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Mesmo soterrado, pai alimentava filho com saliva

Imagem Mesmo soterrado, pai alimentava filho com saliva
Os dois sobreviveram após ficarem por mais de 15h debaixo dos escombros. Número de mortos já passam de 640  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 17/01/2011, às 12h16   Redação Bocão News



Em meio à tragédia que já matou mais de 640 pessoas nas regiões serranas do Rio de Janeiro, um ato de amor emocionou o País.  Em entrevista ao Fantástico neste domingo (16), o gerente de hotel Wellington Guimarães contou pela primeira vez como manteve o filho Nicolas Barreto, que completou sete meses ontem ,vivo debaixo da terra.

Os dois ficaram por mais de 15 horas soterrados e sobreviveram a dois desabamentos. “Dou graças a Deus de ter perdido a noção do tempo. Tenho certeza de que foi Deus ali”, disse o pai da criança.
A diretora-administrativa da maternidade de Nova Friburgo (RJ), Maria José de Jesus Reis, 53, para onde foi encaminhado o bebê, disse que Nicolas se manteve saudável e hidratado porque sugava a saliva do pai.
Na última terça-feira (11), Wellington e a mulher, Renata, resolveram passar a noite na casa da mãe dela por causa da chuva. O casal, a sogra e o bebê estavam dormindo no mesmo quarto.
Veja trechos do depoimento do pai de Nicolas:

- Eu acordei com aquele barulho de coisa vindo e não lembro. Parece que eu tentei sentar na cama. De repente, tudo parou. Foi coisa de segundos, não deu tempo nem de gritar. A Renata e a Fátima faleceram na hora. Inclusive uma perna minha estava meio presa nela.
- Ele (o bebê) chorava, e eu não tinha como estar perto dele, porque eu estava com as pernas presas. Eu consegui tirar uma perna, e a outra estava mais embaixo. Foi quando eu comecei a chamar por socorro. Veio um rapaz e foi chamar o bombeiro.
- Eles ainda falaram: ‘cuidado com a barreira’. Eu fiquei imaginando que barreira só podia ser o morro. Quando eles acabaram de falar isso, não passou cinco minutos, desceu a queda e soterrou eles também.
- Eu não tenho noção de nada. Eu orei muito, pedi muito a Deus. Eu cavava cantando um hino de louvor a Deus. Minha mão está toda arrebentada.
- No primeiro momento que eu o peguei, ele se acalmou. Eu juntava saliva na boca para dar a ele para, pelo menos, molhar a boca dele. Os bombeiros estavam com a máquina em cima. Então, eu percebi que eles estavam cavando com vontade, achando que não tinha ninguém. Ninguém dizia que tinha alguém vivo ali. Eles chegaram bem perto. Chegou abrir um feixe de luz sobre a madeira. Eles perguntaram: ‘tem alguém?’. Eu disse: ‘estou eu e meu filho’. Eles disseram: ‘vocês estão bem?’. Eu disse que estávamos. Eles perguntaram: ‘tem mais alguém?’. Eu disse: ‘tem, minha esposa e minha sogra, mas elas estão mortas.
- Então, eles conseguiram abrir um buraco e me deram água. Ele engasga muito com água. Então, eu botava água na boca e dava na boca dele. Aquele primeiro contato que ele viu que era água, ele agarrava no meu rosto e abria a boca, igual a ele pede comida para pedir água. Com a língua, eu controlava a água que ele bebia, ele mamava na minha língua. Assim que eu fui hidratando ele, e ele bebeu tanta água que dormiu. Depois, ele acordou e pediu água de novo, agarrava no meu rostinho. Quando teve um pouco de claridade, a gente conseguiu ver um ao outro.

Foto: reprodução / TV Globo

Classificação Indicativa: Livre

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