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Após ser resgatada “Mulher do Boko Haram” relata humilhação e torturas para negar fé cristã

Reprodução / site Portas Abertas
As ações do grupo terrorista são a maior causa de mortes e deslocamento na Nigéria, e já fez mais mortos que o Estado Islâmico  |   Bnews - Divulgação Reprodução / site Portas Abertas

Publicado em 06/12/2017, às 16h29   Redação BNews


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A história da nigeriana Ester* foi divulgada nesta terça-feira (5) no site da Ong Portas Abertas. Ela é uma das milhares de mulheres e milhões de cristãos da Nigéria, vítimas do grupo terrorista nigeriano Boko Haram. Ester* foi sequestrada junto com meninas em 2015 e resgatada pelo exército daquele país em 2016. Ao retornar para casa sofreu discriminação e foi classificada como “Mulher do Boko Haram”.

De acordo com a entidade, até outubro de 2015, Ester* levava uma vida normal de uma menina de 17 anos em Gwoza, no estado de Borno, na Nigéria. Ela estudava e cuidava do pai viúvo. Mas tudo mudou quando o Boko Haram atacou sua cidade. Militantes cercaram sua casa e a levaram. Segundo relato da vítima dos terroristas, a última cena que viu, antes de ser levada, foi como seu pai foi atingido e deixado morto no chão.

Os rebeldes levaram Ester* e um grupo de meninas para um esconderijo na floresta de Sambisa, em Borno, e usaram todos os métodos para fazê-las renunciar à fé cristã e se converter ao islamismo. Primeiro, eles lhes ofereciam privilégios, mas quando não funcionava, eles partiam para ameaças e intimidações. Muitos deles queriam se casar com Ester*, mas ela não cedeu.

A dor da nigeriana foi descrita na Portas Abertas, com o relato de lembranças traumáticas. Ela descreveu momentos de tortura psicológica e sexual, em meio a fé.  A Ong destaca que ao se lembrar de como era continuamente abusada, Ester* não conseguia segurar as lágrimas. A vítima disse que não sabe contar quantos homens a agrediam. 

Ainda no relato do sofrimento em nome da fé cristã, a adolescente disse que toda vez que eles voltavam dos ataques, eles abusavam dela e de outras meninas prisioneiras. Ela continua: “Conforme os dias passavam, eu me odiava mais e mais. Às vezes eu achava que Deus tinha me abandonado e ficava com raiva. Mas mesmo assim não conseguia renunciá-lo. E depois lembrava que ele prometeu nunca me deixar nem abandonar”.

Quando pensou que o sofrimento havia terminado, Ester* foi vítima de uma nova opressão, desta vez, dentro da própria casa. Ainda conforme a Ong, em novembro de 2016, o exército nigeriano conseguiu localizar e resgatar Ester* e as outras meninas. Mas quando chegaram em casa, foram recebidas com suspeita e zombaria e chamadas de “mulheres do Boko Haram”. 

Quando voltou, Ester* estava grávida e foi desprezada até mesmo por seus avós. “Eles me xingavam; mas o que mais partia meu coração é que eles se recusavam a chamar minha filha pelo nome, Rebeca, e se referiam a ela como ‘Boko’”, relembra a cristã.

Desde seu retorno, ela passa por aconselhamento pós-trauma com a ajuda da Portas Abertas, o que a tem ajudado a lidar com sua raiva, dor e vergonha. Ela diz que agora consegue perdoar seus inimigos. Mesmo já tendo passado um ano, as pessoas ainda têm dificuldade de aceitar Ester* e Rebeca, mas eles também notaram mudanças na jovem mãe.

A Ong afirma que agora a adolescente se sente bem consigo mesma e com a filha e, diante de tudo o que passou, admite que Rebeca é sua “alegria e riso em meio à tristeza”. Hoje mãe e filha vivem na casa dos avós de Ester*. Ela não está estudando nem trabalhando oficialmente, mas trabalha numa fazenda. A Ong também as ajuda com alimentação.

Segundo dados da organização, desde que surgiu em 2009, o Boko Haram tem usado de violência para obrigar as pessoas a se tornarem muçulmanas. Um relatório da entidade concluiu que os ataques do Boko Haram a comunidades cristãs não são aleatórios, mas parte de uma campanha calculada para intimidar a população a se converter ao islamismo.

Ainda conforme a Ong, as ações do grupo são a maior causa de mortes e deslocamento na Nigéria e já fez mais mortos que o Estado Islâmico. A ONU estima que 2,5 milhões de pessoas (incluindo 1,5 milhão de crianças) já foram deslocadas desde maio de 2013.  Em julho deste ano, a UNICEF havia estimado que mais de 2,7 milhões de crianças atingidas pelos conflitos precisavam de apoio psicológico. A violência contra as mulheres também aumentou consideravelmente. 

Em janeiro deste ano, a Portas Abertas informou o crescimento da perseguição contra os cristãos no mundo. Segundo o relatório World Watch List 2017, publicado no mesmo período, o número chega a 215 milhões. A Ong elabora anualmente uma lista com os 50 países onde mais se verifica este “fenômeno”.

*Nome alterado por motivos de segurança.

Classificação Indicativa: Livre

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