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Mulheres Negras: Dadá relembra de trajetória do seu tempero do interior da Bahia para o mundo

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Série especial sobre a vida da cozinheira Dadá   |   Bnews - Divulgação Reprodução

Publicado em 11/09/2019, às 11h54   Aline Reis



Seu nome é Aldaci dos Santos. Mas é como Dadá que essa baiana, nascida no Conde, é conhecida Brasil afora e no mundo. Seu tempero a levou mais longe do que imaginava e suas gargalhadas sustentam um carisma que encanta a todos; mas, nem sempre foi assim. 

Desde os 05 anos trabalhava como doméstica no interior da Bahia ariando panelas de barros, as raspas de comida eram seu alimento e da sua família, mas também o principal propulsor para que seu talento de cozinhar fosse aguçado. O olfato de criança guardou na memória a mistura de temperos, que anos depois a proporcionou ser empresária do seu primeiro restaurante, em Salvador, no bairro Alto das Pombas, o ‘Varal da Dadá’. 

Dadá, homenageada no projeto Mulheres Negras do BNews, revelou que “a circunstância social e financeira, dificultou a vida, mas a cor da pele intensificou as barreiras”. “Fiz dos limões a limonada, raspar panela, ser posta para fora do trabalho por estar grávida me fizeram a mulher forte que sou hoje. Sou mulher negra e o preconceito é real, mas nunca tive amarras, sempre mantive no pensamento que se quero, posso e vou vencer. Acho que isso só se tornou real porque a cor da minha pele nunca me inibiu, causou medo ou vergonha, sei do meu lugar”. 

Dona do apelido carinhoso de ‘negona’ ou ‘negão’, homenagem a um ex-namorado, afirma que isso não se trata apenas de afeto, mas também de afirmação sobre sua etnia. “A repetição do termo, faz ser visto e lembrado como os negros, pretos. Muita gente diz que é ‘moreno’, não existe isso. O próprio negro não quer ser chamado assim, tem raiva, rancor e a gente entende que o preconceito enraizado atua em cima da autoestima do indivíduo, mas podemos quebrar isso”, disse.  

Depois de vender comida na rua, em festas populares como carnaval, abrir restaurantes, trabalhar em estabelecimentos comerciais de comida, a cozinheira afirma que nunca fez especialização, muito pelo contrário, hoje ela é quem dá aula. “Minhas comidas sempre foram baseadas no tato e olfato. Já lancei dois livros de receita e estou caminhando para o terceiro. Amo o que faço e por isso dá certo, o amor e a prática. São comidas baseadas na minha história, na minha vida e quem eu sou. Faço questão de passar isso para que outras pessoas se inspirem e possam saborear minha trajetória com as receitas”, destacou.  

Como se não bastasse de leste a oeste do país provarem o tempero da Negona. Londres, Nova York, países da Europa e outros locais do mundo também puderam experimentar. “Desde criança sempre quis crescer na vida, no tamanho não tive sucesso (risos). Recebi convite para fazer jantares da Organizações das Nações Unidas, fui homenageada em shopping de Londres e muito mais. Quem diria?!”, questionou.

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