Cidades

Jornal denuncia uso de água contaminada por urânio em Lagoa Real

Publicado em 22/08/2015, às 16h50   Redação Bocão News (Twitter: @bocaonews)


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Vizinha à cidade de Caetité, onde há  15 anos a estatal federal Indústrias Nucleares do Brasil extrai urânio, o município de Lagoa Real possui poços com água contaminada pela radioatividade e que é usada por famílias. Uma reportagem especial do jornal O Estado de S. Paulo mostra a situação enfrentada pela família do  senhor Osvaldo Antônio de Jesus, que possui em seu sítio uma perfuração com 90 metros de profundidade, de onde retirou a água para uso diário no último ano. A utilização só foi interrompida há uma semana, quando foi comprovado o teor de radioatividade acima do permitido. 
Foto: Dida Sampaio/Estadão
Durante os 15 anos de exploração da única mina de urânio de toda a América Latina, a INB sempre negou a contaminação. Desta vez, provas coletadas pelo jornal paulista comprovam que há, de fato, contaminação. Por um mês, a reportagem reuniu documentos oficiais, laudos técnicos e despachos envolvendo as atividades de extração de urânio na região e o monitoramento da água usada pela população. Os documentos atestam que, desde o ano passado, a INB já havia detectado a existência de água com alto teor de urânio em um poço em Lagoa Real. A estatal, no entanto, não comunicou a prefeitura local sobre a situação, ou mesmo a família, o que só viria a ocorrer em maio deste ano, sete meses depois da coleta da água.
Os laudos técnicos da INB, aos quais o Estado teve acesso, apontam que a estatal realizou duas inspeções na água consumida pela família de Osvaldo Antônio de Jesus. Na primeira coleta, feita em outubro de 2014, encontrou uma quantidade de urânio mais de quatro vezes superior ao limite permitido para o consumo humano, conforme critérios estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Nenhuma informação sobre isso chegou ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), à prefeitura de Lagoa Real ou à família. Em março deste ano, a INB resolveu fazer uma segunda checagem no poço. Novamente, encontrou material radioativo, dessa vez em quantidade mais de três vezes acima do permitido. Os resultados desses dois laudos, porém, só foram emitidos em 22 de maio, quando chegaram à prefeitura de Lagoa Real. 
Foto: Dida Sampaio/Estadão
No dia 25, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente do município foi até o sítio de Osvaldo, informou que seu poço seria “lacrado” e o fez assinar o comunicado. No documento, firmado pelo prefeito Francisco José Cardoso de Freitas e pelo secretário de Meio Ambiente, Willike Fernandes Moreira, a prefeitura diz que o poço “será fechado por ser considerado impróprio para o consumo humano, baseado no boletim de análise da INB”. 
À reportagem, a prefeitura de Lagoa Real informou que nem sequer tinha conhecimento de que o poço contaminado existia e culpou a Companhia de Engenharia Hídrica e de Saneamento da Bahia (Cerb) por sua abertura. “Quem abriu o poço foi a Cerb, que não avisou o município. A prefeitura só soube da contaminação quando chegou o relatório da INB”, disse o secretário Willike Moreira. “Notificamos a Cerb sobre a contaminação. Eles não se posicionaram até hoje. Então, todo mundo tem um pouco de culpa nisso.”
Moreira disse que a própria INB tratou de informar a família sobre a água imprópria para o consumo, declaração confirmada pelo proprietário. “No mesmo dia que nos deu o resultado, a empresa foi lá e comunicou a família, deixando ciente do risco que ela estava correndo. Depois nós fomos lá e comunicamos isso a eles também”, afirmou.
A Cerb, que foi acusada pela prefeitura de Lagoa Real de ter aberto o poço sem autorização da gestão municipal, não se pronunciou.

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