que não a faça reviver a história muitas vezes ao relatar repetidamente sem que isso seja uma escolha dessa vítima”, explica.

As psicólogas concordam que o abuso contra crianças é um ato gravíssimo, mas o abusador tem direito a avaliação diagnóstica. “O manejo médico e intervenção psicossocial adequado. Esses intervenções podem tratar as possíveis patologias e prevenir reincidências”, disse Isaura.

Veja cenas fortes de abuso de uma criança em uma rua de São Paulo

Classificação Indicativa: 18 anos

FacebookTwitterWhatsApp