Polícia

Caso Marielle: munição que matou vereadora veio de lote quase 200 vezes maior que o permitido

Maurício Ferro (Agência O Globo)
Havia nada menos que 1.859.000 cartuchos na série  |   Bnews - Divulgação Maurício Ferro (Agência O Globo)

Publicado em 08/05/2018, às 13h53   Redação BNews



O lote de munições UZZ18, de onde saíram os projéteis usados para assassinar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, foi vendido de forma irregular, segundo informações do jornal Extra. Havia nada menos que 1.859.000 cartuchos na série. 

A quantidade é 185 vezes maior que a permitida no país, de 10 mil munições por lote. O Exército informou que vai apurar o caso com a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), que comercializou o produto para a Polícia Federal, após ser questionado pelo GLOBO nas duas últimas semanas.

"Expediente administrativo será encaminhado à empresa CBC para os levantamentos preliminares acerca do assunto", informou, em nota, o Exército, responsável pela fiscalização de produtos controlados no país, entre eles munições. A venda feita pela CBC a Polícia Federal, de onde os projéteis foram desviados para criminosos, contrariou portaria do próprio Exército, que estabelece o lote padronizado de 10 mil cartuchos desde 2004.

Ainda conforme informações do jornal, a intenção da norma, editada a partir do Estatuto do Desarmamento, era limitar o tamanho dos lotes para melhorar o controle e a rastreabilidade das munições. Quando vendidas a órgãos de segurança ou às Forças Armadas, elas obrigatoriamente têm que apresentar uma gravação única na base dos estojos, para fins de identificação da procedência. Portanto, quanto menores forem os lotes, mais fácil rastrear quem vendeu, quem comprou, quando, além de eventuais desvios na cadeia de custódia.

Foi com base nessa marcação dos cartuchos, encontrados na cena do assassinato de Marielle e Anderson, executados em março, que os investigadores do Rio de Janeiro identificaram que os projéteis vieram de lote vendido pela CBC para o Departamento da Polícia Federal em Brasília em dezembro de 2006. A série comercializada tinha 1.859.000 munições para calibre 9 milímetros - todas com a mesma marcação de identificação. 

Ainda conforme a publicação, verificou-se ainda, a partir do cruzamento de dados feito pelos investigadores, que munições dessa mesma série foram usadas em outros crimes, como nas chacinas de Osasco e Barueri, em São Paulo, com 17 mortos. O lote em questão, o UZZ18, foi vendido pela CBC apenas para a Polícia Federal, segundo informou o Exército, com base nos dados lançados no sistema de controle pela própria empresa.

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp