Polícia

Marcinho VP afirma que crime exerce papel social nas comunidades: ocupa o vácuo deixado pelo Estado

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Preso há 21 anos, ele explica que cadeia não regenera e que tráfico financia campanhas políticas  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Uol

Publicado em 20/10/2017, às 18h39   Redação BNews



Condenado a um total de 48 anos de reclusão pelos crimes de tráfico de drogas e homicídios, Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, está há 21 anos na prisão, isso significa que já passou mais da metade de sua vida no sistema prisional. Atualmente, ele está em Mossoró, no Rio Grande do Norte, em uma prisão federal. Em uma entrevista aos repórteres Flávio Costa e Vinícius Andrade, do site Uol, ele afirma que o crime ocupa o vácuo deixado pelo Estado, explica que a cadeia não regenera, diz que corruptos formam organização criminosa e que o tráfico financia campanhas.

Apontado pela segurança pública como um dos chefes do Comando Vermelho, Marcinho VP nega a acusação e diz que é "folclore". Ele confirma que foi integrante da maior facção criminosa do Rio de Janeiro, fundada em 1979, mas diz que era apenas um soldado.

Durante a entrevista, Marcinho VP diz desconhecer que haja guerra entre o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o Comando Vermelho e seus aliados pelo controle dos presídios e pelas rotas de tráfico. Ele ainda diz que, se está ocorrendo essa rivalidade, é lamentável que os presos estejam oprimindo outros presos. Diz ainda que desconhece planos do PCC para tomar as comunidades cariocas.

Ele explica que a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) foi apenas uma ocupação policial, mas não exerceu um papel social nas comunidades, ao contrário do crime que dá todo o tipo de ajuda: "o crime ocupa o vácuo deixado pelo Estado". Marcinho VP explica que não é contra uma ocupação social na comunidade, pois o que é bom para o povo é bom para ele também.

Marcinho VP escreveu o livro "Marcinho Verdades e Posições -- Direito Penal do Inimigo", que será lançado no sábado (21). O livro foi redigido em coautoria com o jornalista Renato Homem.  Na obra ele conta sobre sua infância pobre e marcada pela violência. O pai foi assassinado aos 26 anos de idade e a mãe passou cinco anos foragida da Justiça, quando ele ainda era criança. Marcinho VP largou a escola e, no início da adolescência, começou a praticar delitos. Aos 16 anos, após a morte de dois amigos pela Polícia Militar, ele entrou no mundo do crime. 

Ele foi preso em 1996, em Porto Alegre, pouco antes de completar 21 anos. Na entrevista, ele afirma que a cadeia não regenera e conta que o sistema prisional causa grande dor emocional e incita a rivalidade: "As cadeias do Brasil são as escolas do crime, ao invés de ressocializar, elas criam monstro".

Para ele, na cadeia não existe organização criminosa, existem grupos para lutar contra os maus-tratos, a tortura, etc. O detento explica que uma organização criminosa tem integrantes do judiciário, do legislativo e do executivo. Além disso, Marcinho VP afirmou que a droga não é legalizada no país porque o tráfico financia campanhas.

No livro, ele faz duras críticas ao ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Afirma que prestou favores eleitorais ao político, durante o ano de 1996, quando houve a disputa para a Prefeitura. Conta que ajudou com uma equipe de cabos eleitorais deu cerca de 50 mil votos a ele no Complexo do Alemão. Ao Uol, o advogado de defesa, Rodrigo Henrique Roca Pires, afirmou que a história contada pelo detento é falsa.

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