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VÍDEO: Ex-craque do Vitória sofre racismo em Salvador e desabafa: “Infelizmente, já tô acostumado”

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O ex-craque do Vitória começou sua carreira na base do Vitória  no início dos anos 1990, subindo para o time profissional em 1993  |   Bnews - Divulgação Reprodução/YouTube

Publicado em 29/04/2024, às 14h42   Cadastrado por Mariana De Siervi



Alex Sandro Santana de Oliveira, conhecido como Paulo Isidoro, ex-jogador de futebol e ex-craque do Vitória, denunciou um caso de racismo vivido por ele em Salvador. 

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Paulo Isidoro começou sua carreira na base do Vitória  no início dos anos 1990, subindo para o time profissional em 1993. Porém, um dos seus principais títulos foi conquistado no Palmeiras, sendo campeão brasileiro de 1994.

"Fala galera, boa noite. Estou aqui de volta para poder cumprir o que eu tinha dito ontem, depois da minha corrida. Falei para vocês que iriam contar o que aconteceu comigo ontem. Eu estava numa situação de racismo. Estava num grande estabelecimento aqui de Salvador, o Seu Pepe. Todo mundo sabe que é um mercadinho, uma padaria onde se frequentam pessoas da sociedade, a maioria delas.", começou o desabafo o ex-meia da equipe rubro negra. 

Ele explicou que estava escolhendo frutas quando foi abordado por um senhor. "Estava de passagem ali, fui comprar um pão, algumas coisas para mim, estava indo visitar minha prima e entrei no estabelecimento que é top. E estava ali escolhendo algumas maçãs, aquela maçã vermelha, e eu peguei a primeira maçã e a maçã estava pouco danificada, não estava da forma que eu queria, e eu aí comecei a procurar a maçã que eu gosto, até demorei um pouquinho, e aí me apareceu um senhor de idade, eu estava de costas para ele, estava vendo ali as maçãs procurando, e eu escutei ele falando o seguinte: "O senhor sabe onde tem determinada fruta?". 

"Para mim ele estava falando com alguém, e aí ele repetiu mais duas, três vezes, e aí eu falei: "Não sei". Ele voltou a perguntar mais duas vezes, e aí eu peguei a maçã que eu queria, as duas maçãs, e coloquei no carro, e aí ele achou o que ele estava procurando, e olhou pra mim e fez, aqui, tipo assim, achei aqui e eu fiquei olhando pra ele", continuou.

Paulo contou que o senhor só se deu conta quando uma funcionária do estabelecimento apareceu. "Chegou uma funcionária do estabelecimento, funcionária negra também, e ele olhou pra mim e disse: "Desculpa", eu fiquei quieto na minha. Aí ele falou com a moça, né, eu tava procurando um tal e achei que ele tava ali arrumando, né, e tal.", relatou. 

"A moça falou, não, ele não é funcionário não, ele é um cliente VIP. Eu escutei isso, né, e aí ele veio, olhou, pediu desculpas e veio ao meu encontro, né, pô, desculpa, tal. Eu falei, não, não tem problema, não se preocupe não, que infelizmente eu já tô acostumado com isso. Aí ele ficou assim, meio, se calou e aí foi só se afastando, se afastando e a loja não é muito grande, né, e ele ficou assim, meio desolado.". 

O ex-jogador continuou sua denúncia: Fiquei tranquilo, né? Como ele veio me pedir desculpas, se retratar, eu não fiz nada, não dirigi a palavra. Apenas deixei ele e continuei no estabelecimento, fui comprar mais algumas coisas e ele sempre passando por mim, meio de cabeça baixa e tal. E eu fui e falei com a moça, né? Que estava no momento, eu falei, pois é, né? E ainda dizem que não tem racismo, né? E aí ela falou, é, né? Estamos aí nessa luta.”

O ex-atleta terminou seu desabafo fazendo uma reflexão. "Tenho postado bastante situações de racismo, algumas palavras, alguns temas, é importante. Eu falar o que sempre aconteceu. Quando eu falo só sabe quem é negro, né? E olha que eu sou um negro conhecido pelo trabalho que eu fiz no futebol, mas mesmo assim acontece. Eu sempre levei sem vitimismo desde criança. A gente sente no olhar quando essas coisas acontecem, e pra você ver que ninguém da pele escura tá livre disso, independente da situação que você se encontra. Mas eu sempre levei isso como uma espécie de luta, de incentivo, pra primeiro saber enfrentar,para conseguir as coisas que eu consegui na vida. Estudar, trabalhar, me destacar, eu acho que essa é a melhor resposta, mas a gente sabe que não é fácil."

"Enfim, eu tenho a foto desse senhor e quem sabe mais na frente eu possa mostrar a cara, mas isso para mim não faz diferença nenhuma. Como não fez também o que ele falou, isso só faz eu vou mostrar o quanto isso acontece na Bahia, imagine, no Brasil inteiro. Mas você que é negro, você que é pobre, você que é rico. Rico, milionário, mas principalmente pessoas mais simples que precisam muito e que sofrem muito isso nas ruas. Tenha resiliência, trabalhe isso na sua cabeça, estude, tenha um conhecimento melhor a respeito disso, e em frente com classe, com dignidade, com verdade. A melhor resposta é a sua vida que você tem. Beleza? Um abraço a todos.", concluiu. 

Paulo Isidoro encerrou sua carreira em 2011 no Mogi Mirim. Teve passagens no Internacional, no Cruzeiro, no qual ganhou a Copa do Brasil em 2000 e no Bahia em 2009, como também em clubes japonês e turco. Atualmente é  técnico de futebol e já passou pelos sub-20 do BAVI. 

Classificação Indicativa: Livre

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